research

Conservação da biodiversidade em pastagens: espécies vegetais em risco

Abstract

As plantas herbáceas pratenses surgiram, pela primeira vez, em períodos muito recuados da história evolutiva das plantas com flor. Existem evidências de que no final do Mesozóico existiam já plantas adaptadas à pressão de pastoreio, neste caso por dinossáurios herbívoros. Supõe-se que estabilidade do clima tropical característico do Paleogénico não favoreceu a diversificação das plantas herbáceas. O recuo dos bosques tropicais terciários, causado pela diferenciação dos climas mediterrânico e temperado a partir do final do Miocénico, pelo contrário, possibilitou a radiação de novas linhagens de plantas pratenses. Os dados paleopalinológicos disponíveis indiciam que no final do Terciário savanas, ou mosaicos de prado e floresta, extensivamente pastados por grandes herbívoros, ocupavam trechos significativos da Península Ibérica. As plantas dominantes dos prados actuais são, certamente, descendentes directos das espécies de plantas que especiaram sob a pressão de pastoreio dos grandes herbívoros plio-plistocénicos, todos eles já extintos. Boa parte dos endemismos característicos das comunidades herbáceas actuais, por exemplo do género Centaurea, tem, no entanto, uma génese mais tardia. É possível que muitos deles se tenham diferenciado na primeira metade Holocénico a partir de pequenas populações isoladas pela expansão e dominância dos bosques. A história da vegetação herbácea continental portuguesa a partir da segunda metade do Holocénico foi, em grande medida, directa ou indirectamente controlada pelo pastoreio de animais domésticos. Numa fase inicial da alteração antrópica do coberto vegetal a eliminação da vegetação climácica teve como objectivo facilitar a pastorícia, mais concretamente de facilitar a circulação dos animais, de reduzir o risco de ataques de predadores e de expandir plantas herbáceas vivazes de maior palatibilidade e produtividade do que as plantas do sub-bosque das formações boscosas autóctones. A expansão antrópica da vegetação herbácea além de ter alargado a área de ocupação dos endemismos pratenses pôs em contacto taxa ou populações conspecíficas outrora isoladas. A promoção de trocas génicas pelo alargamento e coalescência da vegetação herbácea poderá ter estimulado um novo evento de especiação – e.g. sabe-se que a especiação híbrida teve grande importância na diversificação do género Armeria – e, em parte, explicar as dificuldades taxonómicas de vários taxa – e.g. Arrhenatherum elatius. Importa referir que este conjunto de hipóteses não está ainda devidamente testado. O fogo foi o mais importante instrumento de bloqueio dos processos sucessionais progressivos e de favorecimento da vegetação herbácea frente à vegetação arbustiva e arbórea. No entanto, a generalização do seu uso determinou, num processo de retroacção positiva, um incremento da abundância pirófitos, maioritariamente arbustivos e de fraco interesse pascícola, e a exclusão das plantas herbáceas perenes de maior interesse alimentar animal. A combinação de perturbações cíclicas do solo (mobilizações) com longos períodos de pousio, característica da agricultura de sequeiro mediterrânica, também ampliou a área de ocupação dos biótopos de vegetação herbácea. Porém, a erosão acelerada que persegue a cerealicultura de Outono-Inverno em toda a bacia mediterrânica acabou, à semelhança do fogo reiterado, por lentamente favorecer os arrelvados fugazes anuais de escassa produtividade em detrimento da vegetação herbácea perene

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