Tese de Mestrado em Psicologia (Área de Especialização em Desenvolvimento Humano) apresentada à Universidade de Lisboa, através da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, 2005Na obra de Piaget, os chamados argumentos operatórios, Identidade, Reversibilidade
e Compensação, são de grande importância. Acresce ainda a facilidade com que
podem ser identificados nos desempenhos das crianças. Estranhamente, e tanto
quanto sabemos, Piaget quase não se questionou sobre a psicogénese dos
argumentos operatórios, o que pode ter a ver com o facto de não ter recorrido a
metodologias longitudinais. Questões desse tipo, contudo, são importantes, quer em
termos da própria teoria quer em termos de uma melhor compreensão da emergência
do pensamento operatório na criança. Procurámos com este trabalho esclarecer
alguns aspectos centrais neste domínio, nomeadamente: (a) Existem diferenças na
frequência com que os argumentos são utilizados? (b) Existem diferenças na
probabilidade de cada um dos argumentos ser o primeiro a ser utilizado quando a
criança transita de um estádio de não conservação para um de conservação? (c)
Existem diferenças nas frequências relativas dos argumentos em função das provas?
Acompanhámos um grupo de crianças ao longo de quatro meses, com oito momentos
de avaliação, utilizando quatro provas diferentes de conservação. Verificou-se que o
argumento de Identidade foi o mais frequentemente invocado pelas crianças para
justificar a conservação, parecendo ser igualmente aquele que emerge com mais
frequência em primeiro lugar na transição para o pensamento operatório. Pelo
contrário, o argumento de Reversibilidade é aquele que é menos utilizado. Constatou-se
também que o tipo de prova influencia o padrão de utilização dos argumentos.
Estes resultados contradizem os invocados por Piaget quando afirma que a
emergência dos argumentos não segue uma ordem determinada e que a sua
observação nos desempenhos das crianças é igualmente provável. A interpretação
dos resultados foi dificultada, porém, pela perda de grande número de crianças da
amostra ao longo dos momentos de avaliação, uma vez que da amostra inicial de 68,
apenas 17 concluíram todas as avaliações.In Piaget's work, operational arguments (Identity, Reversibility, and Compensation), are
exceedingly important. To this one may add the ease of identifying them in children's
responses. Strangely, however, and as far as we know, Piaget did not examine the
question of the psychogenesis of operational arguments, possibly because he did not
make use of longitudinal methods. These types of questions, however, are important,
both in terms of theory and in terms of a better understanding of the emergence of
operational thought in the child. We sought in this work to shed light on some central
issues in this domain, namely: (a) Are there differences in the frequency of use of the
three arguments? (b) Are there differences in the probability of each of the arguments
being the first to be used when the child moves from a non-conservation to a
conservation stage? (c) Are there differences in the relative frequency of arguments as
a function of tasks? We followed a group of children for four months, with eight
moments of assessment, employing four different conservation tasks. We found that
the Identity argument was most often invoked by children to justify conservation, and
also seemed to emerge most often before any other in the transition to operational
thought. On the contrary, the Reversibility argument was the least utilized. We also
found that the type of task influences the pattern of argument use. These results
contradict those invoked by Piaget when he sustains that the emergence of arguments
does not follow a determined order and that their appearance in children's performance
is equally likely. The interpretation of results, however, was hindered by the loss of a
large number of children across assessment waves, as the initial sample of 68 was
reduced to 17 children completing all assessments