Introdução: A correção cirúrgica do aneurisma da aorta abdominal (AAA), por Endovascular
Aneurysm Repair (EVAR) ou cirurgia convencional (CC), pode agravar a função renal a curto
prazo. Esta complicação, mais frequente nos doentes com insuficiência renal crónica (IRC),
associa-se a pior prognóstico a longo prazo. O objetivo deste trabalho foi quantificar o agravamento da função renal após reparação do AAA em doentes com IRC prévia e demonstrar o consequente aumento da morbimortalidade.
Métodos: Estudo retrospetivo em doentes com IRC estádios Chronic Kidney Disease 3-4 (TFGe
15-59ml/min), submetidos a correção eletiva de AAA entre fevereiro/2011 e fevereiro/2015
numa instituição terciária. Variáveis estudadas: idade, sexo, tipo de intervenção (convencional/EVAR) e estádio CKD. Endpoints: variação da creatinina e taxa de filtração glomerular
com a cirurgia, complicações renais pós-operatórias, necessidade de reintervenção cirúrgica e
mortalidade. A análise estatística foi realizada em SPSS.
Resultados: Foram incluídos 71doentes. Quinze doentes (21%) foram operados por CC e 56 (78%)
por EVAR. À data da intervenção, os doentes encontravam-se nos seguintes estádios da DRC:
CKD 3 --- 65 (91%) e CKD 4 --- 6 (9%). A variac¸ão da TFG com a cirurgia foi −1,08±18,01mg/dl.
Verificou-se IRC agudizada pós-operatória em 22 (31%) doentes e necessidade de diálise em 5
(7%). A mortalidade global foi 8,5%. Os doentes operados por EVAR tinham DRC mais avançada
pré-operatoriamente, mas apresentaram menor agravamento da função renal. Variação TFG:
EVAR 1,14±16,26ml/min vs. CC 9,40±22,11ml/min (p=0,022); variação creatinina: EVAR
0,17±1,03mg/dl vs. CC 0,81±1,47mg/dl (p=0,02). A agudização da IRC pós-operatória foi
superior no grupo CC (53,3 vs. 28,6%; p=0,072), assim como a necessidade de diálise (20 vs.
3,6%, p=0,06). Os 6 doentes que faleceram (EVAR: 3; CC: 3) apresentaram maior agravamento da função renal (variação da creatinina: 1,41±1,63mg/dl vs. 0,20±1,07mg/dl, p=0,001;
variação da TFG: −19,0±16,55ml/min; 0,57±17,34ml/min, p=0,007) e necessidade de diálise (50 vs. 3,1%, p=0,003).
Conclusão: Os resultados demonstraram uma tendência para uma menor probabilidade de IRA,
menor necessidade de diálise pós-operatória e menor mortalidade nos doentes tratados por
EVAR. Contudo, o impacto da administração de contraste a médio/longo prazo, decorrente dos
programas de vigilância pós-EVAR, deve ser considerado.
Julgamos ser possível considerar que a realização de EVAR para o tratamento de doentes com
AAA e IRC é um procedimento pelo menos tão seguro como a CC