Tese de mestrado em Educação (Metodologia do Ensino das Ciências), apresentada à Universidade de Lisboa através da Faculdade de Ciências, 1997O conhecimento científico não é independente da linguagem em que é apresentado.
As palavras não são neutras em relação aos factos, mas fazem uma selecção do que é
considerado importante e ajudam a "dar forma" aquilo que aceitamos dos objectos
científicos. Atender à linguagem científica é atender à ciência não só como prática
comunicativa, mas também como prática cognitiva.
As expressões figurativas permeiam o discurso científico, especialmente nas fases
iniciais do desenvolvimento de uma dada disciplina e em períodos de intensa pesquisa.
Entre elas encontra-se a metáfora. Nas últimas décadas, a filosofia da ciência e a filosofia
da linguagem têm vindo a advogar a importância da metáfora no contexto da descoberta,
elaboração e comunicação da ciência. A sua função no desenvolvimento e inovação
científica, bem como a sua produtividade heurística na elaboração de hipóteses e
procedimentos experimentais tem vindo a ser analisada.
Este estudo tem como objectivo compreender a presença da metáfora na ciência,
quanto às suas origens, funções e implicações, em termos de inteligibilidade e eficácia
científicas. Da constituição de um corpo teórico interdisciplinar sobre a problemática da
metáfora ressaltam os seguintes aspectos: a metáfora tem valor cognitivo; na elaboração da
ciência a metáfora tem uma função constitutiva e uma função heurística; na comunicação e
divulgação da ciência a metáfora tem uma função didáctico-pedagógica.
Ao procurar fundamentar a ideia de que as metáforas são constitutivas da ciência,
este estudo apresenta como corpus de análise o discurso da genética. A recolha textual da
linguagem metafórica em artigos científicos, publicados entre 1953 e 1966, evidenciou a
importância das metáforas provenientes da interpenetração de diferentes campos de
conhecimento: a teoria da informação, cibernética e linguística.
As palavras e expressões metafóricas detectadas exigiam ser pensadas no que se
refere às razões e influências que determinaram o seu aparecimento na genética, bem como
quanto às suas funções e implicações. A interpretação e discussão apresentada permite pôr
em relevo a fecundidade das metáforas informacional, cibernética e linguística no momento
da emergência de uma nova disciplina científica—a genética molecular.
No ensino das ciências, entendido como uma forma particular de comunicação e
divulgação da ciência, a metáfora como uma componente da linguagem científica está
inevitavelmente presente. A forma como ela é transmitida, interpretada e recriada é
determinante para a compreensão da ciência. Os professores são agentes privilegiados deste
acto comunicacional. Este estudo poderá ser um contributo para a intervenção na formação
de professores