Objetivou-se com este trabalho caracterizar a qualidade das uvas ?Isabel Precoce?, cultivadas sob três sistemas de condução e dois porta- enxertos, em primeiro ciclo de produção, na região do Submédio do Vale do São Francisco

COSTA, R. R. da

LIMA, M. A. C. de

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Anais da II Jornada de Integração da Pós-Graduação da Embrapa Semiárido171Qualidade de Uva ‘Isabel Precoce’ sob Três Sistemas de Condução e Dois Porta-enxertos, em Primeiro Ciclo de ProduçãoQuality of ‘Isabel Precoce’ Grapes under Three Training Systems and Two Rootstocks During the First Production CycleRayssa Ribeiro da Costa1, Maria Auxiliadora Coêlho de Lima2AbstractThe objective of this study was to characterize the quality of ‘Isabel Precoce’ grapes cultivated under three training systems (Trellis, Lyre and Espalier) and two rootstocks (IAC-572 and IAC-766), in the first production cycle, in the Sub-Middle region of São Francisco Valley. The experiment was carried out in randomized blocks, in a factorial 3 x 2 (training system x rootstock) and four replications. At harvest, fruits were evaluated for bunch weight; berry resistance to compression; skin color attributes (L, a* and b*); titratable acidity; soluble solids and total soluble sugars content. Grapes harvested in the first production cycle from plants in trellis system and grafted onto the rootstock IAC-766 had a better quality, revealed by higher a* and b* attributes values, higher bunch weight, lower resistance to compression, lower titratable acidity and high soluble solids and total soluble sugars contents.Palavras-chave: Vitis labrusca, manejo da videira, produção de suco, Semiárido.Keywords: Vitis labrusca, grapevine management, juice production, Semi-Arid.1Bióloga, doutoranda em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Areia, PB.2Engenheira-agrônoma, D.Sc. em Fisiologia e Tecnologia Pós-colheita, pesquisadora da Embrapa Semiárido, Petrolina, PE.Anais da II Jornada de Integração da Pós-Graduação da Embrapa Semiárido172IntroduçãoA viticultura brasileira, até o final da década de 1950, era limitada aos três estados da região Sul e às regiões leste de São Paulo e sul de Minas Gerais. A partir daí, houve aumento da fronteira vitícola, com plantios na região do Submédio do Vale do São Francisco, seguindo-se do norte do Paraná, noroeste de São Paulo e norte de Minas Gerais. O segmento de elaboração de sucos tem se tornado bastante importante, nos últimos anos, tendo as uvas ‘Isabel Precoce’, ‘BRS Cora’ e ‘BRS Violeta’ como alicerce para o desenvolvimento dos polos de produção nos estados do Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso e na região do Submédio do Vale do São Francisco (CAMARGO et al., 2011). Entre as cultivares, destaca-se a Isabel Precoce, com alta produtividade e bons atributos de qualidade em regiões de climas tropical e temperado (RIBEIRO et al., 2012).Particularmente, em regiões tropicais com áreas de produção de uvas para suco instaladas há poucos anos, o sistema de manejo ainda não está adequadamente estabelecido. Além da escolha certa do sistema de condução do vinhedo, objetivando uma melhor exposição de suas folhas à luminosidade, visto que acarretará melhor qualidade na produção do fruto (KELLER, 2015), outros aspectos importantes devem ser considerados, como a adaptação das cultivares às condições edafoclimáticas e a compatibilidade com o porta-enxerto. A maior compatibilidade e afinidade do porta-enxerto com a cultivar copa resultará em adequada estabilidade entre o crescimento vegetativo, produção e qualidade pós-colheita (NASCIMENTO et al., 2015).Objetivou-se com este trabalho caracterizar a qualidade das uvas ‘Isabel Precoce’, cultivadas sob três sistemas de condução e dois porta-enxertos, em primeiro ciclo de produção, na região do Submédio do Vale do São Francisco.Material e MétodosO estudo foi conduzido no Campo Experimental de Bebedouro, pertencente à Embrapa Semiárido (09º09’ S, 40º22’ W), em Petrolina, PE. