"Sexual and reproductive health in type 1 diabetes mellitus" : an exploratory approach to emerging adults' perceptions

Abstract

Tese de mestrado, Psicologia (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde, Núcleo de Psicologia Clínica da Saúde e da Doença), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2017A Diabetes Mellitus (DM) é uma das doenças crónicas com maior incidência e prevalência a nível mundial. Entre os diferentes tipos de diabetes, a Diabetes Mellitus Tipo 1 (DMT1) é a forma de diabetes que, na grande maioria dos casos, é diagnosticada antes da entrada na idade adulta e que acompanha o indivíduo ao longo de toda a sua vida. A longo-prazo, a DMT1, aliada ao avançar da idade, ao número de anos de diagnóstico e a um controlo glicémico desadequado, pode desencadear o aparecimento de complicações, entre as quais problemas ao nível da saúde sexual e/ou reprodutiva. O período de transição da adolescência para a entrada na vida adulta é caracterizado por marcos desenvolvimentistas ao nível da sexualidade, exploração da identidade, independência financeira, formação de vínculos afetivos e sexuais que tendem a ser mais estáveis e da tomada de decisões face a planos de vida futuros. No curso do desenvolvimento humano, o aparecimento de uma doença crónica, constitui por si só um fator que tem impacto em diferentes áreas do desenvolvimento individual, desencadeando períodos de crise que podem interferir com as tarefas de desenvolvimento normativas desta fase da vida. Neste sentido, os adultos emergentes com DMT1 enfrentam exigências adicionais associadas à gestão da sua condição de saúde crónica e ao aparecimento das possíveis complicações a longo-prazo. De acordo com os modelos da Psicologia da Saúde, a forma como um indivíduo perceciona e representa, tanto a doença como os desafios que esta impõe vai determinar as suas respostas e comportamentos de saúde, interferindo com o seu bem-estar, qualidade de vida e processo de desenvolvimento global adaptativo. A conjugação de conhecimentos destes dois domínios de investigação, Psicologia do Desenvolvimento e da Saúde, cria os pressupostos teóricos que sustentam a necessidade de explorar se a sexualidade e a função sexual são, ou não, afetadas pelas perceções e experiências da DMT1, numa fase da vida que envolve inúmeras transições sociais. Assim, para além dos estudos que têm sido desenvolvidos para compreender o efeito da componente biológica da DMT1 no funcionamento sexual, interessa explorar as implicações psicológicas e interpessoais que problemas ao nível da saúde sexual e reprodutiva podem despoletar nos adultos emergentes, bem como nas suas relações românticas. A escassez de literatura que explore o desenvolvimento social e sexual de adultos emergentes com DMT1, não permite compreender as perceções, expectativas e experiências face à relação entre a vivência com a doença crónica e a experiência da sexualidade num período-chave de transição, como é a entrada na vida adulta. A presente investigação surge, assim, com o objetivo de contribuir de forma significativa, ainda que preliminar e modesta, para a compreensão de aspetos pouco explorados face à vivência e perceção das relações românticas e da saúde sexual e reprodutiva por parte de adultos emergentes com DMT1, dando-lhes voz no que diz respeito às suas expectativas e experiências a estes níveis, de forma a proporcionar aos profissionais de saúde e à comunidade um maior conhecimento sobre a forma como vivem as relações românticas, a sexualidade e a vida reprodutiva. De forma a alcançar os objetivos propostos foi desenvolvido um estudo exploratório qualitativo, com uma amostra de adultos emergentes (n = 59), com idades entre os 18 e os 35 anos (M = 26,66, DP = 4,74), que falam Português e com diagnóstico de DMT1. Os participantes responderam a um questionário online com três questões de resposta aberta. A estrutura das questões progride de um espetro mais global de abordagem ao tema, para questões mais específicas da experiência dos adultos emergentes com DMT1 no que diz respeito à sua saúde sexual e reprodutiva. Assim, considerando a literatura, que dá relevância ao impacto da doença crónica nas relações românticas de adultos emergentes, a primeira pergunta procura identificar as perceções desta população relativamente ao impacto da DMT1 na formação de relações românticas. A segunda questão procura, de forma mais específica, explorar dúvidas e/ou questões dos participantes face à sua saúde sexual e reprodutiva. Por último, a terceira questão remete para a exploração da experiência de dificuldades ao nível da saúde sexual e/ou reprodutiva, procurando identificar estratégias de respostas às quais os adultos emergentes recorrem para lidar com as mesmas. A abordagem metodológica para a análise das respostas dos participantes a cada questão foi realizada com recurso ao QSR NVivo Pro 11, através do processo de análise temática, e resultou num conjunto de temas, subtemas e códigos que foram organizados em três sistemas hierárquicos diferentes. Considerando a natureza exploratória