Dissertação de mestrado, Psicologia (Área de Especialização em Psicologia Clínica e da Saúde - Psicologia da Saúde e da Doença), Universidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia, 2020O cancro tem especificidades que o distinguem de outros eventos traumáticos,
pelo que os doentes de cancro pediátrico e suas famílias vivem o trauma do diagnóstico,
mas também um período prolongado e exigente de tratamentos. Na fase pós-tratamentos
são ainda percecionadas experiências particularmente ameaçadoras do equilíbrio familiar.
Nesta temática, os irmãos tendem a ser desconsiderados no que diz respeito às suas
necessidades, pelo que a investigação centrada nesta população é muito reduzida.
Objetivo: Explorar as memórias da vivência da fase ativa da doença, as preocupações
atuais e o crescimento pós-traumático em irmãos de sobreviventes de cancro pediátrico.
Metodologia: Este trabalho inclui uma revisão exaustiva de literatura acerca da vivência
da sobrevivência e crescimento pós-traumático em irmãos de jovens sobreviventes de
cancro e um estudo qualitativo. Na revisão de literatura foram pesquisadas as bases de
dados científicas reconhecidas e utilizados descritores correspondentes aos objetivos da
revisão. Dos 992 artigos extraídos, 13 cumpriram os critérios de inclusão. Participaram
no estudo qualitativo 9 indivíduos, entre os 19 e os 34 anos. Foi utilizada uma entrevista
semiestruturada que integrou as dimensões identificadas nos objetivos. As entrevistas
semiestruturadas foram analisadas de acordo com a análise indutiva de conteúdo.
Resultados: Os irmãos mostraram recordar as suas experiências, lembrando situações
emocionalmente negativas e positivas. As emoções positivas associadas às situações
lembradas foram descritas como tendo aliviado a experiência difícil por que passaram.
Todos os participantes identificaram alterações condizentes com todas as dimensões do
CPT, reportando a influência da experiência vivida no aumento percebido de recursos
psicológicos, mas também na fragilidade emocional, na empatia em relação aos outros,
mas também na desconfiança relacional, no seu sentido de vida e na responsabilidade em
relação à vida, e na sua espiritualidade. Os irmãos mostraram ainda viver com alguma
angústia relacionada com um sentido de incerteza em relação ao futuro, com a
possibilidade de doença dos familiares e/ou com a recidiva da doença do/a irmão/ã.
Conclusões: O estudo qualitativo e a revisão exaustiva de literatura ilustraram que os
desafios e a vivência de experiências ameaçadoras do equilíbrio emocional dos irmãos
não são exclusivos da fase mais ativa da doença. Os resultados alertam para a necessidade
da continuação do apoio psicológico a esta população em fase posterior aos tratamentos.Cancer has particularities that distinguishes it from other traumatic events,
meaning that pediatric cancer patients and their families live not only the trauma of the
diagnosis, but also an extended and demanding period of treatments. In post-treatment
phase it is also perceived experiences that may be notably threatening for the family
stability. In this theme, siblings tend to be disregarded concerning to their necessities, and
as a consequence, researches focused on this specific group exist in a very small number.
Objetive: To explore memories of the active phase of illness, current concerns and
posttraumatic growth in siblings of pediatric cancer survivors.
Methodology: This work include an exaustive review of literature about livingness and
posttraumatic growth of young cancer survivor siblings and a qualitative study. In the
exaustive review of literature, recognized scientific databases were searched and the
keywords were used corresponding to the objectives of the review. Of the 992 articles
extracted, 13 met the inclusion criteria. 9 individuals, aged between 19 and 34 years old,
participated in the qualitative study, A semi-structured interview was used, which
integrated the dimensions identified in the objectives. The semi-structured interviews
were analyzed according to inductive content analysis.
Results: Siblings demonstrated to remember their experiences, recalling emotional
situations, not only negative, but also positive. Positive emotions associated with the
recalled situations were described as having alleviated the rough situations they have been
through. All participants identified compatible changes with all the posttraumatic growth
dimensions, reporting the influence of the experience on the perceived increase in
psychological resources, but also on emotional fragility, on empathy towards others, but
also on relational distrust, in their sense of life and responsibility for life, and spirituality.
Siblings also expressed concerns related to the uncertainty of the future and the possibility
of family member’s disease and/or the relapse of their sibling’s illness.
Conclusions: The qualitative study and the exaustive review of the literature have
demonstrated that the challenges and livingness of threathening experiences of siblings
emotional balance are not exclusive to the most active phase of cancer. Results alert for
the need to continue to provide psychological support to them in a post-treatment phase