RESUMO: Desde o século XIX foram definidas sete novas espécies de três
invertebrados, dois microfósseis e de dois vegetais fósseis, utilizando o topónimo Tejo. Apesar de pouco citados na bibliografia geológica, eles cumprem, na generalidade, as regras do International Code of Zoological
Nomenclature (ICZN) e do International Code of Botanical Nomenclature
(ICBN), e são considerados, formalmente, como nomes válidos.ABSTRACT: Since the nineteenth century seven new species of three
invertebrates, two microfossils and two fossil plants were defined using the
toponym of the Tagus River. Although not much cited in the geological
literature, the names of these taxa comply, in general, with the rules of the
International Code of Zoological Nomenclature (ICZN) and the
International Code of Botanical Nomenclature (ICBN) and must be formally
considered as valid names.info:eu-repo/semantics/publishedVersio

Kullberg, J. C.

Rocha, R. B.

Sá Caetano, Paulo

Portuguese

Repositório do LNEG

      Recebido em XX/XX/20XX / Aceite em XX/XX/20XXPublicado em xxxxxxxxxx de 2020 © 2020 LNEG  – Laboratório Nacional de Energia e Geologia IP                                                                                                                                                                                                                                                         Artigo original Original article                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           ©                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       Versão online: https://www.lneg.pt/wp-content/uploads/2020/05/Volume_107.pdf         ComunicaçõesGeológicasResumo: Desde o século XIX foram definidas sete novas espécies de trêsinvertebrados, dois microfósseis e de dois vegetais fósseis, utilizando o to-pónimo Tejo. Apesar de pouco citados na bibliografia geológica, eles cum-prem, na generalidade, as regras do International Code of ZoologicalNomenclature (ICZN) e do International Code of Botanical Nomenclature(ICBN), e são considerados, formalmente, como nomes válidos.Palavras chave: Paleontologia, estratigrafia, rio Tejo, topónimo. Abstract: Since the nineteenth century seven new species of threeinvertebrate s, two microfossils and two fossil plants were defined using thetoponym of the Tagus River. Although not much cited in the geologicalliteratur e, the names of these taxa comply, in general, with the rules of theInternational Code of Zoological Nomenclature (ICZN) and theInternationa l Code of Botanical Nomenclature (ICBN) and must be formall yconsidered as valid names.Keywords: Palaeontology, stratigraphy, Tagus River, toponym. 1. IntroduçãoNa paleontologia portuguesa é corrente, na definição de novos taxa,a utilização de topónimos portugueses e de nomes de geo cientis ta s(ou não) nacionais e estrangeiros, ligados normalment e às Geociên-cias em Portugal. Este hábito, permitido pelos Códigos Internacio-nais de Nomenclatura Zoológica (ICZN) e Botânica (ICBN), éigualmente usado a nível europeu, americano e africano; assim,existem na bibliografia geológica mais de um milhar de taxa comesta particularidade (in base de dados de um dos autores), se se con-siderarem também os definidos para fósseis dos actuais países daComunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) (Rocha,2003; Rocha e Kullberg, 2004; Rocha et al., 2006, 2008, 2010,2014).No que se refere ao topónimo Tejo são onze os taxa conhe-cidos, associados a duas unidades paleozóicas do Alentejo e aunidades mio-pliocénicas de fácies marinhas e continentais daBacia do Tejo.2. Taxa ligados ao topónimo TejoTêm sido utilizados, no que se refere a este topónimo, os restritivo sespecíficos tagana/taganus/transtaganensis, tagica/tajic a e tejoensis.Para Tiberius Silius Italicus, senador, orador