Da assistência aos pobres aos cuidados de saúde primários em Portugal: o papel da enfermagem: 1926-2002

Abstract

RESUMO - Este estudo analisa a forma como os cuidados de saúde não hospitalares e a enfermagem comunitária, se desenvolveram e se influenciaram mutuamente, no período 1926-2002. Trata-se de um estudo histórico que recorre a fontes escritas, imagéticas e orais, e utiliza conceções do novo institucionalismo e os conceitos de poder e biopoder de Foucault, para investigar este processo. Apresenta e analisa as origens destes cuidados e da enfermagem comunitária, o modo como se institucionalizaram e como evoluíram. A criação e desenvolvimento dos cuidados de saúde não hospitalares foram acompanhados pela individualização da enfermagem comunitária. As políticas e práticas dos cuidados de saúde primários e da enfermagem comunitária apresentam uma clara dependência do percurso já realizado. A sua génese está ligada a práticas de caridade cristã de assistência aos mais pobres liderada pelas Misericórdias e ordens religiosas. O novo entendimento sobre o papel do Estado relativamente à saúde conduziu à criação de instituições não hospitalares e à diferenciação da enfermagem comunitária. Assinale-se como momentos positivos para enfermeiros e instituições a formação das visitadoras sanitárias, apoio à formação em saúde pública pela Fundação Rockefeller, a criação de instituições corporativas, privadas e públicas de cuidados não hospitalares, a reforma de 1971 e o movimento dos CSP. As políticas institucionais condicionaram o próprio desenvolvimento e o da enfermagem comunitária, devido aos estereótipos associados ao papel da mulher, à multiplicidade e disparidade de formações e às visões divergentes sobre o que era a enfermagem comunitária. Este processo de desenvolvimento entretecido entre enfermagem comunitária e CSP apresenta influências e contributos mútuos. Os cuidados de saúde não hospitalares proporcionaram aos enfermeiros formação, desenvolvimento profissional, oportunidade de uma intervenção diversificada e com elevado grau de autonomia. Já estes trouxeram aproximação à comunidade, atenção especial aos mais vulneráveis, criatividade, capacidade de adaptação perante condições adversas, contribuindo para a visibilidade e relevância afetiva dos CSP.ABSTRACT - This study examines how primary healthcare and community nursing, developed and influenced each other, over the period from 1926 to 2002. It is a historical study and uses conceptions of the new institutionalism and the concepts of power and biopower of Foucault, to investigate this process. The aim of this study is to analyze the origins and development of primary healthcare and community nursing, how they became institutionalized and evolved. The creation of primary healthcare was followed by individualization of community nursing. The policies and practices of primary health care and community nursing show clear path dependence. Its origins are linked to the practice of Christian charity to assist the poor, led by “Misericórdias” and religious orders. The new understanding about the role of the State in relation to healthcare led to the creation of primary healthcare services and the differentiation of community nursing. The visiting nurses education, supporting training in public health by the Rockefeller Foundation, the creation of corporate, private and public primary healthcare services, the 1971 reform and the movement of primary healthcare, were positive marks for the nurses and institutions. The institutional policies conditioned the community nursing and primary healthcare, due to the stereotypes associated with the role of women, the multiplicity and disparity of backgrounds and divergent conceptions about community nursing. This development process reveals influences and multiple contributions. The primary healthcare provided training to nurses, professional development, and an opportunity for a diversified intervention with a high degree of autonomy. On the other hand, the nurses brought concern to the vulnerable and poor people, creativity, and adaptability against adverse conditions, contributing to the visibility and affective relevance of primary healthcare

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