Pelo tráfico aéreo, desde as últimas décadas do século XX, qualquer ilha açoriana liga-se, várias vezes por semana, a um exterior sucessivamente alargado,
sem qualquer entrave à eventual circulação de epidemias. Em períodos anteriores, em que apenas se contavam as ligações por mar, a entrada de epidemias
podia acontecer de forma desfasada, afetando diretamente as zonas portuárias e
preservando frequentemente zonas rurais mais afastadas.
No caso da ilha do Faial, com um excelente porto de mar, verificamos que a gripe
espanhola entrou na ilha com incidência marcada apenas no mês que decorre de
27 de novembro a 27 de dezembro de 1918, não tomado as proporções de grande
crise.
Utilizámos para esse estudo registos de óbito da Conservatória do Registo Civil
da Horta, de janeiro de 1913 a dezembro de 1923, já disponibilizados ao público,
enquadrando 1918 nos cinco anos anteriores e posteriores, com aplicação da metodologia de Livi-Bacci e Del Panta para tais casos.
Estando os registos paroquiais anteriores a 1911 disponíveis on line, tivemos curiosidade em saber como a ilha do Faial, apesar do porto da Horta se abrir desde
cedo ao tráfico intercontinental, lidou historicamente com epidemias de crise.
A exploração sistemática dos registos de óbitos, freguesia a freguesia, fez-nos
concluir que apenas no século XIX, com entradas de epidemias de varíola, a
instabilidade da morte esteve mais presente, comprometendo o crescimento da
população, já afetado por uma intensa emigração. No século XVIII, apenas duas
epidemias generalizadas se instalaram, particularmente gravosas em algumas freguesias, a de 1704/5 e a de 1746, mas que não chegaram a comprometer o
intenso crescimento das últimas décadas do século XVIII e primeiras do XIX