e poeta roman o do séc.I D.C., Tago (designação do Tejo à época) seria o nome de um reiibero cruelmente assassinado por Asdrúbal, general cartaginês. Noentanto, Resende (1593, p. 186) confessa que não sabe “donde pro-vém este nome de Tejo” (Tagus em latim) e consider a que “o nomeé antiquíssimo e não se tem notícia de que o rio tenha tido outro”.Os termos taganus e transtaganus foram primeiro utilizados, em1545, por A. de Resende em poema dedicad o a S. Vicente de Lis-boa; “Camões conheceu-o e nele se inspirou quando transpôs parao português os termos Tágides e (terras) transtaganas (este últimorelativo ao Alentejo)” (Pereira, V. in Silva, 2011).De seguida listam-se estes taxa por ordem estratigráfica e,dentr o de uma mesma idade, por ordem sistemática:a) A trilobite Hicksia transtaganensis (Delgado, 1904, pp. 337-338,pl. I, fig. 14 (?), pl. II, fig. 17-27, pl. V, fig. 1, 5, 38, 43-44,pl. VI, fig. 12, 15) recolhida nos Xistos de Vila Boim deMonte Valbom (1 200 m a NW da igreja de Vila Boim)datado s do Georgiano (Câmbrico inferior). Nery Delgado(1895-96) atribuiu-a ao género Liostracus Angelin mas, maistarde (Delgado, 1904), apresenta estudo mais pormenorizadoem que discute as semelhanças entre os géneros Ptychopariae Solenopleura, optando, no entanto, pela criação do novogénero Hicksia, no qual englobou a associação faunística deMonte Valbom. Além desta, Nery Delgado criou, ainda, asespécies H. elvensis, H. sphaerica, H. walcotti, H. castroi,H. hughesi, H. barroisi, H. dewalquei e H. minuta. ParaRudol f e Emma Richter in Teixeira (1981, p. 17) osindivíduo s atribuídos a estas espécies “não são mais do queestados diferentes de desenvolvimento, conservação efossilizaçã o de indivíduos de uma só espécie, H. elvensisDelgado”. Este género é o único englobado na família Hick-siidae Hupé 1953 (Harrington et al. in Moore, 1968, pp.O215-O216), tendo como espécie-tipo H. elvensis Delg., emcuja sinonímia são incluídas as restantes espécies definidaspor Nery Delgado; aliás, a figuração destes indivíduos, novolume do Tratado de Moore (1968, p. O215, fig. 157), é umO topónimo Tejo na Paleontologia portuguesaThe toponym Tagus in Portuguese PalaeontologyR. B. Rocha1†, J. C. Kullberg1*, P. S. Caetano1Comunicações Geológicas (2020) 107, Especial I, 53-55ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X1 GeoBioTec, Dep. de Ciências da Terra, Faculdade de Ciências e Tecnologia,Universi da de Nova de Lisboa, 2829-516 Caparica, Portugal.* Autor correspondente/corresponding author: jck@fct.unl.ptRecebido em 18/03/2018 / Aceite em 16/12/2019Publicado em agosto de 2020© 2020 LNEG  – Laboratório Nacional de Energia e Geologia IPArtigo 17783_Layout 1  8/30/20  5:50 PM  Page 5354desenho de Harrington baseado nas estampas de Nery Del-gado (1904).b) A trilobite Actinopeltis tejoensis (Romano, 1991, pp. 348-351,pl. 3, fig. 7, 11, 14-16, texto-fig. 5), dos Xistos com Orthisberthoisi de Delgado (1908, p. 80) de Pereiro (Mação), agoraincluídos na Formação de Cabeço do Peão, Membro deQueixoperr a, de idade caradociana. N. Delgado foi quemprimeir o recolheu e estudou exemplares desta espécie, queclassificou como Cheirurus sp. nov. aff. gryphus Barrande,1872 (Romano, 1991, p. 351).c) O cocolitoforídeo “Reticulofenestra” tagana (Fonseca,1976, pp. 29-32, pl. I, fig. 1-8) do Burdigaliano IVa dePalenç a (Almada); esta forma parece ter sido, posteriorment e,apenas assinalada no Deep Sea Drilling Project (DSDP) Leg63 (Bukry, 1981, p. 461, fig. 1, pl. 6, fig. 16-17 (?) no Pacífic ooriental entre “Point Conception” (Califórnia, EUA) e “CaboCorrientes” (México) e no DSDP Leg 85 (Pujos, 1985, pp.594-595, pl. 1, fig. 4 a-b) no Pacífico central, a SW do Havai,em áreas de forte “upwelling”, e em unidades datadas doMio-Pliocénico (zonas CN 4 a CN 12).d) O ostracodo Loxoconcha