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com fatorial 3 x 2 (sistema de condução x porta-enxerto) e quatro repetições, contendo cinco plantas por parcela. A cultivar Isabel Precoce foi avaliada nos sistemas de condução latada, lira e espaldeira, sobre os porta-enxertos IAC 572 e IAC 766. O ciclo 173 Qualidade de Uva ‘Isabel Precoce’ sob Três Sistemas de Condução ...avaliado teve início com a poda de produção realizada em 23 de janeiro de 2017. Na colheita, realizada em 2 de maio de 2017, aos 99 dias após a poda, foram colhidos dez cachos aleatoriamente das cinco plantas que constituíam a parcela. Foram avaliados: massa do cacho; resistência da baga à força de compressão; os atributos de cor da casca luminosidade (L), a* (que avalia variações do vermelho e do verde) e b* (variações do amarelo e do azul); acidez titulável; teor de sólidos solúveis e de açúcares solúveis totais. Os dados foram submetidos a análises de variância e as médias dos fatores individualmente ou da interação entre eles, conforme o caso, comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.Resultados e DiscussãoA massa dos cachos da videira ‘Isabel Precoce’ foi maior quando o cultivo foi realizado em latada, para ambos os porta-enxertos, em comparação ao sistema de condução lira (Tabela 1). A massa do cacho é uma característica de suma importância para a indústria de processamento, estando associada ao rendimento.Tabela 1. Massa do cacho (MC), resistência da baga à força de compressão (RC) e atributos de cor luminosidade (L), a* e b* da casca de uvas ‘Isabel Precoce’ em diferentes sistemas de condução e porta-enxertos, em primeiro ciclo produtivo no Submédio do Vale do São Francisco.Característica Sistema de conduçãoPorta-enxertoIAC 572 IAC 766MC (g)Latada 95,15 Aa 101,56 AaLira 77,25 Ab 83,72 AbEspaldeira 88,78 Aab 95,97 AabCV% 7,8RC (N)Latada 6,85 Ab 6,97 AbLira 7,50 Aa 7,12 AbEspaldeira 6,88 Bab 7,79 AaCV% 23,40LLatada 28,23 Ab 27,04 BcLira 28,90 Aa 28,65 AbEspaldeira 28,80 Ba 29,35 AaCV% 4,86a*Latada 2,16 Ba 3,24 AaLira 2,31 Aa 2,43 AbEspaldeira 2,24 Ba 3,14 AaCV% 5,34b*Latada -1,13 Aa -0,45 BaLira -1,78 Ab -1,66 AbEspaldeira -1,86 Ab -1,70 AbCV% 5,29Médias seguidas pelas mesmas letras maiúsculas, nas linhas, e minúsculas, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey, em até 5% de probabilidade de erro.Anais da II Jornada de Integração da Pós-Graduação da Embrapa Semiárido174As bagas de plantas dos sistemas de condução latada e lira sobre ‘IAC-766’ apresentaram menor resistência à compressão, comparada à espaldeira combinada ao mesmo porta-enxerto. Sobre ‘IAC-572’, verificou-se menor resistência à força de compressão naquelas colhidas de plantas conduzidas em latada (Tabela 1). Valores menores indicam amaciamento, que está relacionado à solubilização das pectinas e à degradação da parede celular. Tratando-se de uva para suco, a menor resistência da baga sugere desprendimento mais fácil do pedicelo, o que permitiria maior rendimento na operação do desengace, que antecede a maceração das uvas (SOARES et al., 2008).Todas as variáveis de cor da casca também foram influenciadas pela interação entre os porta-enxertos e os sistemas de condução (Tabela 1). No sistema latada, o porta-enxerto IAC-572 determinou maior valor de L nas bagas da cultivar copa, comparado a ‘IAC-766’. No sistema espaldeira, o maior valor nas uvas foi observado quando produziram sobre o porta-enxerto IAC-766. Segundo Ribeiro et al. (2012), valores menores de L podem ser decorrentes de maior quantidade de cera epicuticular (pruína) sobre as bagas.Quanto aos valores de a*, foram menores nas uvas da videira ‘Isabel Precoce’ produzindo sobre a combinação porta-enxerto IAC-766 e GDC (Tabela 1). Com o uso de latada ou espaldeira associada ao porta-enxerto IAC-766, as uvas ‘Isabel Precoce’ apresentaram maiores valores. Ressalta-se que a coloração vermelha mais forte, correspondente a maiores valores de a*, caracteriza a correlação com o teor de antocianinas e, consequentemente, com o de polifenóis totais dos sucos e vinhos elaborados (ABE et al., 2007). Para o componente b*, os sistemas de condução lira e espaldeira apresentaram valores mais negativos (mais tons azulados), em ambos os porta-enxertos, que em latada. Verificou-se também que com o uso de latada, o porta-enxerto IAC 766 contribuiu para menor valor de b* nas uvas ‘Isabel Precoce’ (Tabela 1). A acidez titulável da uva ‘Isabel Precoce’ não foi influenciada pelo sistema de condução ou porta-enxerto, apresentando valor médio de 0,65 g de ácido tartárico.100 g-1 (Tabela 2). Esse valor é adequado para a elaboração de suco, sendo recomendados valores inferiores a 0,9 g de ácido tartárico.100 