A alimentação dos mais velhos tem sido alvo de investigação nas últimas décadas, especialmente no que se refere ao estado nutricional e ao consumo de alimentos. Embora os determinantes biológicos, psicológicos, pessoais e económicos da escolha de alimentos sejam bem conhecidos, a relação com o ambiente cultural tem sido menos explorada. As regras culturais determinam a sequência diária e semanal das refeições, o tempo e tipo de refeição, o que constitui uma refeição, o que é considerado uma verdadeira refeição, e distingue ainda uma refeição de uma merenda.O objetivo deste estudo foi compreender as refeições em idade sénior numa população de idosos Portugueses, focando as diferenças ao longo do ciclo de vida, usando uma abordagem qualitativa. A nossa investigação incluiu 80 idosos portugueses a viver na comunidade. Verificou-se que a abundância ou as dificuldades económicas na infância apresentam um impacto positivo ou negativo na visão que os idosos têm sobre as suas refeições no passado e no presente. As experiências na vida adulta (migração, casamento, ter filhos, trabalho, doença) influenciaram as rotinas diárias, incluindo a alimentação, para homens e mulheres. As refeições ao longo da vida são definidas por papéis relacionados com o sexo e a descontinuidade nos relacionamentos. Assim, a presença de novas relações e circunstâncias de vida irá refletir-se em novos desafios nas atividades domésticas. Na velhice, estar sozinho e isolado era um importante determinante dos hábitos alimentares. A perda do parceiro foi a situação mais reportada, estando associada a comer sozinho e a menos satisfação com as refeições. Ter o apoio da família ou de uma instituição especializada era essencial para as rotinas diárias com as refeições.Compreender o significado de refeições na velhice pode ser muito útil para o desenvolvimento de melhores estratégias para esta população.Food in later life has been the focus of research in the past decades, especially in what refers to nutritional status and food consumption. Although biological, psychological, personal and economic determinants in food choice are well known, the relationship with the cultural environment has been less explored. Cultural rules determine daily and weekly sequence of meals, time and type of meal, what constitutes a meal, what is considered a proper meal, and distinguish a meal event from a snack.The purpose of this study was to understand meals in the later life of Portuguese older people, focusing on the differences in the life cycle through a qualitative approach. Our research involved 80 Portuguese older people, free living in the community. We found that an easy childhood or the economic constraints in early childhood had a positive or negative impact in older people view of meals in past and present. The experiences in adult life (migration, marriage, having children, labour, disease) influenced daily routines, including eating, for both men and women. Meals across life were defined by gendered roles and discontinuity in relationships. Therefore, the presence of new relationships or life conditions will reflect in new challenges in domestic activities. In older age, being alone or isolated was an important determinant for eating habits. The loss of partner was the most reported situation, which was linked to eating alone and less satisfaction with meals. Having support from family or a specialized institution is central to the daily routines with meals.Understanding the meaning of meals in later life can be very useful in order to develop appropriate strategies for this population