tagana (Nascimento, 1980, pp. 33-34,pl. 1, fig. 1-8) do Burdigaliano inferior do perfil estratigráficode Cristo-Rei (Almada).e) O bivalve Flabellipecten tagicus (Cotter, 1903) doBurdigalia no II de Foz da Fonte, Fonte do Sol e Fonte daRotur a, e do Aquitaniano ao Tortoniano VIIa da Bacia doTejo sem qualquer descrição nem figuração original, o quesó foi feito posteriormente por outros autores (Ferreira, 1954,p. 167, quadro I-II, est. V, fig. 29, est. VI, fig. 45-46; 1961,p. 436, est. IX, fig. 56-57, est. XIII, fig. 128, est. XIX, fig.135; Zbyszewski, 1957, pp. 121-122). f) O gastrópode terrestre Sagda? tagica (Roman, 1917, pp. 79-80,99, pl. I, fig, 7; Gómez, 1922, p. 78) dos Calcários deQuintanela s (regiões de Almargem e de Santa Iria), atribuído sao Burdigaliano-Langhiano (?).g) O perissodáctilo Dicerorhinus tagicus (Roman, 1907, pl. 3,fig. 1) do Burdigaliano inf. da Horta das Tripas (Antunes &Ginsburg, 1983, pp. 22-23, pl. 1, fig. 1).h) O mamífero cetáceo Tagicetus joneti (Lambert, Estevens eSmith, 2005, p. 240-246, fig. 2-7), do Serravaliano Sup. dasarribas litorais da Praia das Bicas.i) As impressões foliares e uma pinha da espécie Pinus(Eupinu s) tagana (Teixeira, 1973, pp. 152-153, pl. II, fig. 1),do Miocénico dos perfis de Vale de Carros (Alpiarça) e dePalença de Baixo (Almada).j) As impressões foliares de Populus tagana (Teixeira, 1952,p. 12, est. 1, fig.1-2, est. II, fig.1), do Miocénico superior-Plio cénico de Vale de Carros (Alpiarça) (in Registros paleo -bo tánico s de Portugal, Alpiarça, www.paleodiversitas.org/web/CAPITULOS_ files/16_PORTUGAL. pdf, p. 707).k) Os restos esqueléticos do hominídeo Homo taganus (Corrêa,1936), do Mesolítico dos concheiros de Muge e do Cabeçoda Amoreira que pode ser considerada nomen nudum enomen oblitum.3. ConclusõesEstes taxa têm sido citados em trabalhos de estratigrafia e de pa-leontologia e em notícias explicativas de cartas geológicas e sãoconsiderados válidos à luz das regras do ICZN (Ride et al., 1985);o seu uso é, por isso, correcto e apenas sujeito a actualizações deordem nomenclatural, como agora feito para um deles.Uma revisão paleontológica de alguns destes taxa, definidosapenas com base em moldes internos ou em populações reduzidas,é fundamenta l, carecendo de uma revisão associada a pesquisabibliográfic a de pormenor e a uma correcta interpretação dosArtigo s do ICZN.AgradecimentosEste trabalho é uma publicação póstuma do primeiro autor. Oscomentário s e sugestões dos revisores que estavam ao alcance doconhecimento dos outros autores foram, na sua esmagadora maioriaatendidos, pelo que fica aqui desde já a expressão do nossoagradeciment o. J. C. Kullberg e P. S. Caetano agradecem o apoiodo centro GeoBioTec (financiado por fundos nacionais, através daFCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, Projecto:UIDB/04035/2020).ReferênciasBukry, D., 1981. Pacific Coccolith stratigraphy between Point Conceptionand Cabo Corrientes. Deep Sea Drilling Project Leg 63 Init. Rep., 63: 445-471.Corrêa, A. A. M., 1936. A propósito do “Homo taganus”. Africanos em Por-tugal. Boletim da Junta Geral de Santarém. 6(43): 37-55.Delgado, J. N., 1895-96 – 1904. Faune cambrienne du Haut-Alemtejo (Por-tugal). Com. Serv. Geol. Portugal, V: 307-374.– 1908. Système Silurique du Portugal. Étude de stratigraphiepaléontologiqu e. Com. Serv.  Geol. Portugal, 245.Ferreira, O. V., 1954. Pectinídeos do Miocénico do Vale do Sado e da Serrada Arrábida. Com. Serv. Geol. Portugal, 35: 155-192.– 1961. Pectinídeos do Miocénico da Bacia do Tejo. Com. Serv. Geol.Portuga l, 45: 419-465.Fonseca, B., 1976. Notes sur la Géologie et la Paléontologie du Miocènede Lisbonne. 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The toponym Tagus in Portuguese Palaeontology

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