do estudo e os objetivos propostos, embora um grande número de participantes não tenha identificado desafios específicos ou dificuldades experienciadas na sua vida sexual e/ou reprodutiva, quase todos mencionaram questões e/ou dúvidas e experiências relacionadas com este tema. Com base na análise de resultados foram identificadas dois temas representativos dos desafios específicos expressos pelos participantes: Impacto Intrapessoal (ex.: gestão das próprias expectativas, adaptação ao diagnóstico e autorevelação) e Interpessoal (ex.: compreensão por parte do parceiro, hiper e hipoglicémias e os conhecimentos do parceiro face à doença, à sua gestão e às possíveis consequências). Embora apresentados de forma separada, estes temas estão interrelacionados, partilhando o subtema impacto na saúde sexual e reprodutiva, também identificado como um desafio específico desta população. No que concerne às questões e/ou dúvidas identificadas pelos adultos emergentes, surgem preocupações face à resposta sexual, à resposta metabólica do organismo à doença e a todo o processo de planeamento familiar, desde a pré conceção ao nascimento. Por fim, as dificuldades experienciadas pelos participantes surgem ao nível da atividade sexual, alterações orgânicas a nível urogenital e reprodutivo e experiência emocional negativa, que aparecem associadas a Processos Intrapessoais (ex.: evitamento e correção da hipoglicemia) e Interpessoais (ex.: compreensão do parceiro e comunicação com este) de resposta às mesmas por parte dos adultos emergentes com DMT1. Vistos como um todo, os resultados obtidos demonstram que as relações românticas e a saúde sexual e reprodutiva constituem uma fonte de desafios, dúvidas e experiências expressas por adultos emergentes com DMT1. A possibilidade de ocorrência de hipo e hiperglicemias durante o ato sexual surge como um dado crucial identificado, que emerge como uma temática relevante nas três questões analisadas e associada a estratégias de resposta. Por outro lado, para além das questões orgânicas mencionadas, existe um conjunto de processos psicológicos que os adultos emergentes identificam como específicos e relacionados com a vivência da sua doença crónica ao nível da saúde sexual e reprodutiva. Adicionalmente, parece também existir um reportório de estratégias às quais os adultos emergentes com DMT1 recorrem para lidar com possíveis dificuldades sentidas, o que demonstra uma capacidade de adaptação face a aspetos que são considerados desafios específicos e estão muitas vezes associados a dúvidas e/ou questões identificadas por esta população. Globalmente, o conjunto de dados recolhidos neste projeto de dissertação chama a atenção para a importância da abordagem de temas da saúde sexual e reprodutiva em contextos clínicos e sociais e, como tal, realça a importância desta área como parte constituinte da formação de profissionais de saúde. Neste sentido, o presente estudo inicia uma linha de investigação que deve ser tida em conta e explorada em projetos futuros, realçando não só o papel central das relações românticas na promoção da saúde e no bem-estar dos indivíduos mas também a necessidade de modelos diádicos de investigação.Type 1 Diabetes Mellitus (T1DM) is one of the most prevalent chronic conditions in the world and is associated with the development of long-term complications such as sexual and/or reproductive health problems. However, research exploring this topic among T1DM emerging adults has been scarce. This study seeks to explore the perceptions of T1DM emerging adults regarding the impact T1DM has when establishing romantic relationships, the specific challenges, concerns and/or experienced difficulties regarding their sexual and reproductive health, as well as their responses and strategies in dealing with these issues as they occur. We present a thematic analysis of the answers to three open questions of an online qualitative exploratory survey. The participants (n = 59) were emerging adults (ages 18-35), who speak Portuguese and have a T1DM diagnosis. Our results highlight that sexual and reproductive health are important themes identified, with an impact on a personal and interpersonal level. The specific challenges reported are related with the uncertainties and difficulties experienced, mainly regarding sexual and reproductive health as well as associated organic behaviors. Hypoglycemia and hyperglycemia during the sexual activity, especially sexual intercourse, suggests a novel data that is identified as a challenge, a doubt and an experienced difficulty, but that was also associated to specific response strategies. The findings emphasize the importance of research on sexual and reproductive health among the population of T1DM emerging adults. In particular, it is essential to give more attention to the multidisciplinary approach to this population needs and to the bidirectional influence of social relationships on health, especially the role of romantic partners in promoting their partners’ health and well-being

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