São os adolescentes e jovens o objecto do nosso trabalho e eles têm constituído
ao longo dos anos o centro do nosso interesse. A adolescência é uma fase de
desenvolvimento que representa um período de transição entre as vinculações da
infância, estabelecidas fundamentalmente no contexto da relação pais-filho, e as
ligações afectivas adultas que extravasam as relações familiares (Soares, 1992). É por
isso que o adolescente, não sendo já criança, se surpreende a si próprio e aos que lhe
estão mais próximos ao manifestar afectos, atitudes e comportamentos da criança que já
não é, ao mesmo tempo que se revela capaz de executar actividades do adulto que ainda
não é.
Segundo a perspectiva psicanalítica, algumas das características fundamentais
da adolescência traduzem-se, por um lado, na reactivação do narcisismo e dos conflitos
típicos do Complexo de Édipo e por outro, na necessidade de o jovem construir a sua individualidade, passando a percepcionar os pais como entidades diferentes dos
idealizados no decorrer da infância.
Assim, o adolescente procura o apoio parental, mas simultaneamente procura
libertar-se da vigilância parental, isto é, vive uma nova dinâmica relacional entre as
necessidades de vinculação e de exploração ou autonomia, cujo processo é muitas vezes
vivido pelos pais e pelos filhos, de uma forma ambivalente. Os pais, por um lado,
desejam a independência dos seus filhos e que estes tomem as suas decisões; por outro
lado, temem as consequências dessa independência. Os filhos, por sua vez, desejam
afastar-se dos pais, criando um espaço de privacidade, mas de um modo ambivalente,
pois temem a autonomia concedida e o fascínio da liberdade. E é neste contexto da
relação pais-filhos que surge o interesse por este estudo.
O nosso objectivo foi precisamente identificar a percepção dos
adolescentes/jovens sobre as interacções parentais no sentido de reflectirmos sobre a sua
expressão de autonomia ou individualidade ou expressão de ligação. Para atingir este
nosso objectivo tivemos necessidade de construir uma escala para o efeito