Cavalcante, Luiz Ricardo

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163o&s - v.12 - n.34 - Julho/Setembro - 2005Gestão de Redes de Cooperação Interempresariais: em busca de novos espaços para o aprendizado e a inovaçãoOTEIXEIRA, Francisco (org.). Gestão de Redes de Cooperação Interempresariais:em busca de novos espaços para o aprendizado e a inovação.Salvador: Casa da Qualidade, 2005.por Luiz Ricardo Cavalcante1trabalho é uma coletânea de seis artigos técnicos que discutem a formaçãoe gestão de redes de cooperação com base nos conceitos de aprendizadoe inovação. O argumento fundamental que permeia a coletânea é que, emum contexto marcado pela difusão das tecnologias da informação e comuni-cação, as redes de cooperação seriam o principal instrumento de transferência deconhecimento. De uma forma geral, os autores reconhecem a ênfase crescenteque a produção acadêmica e os formuladores de políticas públicas têm dado àquestão, o que, por si, já justificaria a edição desse volume. Contudo, seu objetivoé mais ambicioso: propõe um olhar crítico sobre as redes de cooperação e sobreas possibilidades e barreiras que se colocam para sua formação. Neste sentido, ainiciativa representa um passo adiante e revela o amadurecimento da discussãosobre o tema na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e, em particular, no Núcleode Pós-Graduação em Administração (NPGA).Do ponto de vista teórico, os textos que compõem a coletânea apóiam-se, fundamentalmente, em conceitos da Teoria das Organizações e da Econo-mia Industrial. O conceito de redes como instrumento de aprendizado – quepermeia toda a coletânea – está claramente apoiado na produção teórica dosautores neo-schumpeterianos. Trata-se, evidentemente, de uma opçãoepistemológica – de resto, convergente com as linhas de pesquisa em econo-mia da tecnologia as quais vêm sendo implementadas no NPGA – que reconhe-ce a complexidade das redes interempresariais como objeto de estudo e a im-portância de aspectos sociais, técnicos e econômicos em sua formação e ges-tão. Esta não é, evidentemente, a única alternativa possível. Abordagens teó-ricas alternativas incluem o emprego extensivo da teoria dos jogos, por exem-plo, na determinação da propensão ou não dos agentes a articularem-se emrede. Contudo, a opção pelo uso de um referencial teórico que privilegia a evo-lução dos sistemas econômicos e sociais permite que as redes de cooperaçãosejam tratadas como objeto, e não somente como instrumento de análise. Emoutras palavras: não se trata apenas de investigar por que os agentes optari-am ou não por se articular em rede, mas de analisar sua formação e gestão, opapel das organizações que a compõem e, em particular, o papel das institui-ções que se propõem a articular e gerir as novas redes.Um outro aspecto que permeia a coletânea é o reconhecimento da impor-tância das redes de cooperação como instrumento de política pública de aumen-to da competitividade, em especial das micro, pequenas e médias empresas. Apremissa fundamental é que as redes de cooperação, ao contribuírem para adifusão da inovação e o aprendizado, implicariam no aumento da competitividadedas empresas que as compõem. Porém, barreiras à difusão da informação, cus-tos de transação e aspectos institucionais, por exemplo, podem impedir que asredes se formem de maneira espontânea, sendo necessária a presença de umagente indutor ou, nos termos empregados no livro, de uma Organização deSuporte. Trata-se, em geral, de instituições públicas e parapúblicas como Minis-térios e Secretarias de Estado e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (SEBRAE). Na verdade, estes movimentos não se restringem aoBrasil; instituições multilaterais congêneres, como a United Nations IndustrialDevelopment Organization (UNIDO), também já encamparam a proposta de fo-mentar a formação de clusters e de redes de pequenas e médias empresas como1 Assessor Especial da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (SECTI).o&s - v.12 - n.34 - Julho/Setembro - 2005164Luiz Ricardo Cavalcanteestratégia de desenvolvimento econômico. Do ponto de vista destas institui-ções, a opção pelo apoio às redes de cooperação – em oposição à assistênciadirigida à empresa individual – seria um modelo de atuação menos paternalista epermitiria ganhos de escala nas ações empreendidas.O livro está estruturado em seis artigos independentes, porém articulados:são dois trabalhos teóricos, três empíricos e um prescritivo. No primeiro trabalhoteórico, discutem-se os conceitos de aprendizado organizacional e redes de fir-mas para subsidiar a discussão do conceito de redes de aprendizado. O trabalhodestaca a possibilidade de se desenvolverem competências dinâmicas por meiodo aprendizado adquirido no interior de uma rede de firmas. As diferentes aborda-gens teóricas que podem apoiar o estudo das redes de cooperaçãointerempresariais são o objeto de análise do segundo trabalho. A autora segmen-ta as abordagens epistemológicas sobre as redes de cooperação em técnico-eco-nômica e fenomenológica. Na verdade, trata-se, grosso modo, de analisar as re-des segundo uma ótica funcionalista (instrumentos de redução de custos de tran-sação, por exemplo) ou não-funcionalista, buscando agregar fatores políticos, his-tóricos, culturais e sociais como fundamentos de análise.Os trabalhos empíricos correspondem a dois estudos de caso e a uma aná-lise de uma amostra composta