Dissertação de Mestrado apresentada ao ISPA - Instituto UniversitárioA par das mudanças sociais que têm vindo a ocorrer (declínio do patriarcado, controle
da natalidade, inserção da mulher no mercado de trabalho, aumento das separações, maior
reconhecimento dos casais homossexuais, etc. - Rodriguez & Paiva, 2009) a familia
conservadora é substituida gradualmente, a partir do séc. XIX na Europa, pelas familias não
tradicionais (Singly, 2014). Dentro da grande variabilidade das organizações familiares a
presente Dissertação focar-se-á nas famílias homoparentais. Em Portugal, as estimativas
apontam ainda para um número bastante reduzido (Costa, Pereira & Leal, 2012), o que se
repercute na escassa literatura acerca destas famílias modernas e em particular sobre as suas
crianças. O que iremos observar de diferente no mundo interno destas crianças? Como serão
as representações das imagos parentais? Que Complexo de Édipo? Que triangulações estarão
por descobrir? Embora sejam suscitadas inúmeras questões e não podendo incidir em todas,
pretende-se explorar a triangulação (se ocorre e como se movimenta a criança na tríade), os
processos de identificação e os objetos de desejo de dois irmãos (uma menina e um menino)
numa família constituída por duas mães.
De um modo geral, constatou-se que a menina se identificou ao feminino e o menino
apresentou alguma instabilidade nas identificações. Ambas as crianças apresentaram uma boa
diferenciação entre o mundo interno e o mundo externo, não se desorganizaram perante a
angústia pré-genital, acederam ao afeto depressivo, acederam às relações triangulares e
abordaram a problemática edipiana. O menino acedeu à triangulação edipiana clássica (mãepai-
filho) e manifestou o fantasma do parricídio no contexto de rivalidade em relação à figura
masculina (incluindo sentimentos de culpabilidade). Surgiu também o fantasma do matricídio
para ambas as crianças. Além disso foi também possível observar e refletir acerca de duas
situações: a problemática da diferença dentro da igualdade (duas mães e uma filha) versus a
problemática da identificação dentro da diferença (duas mães e um filho).
Considera-se, por fim, a presente investigação como um “abrir portas” para os demais
estudos que necessitam de ser realizados na área da psicologia clinica (vertente psicanalítica)
relativamente às famílias homoparentais e os seus filhos. De facto, as teorias devem adaptarse
às mudanças ocorridas na sociedade e não limitar a compreensão acerca do novo e
diferente