BARETTA, D.

CORREA, J. C.

KLAUBERG FILHO, O.

MACCARI, A. P.

SEGAT, J. C.

SOUSA, J. P.

Portuguese

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  1 Reprodução de enquitreídeos em solos contaminados com dejeto líquido de suínos(1)   Ana Paula Maccari(2); Julia Corá Segat(3); Juliano Corulli Correa(4); José Paulo Sousa(5); Dilmar Baretta(6); Osmar Klauberg Filho(7)  (1) Parte da tese de Doutorado financiado pelo CNPq (Processo 444903/2014-3) e CAPES.  (2) Doutoranda em Ciência do Solo; Universidade do Estado de Santa Catarina; Lages-SC; E-mail: anamacc@hotmail.com; (3) Doutoranda em Ciência do Solo; Universidade do Estado de Santa Catarina; Lages-SC; (4) Pesquisador EMBRAPA Suínos e Aves; Concórdia-SC; (5) Professor da Universidade de Coimbra - Portugal; (6) Professor da Universidade do Estado de Santa Catarina; Chapecó - SC; (7) Professor da Universidade do Estado de Santa Catarina; Lages - SC.  RESUMO: O uso de dejeto de suínos como fertilizante do solo é uma alternativa de descarte, deste resíduo em áreas agrícolas. No entanto, são praticamente inexistentes os trabalhos que avaliam os efeitos da aplicação desse resíduo sobre a atividade reprodutiva de organismos do solo. Pensando nisso, o presente estudo objetiva avaliar o efeito da aplicação de doses de dejeto de suínos sobre o comportamento de enquitreídeos da espécie Enchytraeus crypticus, por meio de testes ecotoxicológicos de reprodução. O experimento foi montado sob delineamento inteiramente casualizado com cinco repetições. Os tratamentos consistiram em doses crescentes de dejetos de suínos de 0, 10, 15, 20, 35, 50, 100, 150 e 200 m3 ha-1 aplicadas em Nitossolo e Cambissolo, coletados na camada de 0-0,20 m, e Solo Artificial Tropical utilizado como referência. Os resultados mostram que houve redução na reprodução de E. crypticus a partir da dose de 10 m3 ha-1 para Cambissolo e de 35 m3 ha-1 para o Nitossolo.  Termos de indexação: Ecotoxicologia; Enchytraeus crypticus; Solos naturais.  INTRODUÇÃO  A adição de dejeto de suínos é uma prática comumente utilizada em função da capacidade deste de melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Entretanto, quando aplicados de maneira contínua nas mesmas áreas e em quantidades que excedem a capacidade de suporte do solo, esse pode se transformar em uma grande fonte poluidora do solo e mananciais. Aliado a isso tem-se o crescimento da suinocultura nas últimas décadas que contribui para o aumento da degradação dos recursos naturais e poluição ambiental devido ao fato desta atividade gerar um grande volume de dejetos (Perdomo, 2001).  A ecotoxicologia terrestre tornou-se uma importante ferramenta na avaliação de como determinadas substâncias afetam diferentes organismos e populações no solo, fornecendo subsídios para avaliar a qualidade de corpos receptores e proteger adequadamente a qualidade ambiental, por meio da associação das concentrações de contaminantes no meio e seu risco ecotoxicológico, complementando os mecanismos tradicionais do controle da poluição, como o caso de caracterizações químicas (Chapman, 2002).  Entre as avaliações padronizadas para o ambiente terrestre, os testes de ecotoxicidade aguda fornecem respostas rápidas, expressando o efeito letal nos indivíduos submetidos a agentes estressores severos aos organismos. Os testes de ecotoxicidade crônica tem o objetivo de avaliar efeitos subletais aos organismos, os quais normalmente verificam se o número de indivíduos gerados na primeira geração foi alterado (Segat et al., 2012). Dentre os organismos utilizados na ecotoxicologia terrestre a espécie de enquitreídeos Enchytraeus crypticus possui protocolos padronizados (ISO) para realização dos bioensaios. E tais organismos apresentam importantes vantagens para serem usados em testes ecotoxicológicos, pois além de serem sensíveis à presença de contaminantes e fáceis de manter criações em laboratório, tem elevada taxa de reprodução. Visto que a ecotoxicologia é usada para estudar o comportamento e as transformações de agentes tóxicos no ambiente, assim como seus efeitos e respostas sobre indivíduos, esse trabalho objetivou avaliar o efeito da aplicação de doses de dejeto de suínos sobre a reprodução de Enchytraeus crypticus.  