O perfil clínico com classificação das formas clínicas e a gravidade da doença de
Chagas foram avaliados em indivíduos sororreativos para o Trypanosoma cruzi
procedentes da mesorregião Oeste Potiguar. Neste estudo transversal foram
incluídos 186 indivíduos adultos, entre 23 a 78 anos de idade. Todos os
indivíduos foram submetidos à avaliação clínica, aplicado um questionário clínicoepidemiológico
e realizados eletrocardiograma de repouso, ecocardiograma
transtorácico, radiografia simples de tórax e contrastadas de esôfago e cólon. O
Holter foi realizado em 98 pacientes e aplicado escores de risco de acidente
vascular encefálico isquêmico e morte. A forma clínica indeterminada foi
detectada em 51,6% (96/186) dos pacientes, a cardíaca em 32,2% (60/186), a
digestiva em 8,1% (15/186) e a cardiodigestiva em 8,1% (15/186). Dos pacientes
com a forma clínica digestiva, 7,0% (13/186) apresentaram diferentes grupos de
megaesôfago (I a IV) e 12,9% (24/186) apresentaram megacólon de grau 1 a 3.
Destes, 29,2% (7/24) com ambos os órgãos afetados. As alterações
eletrocardiográficas foram observadas em 48,9% (91/186) dos pacientes e a
arritmia ventricular complexa presente em 41,8% (41/98). Desses pacientes,
10,2% (19/186) apresentaram cardiomegalia, o aneurisma apical foi diagnosticado
em 10,8% (20/186) e, as alterações da contratilidade miocárdica segmentar do
ventrículo esquerdo em 33,9% (63/186). Em 7,5% (14/186) dos pacientes foi
detectada insuficiência cardíaca com classes funcionais que variam de I a IV. A
classificação da insuficiência cardíaca por estádios demonstrou que 36,4%
(24/66), 30,3% (20/66), 15,2% (10/66), 13,6% (9/66) e 4,5% (3/66) dos pacientes
apresentaram estágios A, B1, B2, C e D, respectivamente. O escore de
estratificação de risco de acidente vascular encefálico isquêmico identificou 80,6%
(150/186) dos pacientes em baixo risco, 15,6% (29/186) em moderado e 3,8%
(7/186) em alto risco. O escore de risco de morte foi aplicado em 84 pacientes e
69,0% (58/84) mostraram baixo risco, 25,0% (21/84) intermediário e 6,0% (5/84)
alto risco. Os resultados demonstraram a existência das principais formas clínicas
da doença de Chagas em diferentes estágios de evolução, inclusive o registro da
forma digestiva isolada; observou-se que um quarto dos pacientes com a forma
indeterminada deveria ser considerado cardiopatas subclínicos ou pelo menos,
pacientes de maior potencial evolutivo para outras formas clínicas ou fase pré-
clínica, e confirmou-se a existência de correlação positiva entre o escore de risco de morte e seus principais determinantes, insuficiência cardíaca, morte súbita e
acidente vascular encefálico isquêmico, oferecendo mais um elemento para a
tomada de condutas frente ao chagásico cardiopata