A sombra do desenho

Abstract

Dissertação de Mestrado em Filosofia - EstéticaNo preciso momento em que o homem têm consciência de que passando o dedo na areia demarca um espaço de que essa linha é fronteira, um universo de formas abrese. Eis o ponto de partida do nosso estudo que, no entanto, cedo revelou que o desenho procede de um lugar bem mais fundo e que as suas linhas, pontos e manchas nos despistam na superfície. Ao longo desta investigação, seguimos no encalço do desenho e encontrámo-lo nos gestos mais primitivos e, sobretudo, na compreensão mais simples das coisas do mundo. O nosso objectivo firmava-se na origem desta prática artística, ou melhor nas origens, mas estas foram-nos sempre vedadas, deixando, contudo, o seus rastos de sombra pairando indeléveis. A iniciar esta análise tínhamos o problema de pensar o desenho de forma teórica, quando ele, desenho, se funda inegavelmente na imagem. Observámos, assim, a natureza do sinal, enquanto forma mais elementar do desenho, reflectindo sobre a sua natureza paradoxal, i.e., mesmo sendo elemento fundador da abstracção, tem em si um vínculo inabalável e insubstituível com o corpo físico do homem, a sua geometria e mecânica. Desse modo, gestos orgânicos como levantar, baixar, coçar, bater, repetem-se e transformam-se em gestos criativos, da caça, da dança, do desenho. Mas esta relação com o corpo humano mostra ser mais anterior, ela vem das próprias dinâmicas corporais como a respiração, o batimento cardíaco, o pestanejar, que se revelam fundamentais na apreensão mais nítida dos ritmos que estarão na origem dos sinais. Foram aqui decisivas as referências de André Leroi-Gourhan e Luc Benoist. Todavia, essa ambiguidade entre a aferição do corpo e abstracção foi mote para uma constante averiguação do que surge primeiro e onde cruzámos com o problema da mimésis, o entendimento das formas da natureza e o modo como elas ganham peso e carne na linguagem do desenho

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