MATERIAL E MÉTODOS  O experimento foi instalado no Laboratório de Solos na UDESC/CEO em Chapecó, SC. O delineamento foi inteiramente casualizado com cinco repetições. Foram coletadas amostras da camada de 0-0,2 m de profundidade de Cambissolo e Nitossolo sob área de Integração Lavoura-Pecuária.   2 As amostras foram secas em estufa a 25 oC e tamisados em peneiras de 2 mm para separação de resíduos vegetais e agregados de solo. Como solo artificial foi utilizado uma versão modificada por Garcia (2004) do OECD Artificial Soil (OECD, 2004). Esta versão, chamada Solo Artificial Tropical (SAT) sendo composta da mistura de areia industrial (fina), argila caulinítica e pó de casca de coco (moída e peneirada) na proporção de 7:2:1 (peso/peso), respectivamente. O pH do SAT foi corrigido para 6,0 + 0,5 com adição de CaCO3 e a umidade foi corrigida para 60% da capacidade de retenção de água de cada solo, calculadas de acordo com a ISO 15799 (ISO, 2003). Para avaliação de toxicidade crônica de E. crypticus as recomendações seguidas foram de acordo com a ISO 16387 (ISO, 2004). Para tanto, em recipientes plásticos com altura de 6,5 cm e diâmetro de 3,5 cm foram adicionados 30 g de solo (peso úmido). Cada unidade experimental recebeu 10 indivíduos. Semanalmente os recipientes foram abertos para promover trocas gasosas com o ambiente e a umidade foi corrigida pela diferença de peso dos recipientes. No início do teste e após 14 dias decorridos, os organismos foram alimentos com fermento biológico. Após 28 dias do início do teste foi realizada a avaliação do número de juvenis gerados, provenientes da geração F1. No desmonte dos ensaios adicionou-se o corante Rosa de Bengala diluído em álcool absoluto e realizou-se a contagem do número de organismos.  Os dados foram submetidos a análise de variância (ANOVA) e as médias comparadas pelo teste de Dunnett (p<0,05) por meio do software SAS 9.2 (SAS Institute, 2008).   RESULTADOS E DISCUSSÃO   Os resultados encontrados para enquitreídeos mostram diferença entre os dois solos avaliados. A figura 1A mostra que o Cambissolo apresentou efeito significativo já na primeira dose avaliada 10 m3 ha-1, sendo este valor menor que o encontrado para Nitossolo (Figura 1B) que apresentou efeito na dose de 35 m3 ha-1. Por consequência dos resultados encontrados, a grande diferença entre os solos também é percebida nos valores de EC50 calculados que foram 17,7 m3 ha-1 (IC. 10,8 – 24,5) para Cambissolo e 45,0 m3 ha-1 (IC. 30,1 – 59,8) para Nitossolo.   Na literatura são encontrados diversos trabalhos avaliando o efeito de metais sobre a sobrevivência, reprodução, bioacumulação e perfil de comunidades de enquitreídeos no solo (Sjögren et al., 1995; Tosza et al., 2010). Existem trabalhos que mostram um efeito aditivo na combinação de metais, como é o caso de Posthuma et al. (1997) que avaliaram os efeitos da mistura de Zn e Cu em enquitreídeos.   Também é possível perceber diferença entre os dois solos avaliados, sendo que o Cambissolo apresentou maiores efeitos que o Nitossolo. O fato de um solo possuir menor conteúdo de argila pode resultar em menor adsorção de determinados cátions metálicos nos minerais de argila, tornando-os mais disponíveis. Essa disponibilidade pode causar efeitos sobre o desenvolvimento ou reprodução dos organismos.  