por 24 redes de cooperação. O primeiro estudo decaso trata da formação de uma rede em sistemas complexos de produção. O obje-to de análise escolhido pelos autores é a Maxpetro, constituída a partir de umainiciativa da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP) e que se pro-punha a disseminar o aprendizado entre os participantes da cadeia de suprimen-to da indústria de petróleo no país. Trata-se de um caso singular de uma rede quese poderia chamar de “centro-radial”, em virtude do papel central desempenhadopela Petrobrás. As dificuldades que se interpuseram para o funcionamento darede – fundamentalmente associadas aos critérios de governança que poderiamser adotados em uma rede marcada pela forte heterogeneidade das empresasque a compõem – parecem estar conduzindo o Governo Federal a tornar maisimpositiva a participação na iniciativa, que passaria a ser implementada pela em-presa-âncora. A questão que se coloca, contudo, é em que medida a estruturaresultante não se assemelhará mais a um modelo de verticalização do que a umarede de cooperação descrita nos livros-texto.A rede de hospitais, objeto do quarto capítulo, apóia-se basicamente nacriação de um espaço (seja físico ou virtual) que permita o compartilhamento deexperiências e a difusão de tecnologias. Trata-se, assim, de uma iniciativa funda-mentada no conceito de aprendizado em uma rede social de colaboração. Maisuma vez, o requisito de uma instituição-âncora (desta vez, o Ministério da Saúde)colocou-se como questão central para o sucesso da iniciativa. Na verdade, contu-do, os obstáculos, neste caso, parecem ter estado associados ao reduzido retor-no percebido pelos participantes. Nos termos dos autores, “talvez o fato de seruma rede social, cujo pacto fundador estava baseado no princípio da solidarieda-de, tenha se constituído no principal obstáculo ao seu funcionamento”.A necessidade de se perceberem retornos claros e a prazo relativamentecurto, como um requisito para garantir a adesão dos participantes à rede, é reafir-mada no quinto capítulo. De fato, a análise de 24 redes de cooperaçãointerempresarial apresentada sugere que questões como redução de custos es-tão mais presentes nas ações concretas das redes analisadas do que propria-mente o aprendizado. Em outras palavras, embora pratiquem uma retórica deestímulo ao aprendizado, as redes desenvolvem poucas ações concretas nestesentido. Uma outra conclusão importante, que se extrai da análise apresentada,diz respeito às Organizações de Suporte. Embora percebidas como fundamentaisdurante a fase de estruturação das redes, estas organizações têm um papel re-duzido após a rede iniciar suas operações. A ausência das Organizações de Su-porte durante a fase de operação das redes é percebida como um obstáculo parasua continuidade. Esta constatação não deixa de ter um aspecto paradoxal: po-der-se-ia esperar que, uma vez constituídas, as redes pudessem dispensar as165o&s - v.12 - n.34 - Julho/Setembro - 2005Gestão de Redes de Cooperação Interempresariais: em busca de novos espaços para o aprendizado e a inovaçãoOrganizações de Suporte e se auto-sustentarem com base nos benefícios decor-rentes do aprendizado e do associativismo.Finalmente, o último trabalho propõe uma metodologia de construção e ges-tão de redes de cooperação. Alinhado à tradição evolucionista, o autor reconhecea necessidade de se levar em consideração o contexto no qual se pretende criar arede para subsidiar a proposição da metodologia. Esta percepção o leva a propor“uma espécie de metametodologia que renuncie às prescrições de detalhe e àlinearidade de etapas, para preservar a especificidade dos conceitos, acolher adiversidade de interesses e encaminhar o difícil e promissor processo de localiza-ção e gestão dos pontos de convergência e de sinergia entre os atores envolvi-dos”. O trabalho reafirma a percepção de que há circunstâncias em que as organi-zações não conseguem sistematizar as informações, de modo que as redes nãosurgem de forma espontânea, e avança no sentido de propor mecanismos degovernança e de avaliação da sustentabilidade das iniciativas. Trata-se de umaquestão importante e pouco explorada, uma vez que a literatura ainda não con-frontou os benefícios da criação das redes com os custos sociais de manutençãodas Organizações de Suporte.O fato é que, ao se examinar o conjunto dos artigos que compõem a coletâ-nea, percebe-se que ao lado das oportunidades que surgem a partir da formaçãode redes de cooperação, um conjunto de obstáculos se coloca. Esta percepção éreafirmada tanto nos tratamentos mais conceituais como nos trabalhos empíricos.Embora do ponto de vista da formulação de políticas públicas estas conclusõesdespertem inquietações, a verdade é que, em uma perspectiva acadêmica, elasparecem convergir para o propósito estabelecido para a publicação: em lugar deuma apologia das redes de cooperação, uma análise das possibilidades e barrei-ras que se colocam para sua formação.

TEIXEIRA, Francisco (org.). Gestão de Redes de Cooperação Interempresariais: em busca de novos espaços para o aprendizado e a inovação. Salvador: Casa da Qualidade, 2005.

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TEIXEIRA, Francisco (org.). Gestão de Redes de Cooperação Interempresariais: em busca de novos espaços para o aprendizado e a inovação. Salvador: Casa da Qualidade, 2005.

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