g-1 para este fim. Conforme Ribeiro et al. (2012), as uvas ‘Isabel Precoce’ cultivadas sobre ‘IAC 572’, em condições tropicais, atingem acidez titulável em torno de 0,6 g de ácido tartárico.100 mL-1, resultado similar ao observado neste trabalho.175 Qualidade de Uva ‘Isabel Precoce’ sob Três Sistemas de Condução ...Tabela 2. Acidez titulável (AT), teor de sólidos solúveis (SS) e de açúcares solúveis totais (AST) de uvas ‘Isabel Precoce’ em diferentes sistemas de condução sobre diferentes porta-enxertos, em primeiro ciclo produtivo no Submédio do Vale do São Francisco.Características Sistema de conduçãoPorta-enxertoIAC-572 IAC-766AT (g ácido tartárico.100 mL-1)Latada 0,65 Aa 0,58 Aalira 0,69 Aa 0,64 AaEspaldeira 0,69 Aa 0,64 AaCV%  8,79SS (oBrix)Latada 22,9 Aab 22,2 Aalira 23,3 Aa 22,6 AaEspaldeira 21,6 Ab 22,0 AaCV%  4,01AST (g.100g-1)Latada 21,42 Aa 20,81 Aalira 21,00 Aa 21,52 AaEspaldeira 19,58 Aa 20,76 AaCV%  5,58Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey em até 5% de probabilidade de erro.Quanto ao teor de SS, não houve diferença significativa entre os sistemas de condução sobre o porta-enxerto IAC-766, diferentemente da resposta sobre o ‘IAC-572’, que resultou em maiores teores quando associado ao lira, em comparação à combinação com espaldeira (Tabela 2). Também foram observados elevados teores de açúcares solúveis totais nas uvas, sem que houvesse diferença significativa entre os sistemas de condução e os porta-enxertos (Tabela 2). Os teores de SS observados neste trabalho foram superiores aos relatados por Pedro Junior e Hernandes (2017), que citaram, nas safras de verão e inverno, 18,1-19,2 ºBrix na mesma cultivar, no Município de Loveira, SP. Ressalta-se que os resultados apresentados neste trabalho são oriundos do primeiro ciclo de produção, podendo sofrer variações em função dos sistemas de condução, porta-enxertos, idade da planta e condições climáticas em ciclos consecutivos.ConclusãoPara a videira ‘Isabel Precoce’, o uso de latada sobre o porta-enxerto IAC-766 mostrou potencial para agregar características desejáveis da qualidade do fruto voltado para a produção de suco, como maiores valores nos componentes de cor a* (tons vermelhos) e b* Anais da II Jornada de Integração da Pós-Graduação da Embrapa Semiárido176(tons azulados), maior massa de cacho, baixa resistência à força de compressão, menor acidez titulável e alto teor de sólidos solúveis e açúcares solúveis totais, no primeiro ciclo avaliado.ReferênciasABE, L. T.; MOTA, R. V. da; LAJOLO, F. M.; GENOVESE, M. I. Compostos fenólicos e capacidade antioxidante de cultivares de uvas Vitis labrusca L. e Vitis vinífera L. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 27, n. 2, p. 394-400, 2007.CAMARGO, U. A.; TONIETTO, J.; HOFFMANN, A. Progressos na Viticultura Brasileira. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, p. 144-149, 2011. Volume especial.KELLER, M. The science of grapevines: anatomy and phisiology. 2nd ed. Prosser: Academic Press, 2015. p. 509.NASCIMENTO, D. S. P.; AMORIM, M. D. de; CARVALHO, E. S. S. de; ALMEIDA, Y. M.; OLIVEIRA, W. P. de; LEAO, P. C. de S. PEREIRA, G. E.. BIASOTO, A. C. T. Influência do sistema de condução e porta-enxerto na composição físico-química de vinhos ‘Syrah’ produzidos no Submédio do Vale do São Francisco. In: JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA SEMIÁRIDO, 2015, Petrolina. Anais... Petrolina: Embrapa Semiárido, p. 303-310. 2015. 1 CD-ROM.PEDRO JUNIOR, M. J.; HERNANDES, J. L. Produtividade e qualidade de mosto da uva ‘Isabel Precoce’ em safras sequenciais de verão e inverno. Scientia Vitae, [São Roque], v. 5, n. 17, ago. 2017. Edição especial. Disponível em: <http://www.revistaifspsr.com/v5n17ano5.pdf>. Acesso em: 8 set. 2017.RIBEIRO, T. P.; LIMA, M. A. C.; ALVES, R. E. Maturação e qualidade de uvas para suco em condições tropicais, nos primeiros ciclos de produção. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 47, p. 1057-1065, 2012.SOARES, M.; WELTER, L.; KUSKOSKI, E. M.; GONZAGA, L.; FETT, R. Compostos fenólicos e atividade antioxidante da casca de uvas Niágara e Isabel. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 30, p. 59-64, 2008.

Qualidade de uva Isabel Precoce sob três sistemas de condução e dois porta-enxertos, em primeiro ciclo de produção.

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