No caso específico da adição de dejeto de suínos no solo, já se sabe que em solos mais arenosos este manejo aumenta a disponibilidade dos metais, em comparação à mesma aplicação em solos mais argilosos (Scherer et al., 2010). Mattias et al. (2010) avaliaram a disponibilidade e acúmulo de Cu, Zn e Mn em Latossolo, Luvissolo e Cambissolo de Santa Catarina com sucessivas aplicações de dejeto de suínos e encontraram maior risco de contaminação ambiental no Cambissolo.  Apesar de diversos trabalhos avaliando a disponibilidade de metais no solo após a aplicação de dejeto líquido de suínos serem encontrados na literatura, não são encontrados trabalhos que apresentem o efeito do uso de biofertilizantes, como o dejeto líquido de suínos em enquitreídeos.  CONCLUSÕES   A presença de dejeto líquido de suínos causa efeitos deletérios sobre a reprodução de enquitreídeos (E. crypticus).   Existe diferença na capacidade de retenção do dejeto líquido de suíno entre o Cambissolo e o Nitossolo.  A toxicidade foi maior no Cambissolo quando comparado ao Nitossolo.  AGRADECIMENTOS  Os autores agradecem a Capes e CNPq (Processo: 444903/2014-3) pelo apoio financeiro.  REFERÊNCIAS  CHAPMAN, P. M. Integrating toxicology and ecology: putting the “eco” into ecotoxicology. Vancouver: Marine Pollution Bulletin, 2002. 15p.  ISO – INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. Soil quality – Effects of pollutants on Enchytraeidae (Enchytraeus sp.) – Determination of Effects on Reproduction and Survival. ISO 16387. Geneva, 2003.   3  ISO - INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. Soil quality - Guidance on the ecotoxicological characterization of soils and soil materials. ISO 15799, Geneva, Switzerland.  MATTIAS, J. L.; CERETTA, C. A.; NESI, C. N.; GIROTTO, E.; TRENTIN, E. E.; LOURENZI, C.R.;  & VIEIRA, R.C. Copper, zinc and manganese in soil of two watersheds in Santa Catarina with intensive use of pig slurry. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 54: 1445-1454, 2010.  OECD Organization for Economic Co-operation and Development Earthworm acute toxicity test. Paris, 2004. 9p. (OECD - Guideline for Testing of Chemicals, 207).  PERDOMO, C. C. & LIMA, G. J. M. M. Considerações sobre a Questão dos Dejetos e do Meio Ambiente. In: Suinocultura Intensiva: Produção, Manejo e Saúde de Rebanho. Brasília: EMBRAPA. 2001. p. 7-15.  POSTHUMA, L.; BAERSELMAN, R.; VAN VEEN, R. P. M.; &  DIRVEN-VAN BREEMEN, E. M. Single and joint toxic effects of copper and zinc on reproduction of Enchytraeus crypticus in relation to sorption of metals in soils. Ecotoxicology and Environmental Safety , 38: 108–121, 1997.  SAS INSTITUTE. SAS/STAT: user’s guide version 9.2 (software). Cary, 2008 . SCHERER, E. E.; NESI, C. N.; & MASSOTTI, Z. Atributos químicos do solo influenciados por sucessivas aplicações de dejetos suínos em áreas agrícolas de Santa Catarina. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 34:1375-1383, 2010.  SEGAT, J. C.; ALVES, P. R. L.; BARETTA, D.; BOTOLAZZO, A. J.; MESCOLOTTI, D.; BALDESIN, F.; & CARDOSO, E. J. B. N. Viabilidade do Uso de Solos Naturais em Testes Ecotoxicológicos Laboratoriais Padronizados, com Folsomia candida (Collembola). In: FertBio. Maceió, 2012. Anais. Maceió: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2012. p.17-21.  SJÖGREN, M.; AUGUSTSSON, A. & RUNDGREN, S. Dispersal and fragmentation of the Enchytraeid cognettia sphagnetorum in metal polluted soil. Pedobiologia,  207 – 218, 2005.  TOSZA, E.; DUMNICKA, E.; NIKLINSKA, M.; & ROZEN, A. Enchytraeid and earthworm communities along a pollution gradient near Olkusz (southern Poland). European Journal of Soil Biology, 218-224, 2010.              4        Figura 1 - Média de juvenis de Enchytraeus crypticus em Cambissolo (A) e Nitossolo (B) submetidos a doses crescentes de dejeto de suínos. *Diferença estatística significativa (p<0,05) pelo teste de Dunnett. (┬) Desvio padrão (n = 5).    

Reprodução de enquitreídeos em solos contaminados com dejeto líquido de suínos.

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