Introdução
Um leque alargado de procedimentos cirúrgicos tem vindo a ser descrito para o tratamento da tendinopatia de inserção crónica do tendão de Aquiles, resistente ao tratamento conservador bem conduzido. Se é dado como certo que o tipo de técnica cirúrgica é determinado pelas alterações estruturais e morfológicas dos tecidos moles e do tecido ósseo não é, porém, menos verdade que a intervenção cirúrgica deve ser realizada em tempo útil, por forma a alcançar o melhor resultado. Nas situações graves, com um acentuado processo degenerativo do tendão de Aquiles está indicado proceder à excisão da porção distal do tendão e à respetiva reinserção. Para isso, recorre-se a uma plastia do tendão ou até a um aloenxerto de tendão de Aquiles, assim como a um reforço da reconstrução com o longo flexor do hallux (LFH). O objetivo central deste poster é mostrar os passos mais relevantes do protocolo cirúrgico usado no Serviço para o tratamento de situações graves de tendinopatia crónica da inserção do tendão de Aquiles.
Material e Métodos
Posicionamento do doente em decúbito ventral, incisão cutânea longitudinal posterointerna com cerca de 15 cm a partir da inserção aquiliana. Desinserção do tendão de Aquiles. Ressecção da apófise posteroexterna do calcâneo e tecido fibrótico adjacente, originando um leito vascularizado de osso esponjoso. Ressecção distal do tendão de Aquiles com alterações macroscópicas evidentes de um processo degenerativo. Incisão longitudinal no bordo interno do pé, zona média da arcada interna, com cerca de 5 cm, na transição da pele dorsal e plantar. Abertura da fáscia e identificação do tendão do LFH. Secção do tendão 3 a 4 cm atrás dos sesamóides, libertação de expansões no nó de Henry e respetiva passagem para trás. Preparação de túnel ósseo transversal no calcâneo com broca 4.5, passagem do tendão do LFH e sutura sobre ele próprio com o tornozelo a 90º. Plastia do tendão de Aquiles em V-Y ou pela técnica de Bosworth, consoante o defeito tendinoso for inferior ou superior a 4 cm, respetivamente. Reinserção do tendão de Aquiles com 2 âncoras ósseas. Sutura do tendão de Aquiles ao tendão do LFH. Bota gessada em equino de 20º. Imobilização do tornozelo durante 12 semanas. Possibilidade de carga a partir das 3 semanas. Após retirar a imobilização, sapato com elevação do calcanhar de 3 cm durante 2 meses. Tratamento fisiátrico para libertação de aderências, recuperação da mobilidade articular e reforço muscular. Atividade física sem restrições aproximadamente aos 9 meses de evolução.
Resultados
Os resultados obtidos com esta técnica têm sido muito satisfatórios, particularmente no concernente ao alívio das queixas dolorosas.
Discussão
Este procedimento cirúrgico deve ser reservado para o tratamento das formas mais graves de tendinopatia de inserção aquiliana, em que está indicado proceder à excisão da porção distal do tendão e à respetiva reinserção, solução drástica e complexa, mas a única com capacidade para eliminar as dores incapacitantes.
Conclusão
O tratamento da tendinopatia da inserção aquiliana apresenta dificuldades acrescidas em relação a tendinopatias do corpo do tendão. A técnica cirúrgica acima descrita, apesar de exigente tanto do ponto de vista técnico quanto da colaboração do doente, pode conduzir a resultados clínicos e funcionais satisfatórios