Percepção de barreiras da carreira em alunos do 9º e 12º anos de escolaridade: uma abordagem desenvolvimentista

Abstract

"Sem resumo feito pelo autor"; Resultado de dinâmicas de transformação económica, tecnológica, social e política, as carreiras deixaram de ser uma sequência previsível de fases, num percurso escolar e profissional marcado pela segurança e estabilidade, para tenderem a ser pautadas por mudança e imprevisibilidade (Guichard. e Huteau, 2001, p. 8; Hall e Mirvis, 1995, p. 325; Pais, 1991, 951-953; Sullivan, 1999, p. 457). Este padrão surge na lógica das economias globalizadas, em que a competitividade das organizações, assente na redução de custos, no aumento da produtividade e na flexibilização do trabalho, conduz, muitas vezes, à diminuição do número de pessoas com emprego fixo, permitindo a abertura de novas oportunidades mas também o aumento do número de desempregados ou dos que vivem situações profissionais precárias (Beck, 2005; Pais, 2001, p. 16). Nestes contextos, os jovens e as populações diferenciadas quanto à sua condição étnica, racial, religiosa, sexual, económica e de saúde, estão na primeira linha de virem a confrontar-se com estes obstáculos ao seu desenvolvimento da carreira. O caso português é ilustrativo, pois, no ano de 2005, cerca de 70% dos novos empregos eram precários, a taxa de desemprego atingiu os 7.7% da população activa, sendo maior nas mulheres (8,9%) do que nos homens (6,7%), enquanto que os jovens à procura do primeiro emprego eram o segmento mais afectado, com um acréscimo relativo de mais de 40%, em 2005 (Instituto Nacional de Estatística, 2005). Este quadro do desenvolvimento económico e social coloca desafios à psicologia vocacional, relativos à promoção da igualdade de oportunidades e de atitudes e comportamentos que facilitem a gestão da mudança e da imprevisibilidade que hoje caracterizam os contextos em que se desenham as carreiras. Neste sentido, a investigação sobre a percepção de barreiras da carreira, tem dado contributos, primeiro, através de investigação de carácter diferencial (Cardoso e Ferreira Marques, 2005), mais focada nas populações em risco de segregação no trabalho, procurando identificar barreiras específicas a esses contextos, e partir daí para a implementação de acções visando a promoção da igualdade de oportunidades; neste grupo de investigações, as iniciais, muito centradas nas especificidades da carreira das mulheres, foram-se alargando a outras populações. Actualmente é possível encontrar investigação nos mais variados contextos, de que os trabalhos sobre barreiras da carreira na indústria alimentar (Doss, 2000), nos serviços de bibliotecas (McDermott, 1998), à participação em actividades sindicais (Bulger e Mellor, 1997), à integração socioprofissional de pessoas com deficiência (Fabian e Liesener, 2005) e em programas de formação num departamento de ciências da computação (Scragg e Smith, 2003), são exemplos dessa diversidade. Um segundo grupo de investigações surgiu no final dos anos 80 e início dos anos 90. Procura responder ao desafio de como ajudar os indivíduos a gerir os sinuosos e imprevisíveis percursos da carreira, através da análise da importância da percepção de barreiras nos processos psicológicos relacionados com as escolhas e os ajustamentos que os indivíduos realizam. Neste caso, temos investigações em que a percepção de barreiras é considerada um contributo para o conhecimento dos compromissos que os indivíduos assumem ao longo da carreira e como lidam com os mesmos (Gati 1993, p.417; Gottfredson, 1981, p.570; Swanson e Tokar, 1991a, p.104), dos processos implicados nas escolhas da carreira (Lent, Brown e Hackett, 2000), da motivação da carreira (London, 1997; 1998), da indecisão da carreira (Lucas e Epperson, 1990; Osipow, Carney, Barak, 1976), da maturidade vocacional (Luzzo, 1995; Luzzo e Hutcheson, 1996; McAuliffe, 1992) e do papel das variáveis do contexto nas escolhas da carreira (Lent, Brown e Hackett, 2000). Os estudos sobre a percepção de barreiras da carreira, com jovens não universitários têm sido pouco frequentes, apesar de ser uma fase da vida em que muito do futuro da carreira se joga. É um período do desenvolvimento pessoal em que, gradualmente, o papel de trabalhador vai ganhando importância relativamente aos restantes papéis da carreira (Pires, 2003, p. 209-211;Vale, 1997, p. 225), em que cresce a esperança num emprego que permita a segurança e a estabilidade necessárias à concretização da autonomia tão desejada, que permita as condições de implementação do seu auto-conceito e a realização pessoal. É também um período em que a crescente maturidade psicológica revela os múltiplos obstáculos à concretização dessa autonomia. Como mostram os dados das nossas investigações, aumenta a consciência de que os caminhos a percorrer estão longe de serem lineares e estáveis, e exigem lidar com múltiplas barreiras, implicando, por vezes, recuar ou seguir caminhos que não estavam previstos. Nas palavras de Pais (2001, p. 1), é um período de tensões entre o presente e o futuro, entre os laços persistentes de dependência e os anseios insistentes de independência

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