Trauma, Alexitimia e Ingestão Alimentar Compulsiva

Abstract

Introdução: Os padrões de comportamento alimentar têm vindo a sofrer mudanças significativas, com impacto ao nível da saúde, sendo a perturbação de ingestão alimentar compulsiva reconhecida, recentemente, como entidade clínica nos manuais de diagnóstico. Diferentes estudos têm vindo a explorar quais são as variáveis associadas aquela perturbação, ou apenas à presença de sintomas de ingestão alimentar compulsiva. Assim, são objetivos deste estudo: explorar associações entre a vivência de experiências traumáticas (nos domínios emocional, física e sexual), a alexitimia (suas dimensões) e os sintomas de ingestão alimentar compulsiva; avaliar o papel preditivo das experiências traumáticas e da alexitimia para os referidos sintomas. Metodologia: 421 sujeitos da população geral e estudantes universitários preencheram voluntariamente a Traumatic Events Checklist (TEC; avalia diferentes domínios da experiência traumática), a Binge Eating Scale/Lista de Hábitos Alimentares (BES/LHA; avalia sintomas de ingestão alimentar compulsiva) e a Escala de Alexitimia de Toronto-20 (TAS-20; avalia o constructo de alexitimia). Resultados: Os valores de ingestão alimentar compulsiva (LHA) mostraram ser semelhantes aos encontrados em estudos nacionais realizados. Foi encontrada uma associação significativa (tal como em estudos nacionais e internacionais) entre o índice de massa corporal (IMC) e a pontuação total de ingestão alimentar compulsiva, em ambos os sexos. Apenas nas mulheres é que o trauma sexual, familiar e o total de experiências traumáticas mostraram associação com a pontuação total de LHA. Em ambos os sexos, a pontuação total de ingestão alimentar compulsiva correlacionou-se com a dificuldade em identificar sentimentos e em descrever sentimentos (TAS-20), mas nas mulheres também foi encontrada associação com o estilo de pensamento orientado para o exterior (TAS-20). As mulheres que relataram ter tido excesso de peso e obesidade na infância, apresentaram valores atuais mais elevados de ingestão alimentar compulsiva. O IMC, o total de experiências traumáticas e a dificuldade em identificar sentimentos foram preditores significativos da pontuação total de LHA. Discussão: O presente estudo confirma o papel do IMC como correlato da ingestão alimentar compulsiva, ainda que não se possa clarificar a direção desta associação. Adicionalmente, oferece um contributo importante por mostrar que também um maior número de experiências traumáticas e a presença de valores maior elevados em diferentes dimensões de alexitimia se associam à ingestão alimentar compulsiva. / Introduction: Food behavior patterns have been suffering significant changes, with health impact and the disturbance of binge eating recognized, recently, as a clinical entity in the diagnostic manuals. Different studies have come to explore what are the variables associated with that disruption, or just the presence of symptoms of binge eating. Thus, the objectives of this study: exploring associations between the experience of traumatic experiences (in the areas of emotional, sexual and physical), the alexithymia (its dimensions) and symptoms of binge eating; evaluating the predictive role of traumatic experiences and alexithymia for these symptoms. Methodology: 421 subject of the general population and college students filled out voluntarily the Traumatic Events Checklist (TEC; evaluates different areas of traumatic experience), Binge Eating Scale/list of eating habits (BES/IT; evaluate symptoms of binge eating) and the Toronto Alexithymia scale-20 (TAS-20; evaluates the alexithymia construct). Results: The binge eating values (LHA) have shown to be similar to those found in national studies carried out. A significant association was found (as in national and international studies) between the body mass index (BMI) and the total score of binge eating in both genders. Only in women is that the sexual trauma, family and the total of traumatic experiences have shown association with total score of LHA. In both genders, the overall score of binge eating correlated with difficulty identifying feelings and describe feelings (TAS-20), but in women has also been found association with the style-oriented thinking (TAS-20). Women who reported having had excess weight and obesity in childhood, presented current values higher food intake. The IMC, the total of traumatic experiences and difficulty identifying feelings were significant predictors of the total score. Discussion: This study confirms the role of BMI as correlate of binge eating, even if the direction of this association cannot be clarified. Additionally, it offers an important contribution to show that also a greater number of traumatic experiences and the presence of higher values in different dimensions of alexithymia are associated with binge eating

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