Mare Nostrum – Military history and naval power in Rome (2nd century BCE – 1st Century CE)

Abstract

A investigação da componente marítima e do poder naval no mundo romano têm sido por vezes secundarizados, por oposição à influência da questão terrestre. Esta secundarização faz-se sentir com maior incidência em determinados momentos cronológicos. Apesar de existir um número considerável de estudos que se dedicam às marinhas do período imperial, estes diminuem significativamente quando se pretende observar o período republicano, e a análise da construção do espaço de influência romano, ainda que inclua referências à questão da relação de Roma com o mar, não a coloca com frequência como ponto central de observação. Assim, trabalhos que observem Roma com o mar como ponto central de observação, e estudos que se dediquem à construção do poder naval romano, sobretudo quando observado para cronologias mais recuadas, são ainda escassos, e a área da investigação que pretende observar os primeiros momentos de Roma no mar, bem como os períodos de transição subsequentes, exige ainda maior investimento no estudo do passado. Tendo observado essa lacuna, e no seguimento de investigações anteriores que se dedicaram aos primeiros esforços navais de Roma no século III a. C. (nomeadamente, na Primeira Guerra Púnica, que opõe Roma a Cartago), surge este estudo, que pretende observar a transformação e concretização de Roma enquanto poder marítimo ao longo do século I a. C., salientando-o de um ponto de vista concreto, nomeadamente o da História Militar (como sugere o próprio título, «História Militar e Poder Naval em Roma»). Esta dissertação pretende assim observar o modo como a República Romana cresce e se organiza enquanto potência marítima após as Guerras Púnicas, analisando-a enquanto talassocracia, na sequência da evolução do pensamento naval estratégico enquanto linha condutora das cidades-estado do Mediterrâneo. Para proceder a esta observação, são focados quatro pontos-chave: comando, embarcações, portos e conceitos. O capítulo inicial e o capítulo final, tendo em conta a sua natureza, terão maior foco na análise da fonte histórica, por oposição aos capítulos intermediários, onde a investigação passa, sobretudo, por uma observação de ordem arqueológica e iconográfica. No entanto, o objectivo é, acima de tudo, uma posição integrada: apesar de cada elemento da dissertação ter uma componente que prevalece, derivada das necessidades de investigação para o plano de trabalho proposto, pretende-se uma interligação, sempre que possível, de todos os recursos ao alcance do investigador, confrontando-os e daí retirando observações. A evolução do poder naval de Roma não será somente observada do ponto de vista do seu investimento no Mediterrâneo, mas também da sua intervenção em espaços marítimos que o extravasam, nomeadamente ao longo da costa Atlântica (sobretudo durante campanhas de Gaio Júlio César), mas também em ambientes fluviais, numa tentativa de estabelecer alguns pontos sobre o modo como Roma tira partido dos rios enquanto meios de circulação. Tal é válido não só por via de embarcações, mas também da construção ou destruição de pontes, meios esses que são protegidos e fortificados. Sendo que o século I a. C. coloca os comandantes romanos em contacto com situações diversificadas, em ambientes que são pouco usuais na História de Roma até então, esta investigação pretende apresentar um contributo no sentido de compreender como Roma reage na presença destas circunstâncias, e como é que esta reação se vai traduzir, em termos práticos, nas opções tomadas pelos seus generais e almirantes, quer em termos de combates navais propriamente ditos, quer em termos de utilização do meio aquático como forma de potenciar a deslocação logística de soldados e mantimentos. Neste seguimento, este estudo observa a questão por dois prismas diferentes: por um lado, os conflitos de Roma com adversários externos, como é o caso das Guerras Mitridáticas, das Guerras Gálicas e das duas travessias que Júlio César faz à Grã-Bretanha; por outro, os conflitos internos dentro de Roma, observando a componente naval ao longo das Guerras Civis que irão ocupar a quase-totalidade do primeiro século a. C.: a rivalidade entre Lúcio Cornélio Sula e Gaio Mário, a guerra entre Júlio César e Pompeio, a influência da questão naval nos ataques às regiões costeiras da Península Itálica durante os anos em que Sexto Pompeio domina a ilha da Sicília, e os conflitos do final da República, entre Marco António e Octaviano, que irão terminar em Áccio. Ao longo de toda esta cronologia surgirão frequentes alusões à questão da pirataria, com particular destaque para a questão de Pompeio, o poder que recebe no âmbito do domínio naval, e a forma como desenvolve o combate às amplamente difundidas comunidades de piratas da Cilícia. Observar a convivência de Roma com o mar na sua totalidade, ainda que de um ponto de vista maioritariamente militar, resultaria numa análise excessivamente extensa, o que levou à delimitação de períodos cronológicos que, neste caso, são momentos de transição