Faculdade de Ciências Médicas. Universidade Nova de Lisboa
Abstract
RESUMO
Nos últimos anos têm sido identificados vários factores de risco para asma brônquica
em crianças com sibilância recorrente, não se encontrando clara a importância da
avaliação funcional respiratória nestas crianças. De igual modo, têm sido documentados resultados contraditórios na avaliação imunológica das populações de células reguladoras bem como na expressão de polimorfismos para a asma. O objectivo deste
estudo consistiu na avaliação e comparação de parâmetros de avaliação funcional
respiratória, imunológica e de polimorfismos genéticos em crianças entre 8 e 20 meses
de idade, com três ou mais episódios de sibilância (n=50), sem qualquer terapêutica
anti-inflamatória prévia, diagnosticados por um médico, com e sem factores de risco
para asma brônquica (história de asma parental ou história pessoal de eczema ou pelo menos dois dos seguintes: história pessoal de rinite alérgica, sibilância fora do contexto infeccioso e contagem de eosinófilos no sangue periférico > 4%), comparados com um grupo controlo (n=30). Nestas crianças foram efectuadas provas de função respiratória em volume corrente e em volume aumentado através de técnicas de compressão torácica, avaliação de populações celulares por citometria de fluxo, expressão de citocinas por mARN em culturas de células estimuladas com PMA (leitura às 24 horas)
e com extractos de ácaros do pó doméstico (leitura ao 7º dia) e expressão de
polimorfismos para alguns genes associados a asma (ADAM 33, DPP10, GPRA). Na comparação entre as crianças com sibilância recorrente em relação ao grupo controlo foram observadas reduções significativas nos Z-scores para FVC (diferença média [95%
IC]: -0,7 [-1,2; -0,1], p=0,01), FEV0.5 (-1,0 [-1,5; -0,5], p=0,0001), FEF75 (-0,6
[-1,0; -0,2], p=0,0001) e FEF25-75 (-0,8 [-1,2; -0,4], p=0,0001), bem como valores
significativamente mais baixos para a quantificação do número absoluto de
CD4+CD25forte (-47,9 [-89,6; -6,1], p=0,03), do número absoluto e percentual de
CD4+CD25+CTLA-4 (p=0,0001) e da expressão de CTLA-4 (p=0,03) e IFN- (p=0,04)
nas culturas com extractos de ácaros. As crianças sibilantes com alto risco para asma
tinham, em relação ao grupo sem factores de risco, Z-scores significativamente mais
baixos para FVC (-0,7 [-1,4; -0,04], p=0,04) e FEF25-75 (-0,6 [-1,2; -0,1], p=0,03),2
valores significativamente inferiores do número absoluto das populações CD4+CD25+
(-118,8 [-210,0; -27,5], p=0,01) e CD4+CD25forte (-56,2 [-109,9; -2,5], p=0,04) e ainda uma expressão diminuída de IFN- (p=0,03) em culturas de células estimuladas com extractos de ácaros. Foram encontradas diferenças na expressão de polimorfismos para
os genes GPRA e ADAM 33, não sendo possível tecer extrapolações pelo reduzido número de crianças em estudo. As crianças com sibilância recorrente e alto risco de
asma apresentavam alterações na avaliação funcional respiratória, bem como no número
absoluto de populações celulares com função reguladora e na expressão de IFN- em
culturas celulares estimuladas com extractos de ácaros. Estes resultados realçam a
eventual importância da avaliação das provas de função respiratória e de parâmetros
imunológicos, em crianças com sibilância recorrente e alto risco clínico para asma, nos primeiros dois anos de vida, apesar da sua controversa aplicabilidade individual. O
seguimento prospectivo destas crianças poderá aferir o seu valor preditivo para asma em idade escolar