Faculdade da linguagem e forma de vida : Sugestão de uma hipótese de conciliação do programa gerativo chomskyano com uma pragmática de inspiração Wittgensteiniana

Abstract

A presente tese é desenvolvida em torno do seguinte objetivo: o de tentar encontrar alguma forma de conciliação entre dois programas de investigação acerca da linguagem aparentemente antagónicos: o gerativismo proposto por Chomsky e uma pragmática de inspiração wittgensteiniana. Trata-se, mais em particular, de apresentar uma tentativa de compatibilizar alguns desdobramentos dessas teorias, com vista a proporcionar uma melhor compreensão do fenómeno humano da linguagem. O plano para alcançar este objetivo está delineado em três partes. Inicialmente, caracteriza-se os conceitos fundamentais do programa gerativo chomskyano. Nesta ocasião, expõem-se as ideias basilares da concepção segundo a qual a linguagem deve ser entendida como uma faculdade da mente, devendo, portanto, ser considerada como um produto natural da organização mental dos seres humanos. A segunda parte discorre sobre o confronto das posições internalistas assumidas por Chomsky no domínio da semântica com as teorias semânticas externalistas defendidas por uma parte significativa da filosofia analítica contemporânea da linguagem. Neste caso, contrasta-se o tratamento dado aos problemas da referência e do sentido no modelo internalista chomskyano com os principais pressupostos semânticos assumidos pelos filósofos externalistas. Esta parte da tese termina com uma exposição e análise das críticas chomskyanas à semântica externalista, sobretudo as dirigidas ao modo como os externalistas compreendem a relação linguagem-mundo. A terceira parte é dedicada, primeiro, à exposição do pragmatismo de Wittgenstein e, em seguida, à apresentação de uma hipótese de conciliação entre este e o inatismo chomskyano. O interesse desta parte é duplo. Por um lado, o de mostrar que, a partir do conceito de uso proposto pela filosofia de Wittgenstein, há um modo externalista de entender a relação entre linguagem e mundo diferente da assumida pela semântica externalista; aqui, conclui-se que, apesar de terem pontos de partida diferentes, a filosofia da linguagem de Wittgenstein e o programa gerativo chomskyano se unem negativamente contra o entendimento da relação linguagem-mundo que predomina em boa parte da filosofia contemporânea da linguagem. Por outro lado, o de mostrar que, inserindo a discussão no âmbito da filosofia da linguística, os modos como Wittgenstein e Chomsky entendem essa relação são perfeitamente compatíveis um com o outro.The present thesis is built around the goal of attempting to find some way of reconciling two seemingly opposed research programs on the nature of language: generative syntax as proposed by Chomsky and a Wittgenstein-inspired pragmatics. Looked at more closely, this work aims to present an attempt at construing some developments of these theories as compatible, in order to achieve a better understanding of the human linguistic phenomenon. To that end, my work plan may be outlined as comprised of the following three parts. I initially set out to expose the fundamental concepts of Chomsky‟s generative program. In that connection, I present the basic ideas found in the conception according to which language ought to be seen as a mental faculty, which, thus, ought to be considered as a natural product of humans‟ mental organization. In the second part, I go on to discuss the conflict between Chomsky‟s internalist semantic views and the externalist semantic take favored by a significant number of present-day analytic philosophers of language. In this connection, a contrast is drawn between the way in which the problems of sense and reference are dealt with in the Chomskyan internalist model and the main semantic pressupositions assumed by externalist philosophers. This part of the dissertation ends with an exposition and analysis of Chomsky‟s criticisms of externalist semantics, most notably those on the way externalists conceive of the language-world relation. The third part is devoted, first, to the exposition of Wittgenstein‟s pragmatism and, then, to the presentation of an hypothesis aimed at reconciling it with Chomsky‟s innatism. The signicance of this is twofold. On the one hand, I intend to show that, on the basis of the concept of use proposed in Wittgenstein‟s philosophy, there is an externalist way of understanding the language-world relation that is different from that of externalist semantics; here I conclude that, despite their different starting points, Wittgenstein‟s philosophy of language and the Chomskyan generative program unite in a negative sense against the understanding of the language-world relation that is prevalent in much of contemporary philosophy of language. On the other hand, I intend to show that, provided the discussion is placed within the context of philosophy of linguistics, Wittgenstein‟s and Chomsky‟s understandings of the relation are perfectly compatible with one another

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