e, por isso, permitem uma observação de diferentes momentos nesta relação. Em termos cronológicos, será observado o desenvolvimento do investimento no domínio naval por parte de Roma desde as reformas no exército feitas por Gaio Mário, no ano de 107 a. C., até ao ano em que morre Octaviano, 14 d. C., situando assim o principal foco temporal da investigação no século I antes da nossa Era. Tal não significa, no entanto, que não sejam incluídos elementos de períodos anteriores ou posteriores sempre que a ocasião assim o justifique, sobretudo em casos onde existe continuidade: no que respeita a tipologias de embarcações, e tendo em conta a atual escassez de vestígios arqueológicos, aliada à sua dificuldade de preservação, serão incluídos elementos exteriores ao século I a. C., sendo que, em muitas ocasiões, navios de séculos posteriores são o mais próximo que existe em termos arqueológicos daqueles que poderiam ter sido utilizados nas décadas finais da República Romana. As embarcações são observadas no Mediterrâneo, no Atlântico e nos espaços fluviais; e se o ponto de vista proposto se foca na questão da História Militar, tal não significa que não surjam embarcações de transporte, visto que muitas vezes irão ser utilizadas em contextos de guerra; existe também uma breve abordagem à questão da comunicação em meio naval. A mesma abordagem cronológica será verificará na questão dos Portos: neste ponto, pretende-se observar a questão em abrangência, desde os primeiros portos Romanos junto ao rio Tibre até à fundação de coloniae maritimae, bem como a incorporação de portos que, não sendo romanos de origem, são incorporados na esfera de influência romana; consta também uma abordagem particular à questão dos faróis. Estes dois capítulos, de maior incidência na questão material, incluem a observação de elementos arqueológicos, iconográficos e numismáticos, não desvalorizando a importância da fonte escrita, cujo contributo também é apresentado. O capítulo final, relativo aos conceitos, é de certo modo uma reflexão que resulta da investigação apresentada nos três capítulos anteriores, juntamente com a interpretação de duas questões-chave: a ideia de Mare Nostrum e a de Talassocracia. Os contextos percorridos no que diz respeito a comandantes, embarcações e portos permitem contribuir para a interpretação da relação de Roma com o mar, quer de um ponto de vista concreto, quer de um ponto de vista mais simbólico e ideológico. Neste ponto da investigação, iniciar-se-á com uma análise sob o conceito de «Nosso Mar» noutras civilizações, sobretudo no mundo grego, e depois no mundo romano, observando como fontes gregas e latinas irão apresentá-lo, nas suas uniões e subdivisões; o mesmo será realizado no que diz respeito à questão das «Talassocracias». Como referido, o tema central desta investigação é a observação de Roma do ponto de vista do poder marítimo e, como tal, procurar compreender se Roma pode ser considerada enquanto Talassocracia.Uma larga componente deste estudo é a criação de questionário. Tendo em conta que as análises da Marinha Romana do período republicano são ainda pouco abundantes, observando a escassa (mas crescente) disponibilidade de contributos arqueológicos, iconográficos e epigráficos, o avanço da observação desta problemática passa também pela apresentação de perguntas. Pretende-se aqui fornecer um elemento de conectividade entre os vários componentes que nos permitem o estudo do passado, elaborando um estudo concertado, através de um fio condutor, de uma problemática mais vasta, e aliando a diversidade de recursos possível. Este trabalho segue, assim, uma opção metodológica que se foca, acima de tudo, na interdisciplinaridade. Através do questionário à fonte histórica, da análise de fontes da iconografia e da numismática, da interpretação dos dados arqueológicos e, acima de tudo, da ligação, sempre que assim seja possível, entre os dados fornecidos pelas várias áreas, espera-se, ainda mais do que responder às questões colocadas, apresentar um contributo para investigações futuras.This dissertation intends to observe how the Roman Republic organises itself as a maritime power following the Punic Wars, analysing it as a thalassocracy in sequence of the evolution of a strategic naval thought as a conductive line of the Mediterranean city-states. We will observe the evolution of the naval investment from the reformations of Gaius Marius in 107 BCE until the death of Gaius Julius Caesar Octauianus in 14 CE. An observation of the naval command processes is intended, as well as a study of the evolution, construction and typology of vessels and respective functions, analysing the armada and the commercial vessels both in maritime and river contexts. The analysis of the supporting infrastructural network to the navy, namely harbours and shipsheds, will also be included. These problematics will be observed through an interdisciplinary perspective, creating a thorough study of these keywords that allows for the observation of the construction of the Roman influence area from the maritime and river space

    Similar works