Fernandes, Felipe Bruno Martins

Pinheiro, Clarice Costa

Sardenberg, Cecilia Maria Bacellar

Souza, Ângela Maria Freire de Lima e

Tavares, Márcia Santana

Portuguese

Portal de Periódicos da UFBA

  Vol.2, N.3  Set. - Dez. 2014  •  www.feminismos.neim.ufba.br                1 APRESENTAÇÃO  Com este número da Revista Feminismos, encerramos nosso segundo ano de publicação, um ano que foi, para nós, muito difícil de fechar. Além de perdermos a Professora Ana Alice Alcantara Costa, nossa colega, companheira e editora da Revista, o que nos causou profunda dor, enfrentamos, também, sérios problemas decorrentes da escassez de verbas que assola a Universidade Federal da Bahia, prejudicando o cumprimento do calendário proposto. Mas nosso empenho e determinação em levar adiante o projeto da Feminismos permanecem imbatíveis. E acreditamos que vocês, leitoras e leitores da Revista, ao se debruçarem sobre os artigos e demais seções incluídas neste número, concordarão que nossos esforços foram bem empregados e são bem vindos. Neste número, temos na capa uma pintura em bico de pena da artista Edsoleda Santos, livremente inspirada em uma lenda contada pelo etnólogo Pierre Verger em seu livro Orixás. De acordo com Edsoleda, a obra representa o momento em que os orixás chegaram à Terra e organizaram reuniões das quais as mulheres não poderiam participar. Oxum se revolta, ao ser colocada de lado e impedida, pelos homens, de participar das deliberações. Para se vingar da exclusão sofrida, Oxum torna todas as mulheres estéreis, impedindo que as deliberações dos deuses fossem satisfeitas. Quando perceberam que sem o poder da fecundidade de Oxum nada poderia dar certo, os orixás rogaram a Oxum que participasse das decisões. Na seleção dos trabalhos que integram a seção “Artigos”, buscamos uma diversidade de temas, ao tempo em que também pensamos em trazer outros trabalhos que contribuíssem na linha de “Gênero e Ciências”, objeto do dossiê organizado por Ângela Maria Freire de Lima e Souza, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo ao qual nossa revista está vinculada. Seguindo nessa direção, o primeiro artigo, “Maria Theresa de Medeiros Pacheco: notas biográficas sobre a primeira médica legista do Brasil”, de autoria de Sabrina Guerra e Lina Maria Aras, traz uma contribuição para os estudos sobre “Mulheres Cientistas”, enveredando sobre a vida de uma ilustre cidadã alagoana que, na Bahia, como médica legista e primeira mulher responsável pela cadeira de Medicina Legal, na Faculdade de Medicina da Bahia – e primeira mulher, também, a assumir a direção de um Instituto Médico Legal no país –, abriu caminho para as mulheres em uma profissão antes exclusivamente masculina. Já o artigo de Rosa Maria Blanca, “El bordado en lo cotidiano y en el arte contemporáneo: ¿práctica emergente o tradicional?”, se volta para práticas tradicionalmente femininas, as práticas do bordado, trazendo, porém, uma nova abordagem para esta velha atividade – uma atividade que, segundo a autora, “[...] atravessa séculos de transições econômicas, de sistemas tradicionais a sistemas modernos e capitalistas, de técnicas artísticas tradicionais a linguagens de arte contemporâneos, configurando-se atualmente como um ato feminino de resistência”. Em seu artigo, Rosa Blanca faz uso de uma perspectiva de gênero para entender esta prática, vendo-a não apenas como uma atividade estética e artística, mas, também, como relevante na produção da subjetividade e na construção da autonomia feminina. Uma abordagem diferente, inovadora, também é trazida por Isadora Vier Machado em seu artigo sobre a Lei Maria da Penha, intitulado: “Para além da judicialização: uma leitura da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) em três dimensões”. A proposta da autora é fazer uma releitura desta importante legislação para o enfrentamento da violência contra mulheres, chamando a atenção “para o conjunto de dimensões que compõem essa lei”, além da sua proposta criminalizante, sem, contudo, menosprezar esta dimensão, indispensável na luta contra a impunidade que caracterizou a atitude da sociedade brasileira perante este tipo de violência. O artigo, “Significados e práticas preventivas do câncer do colo do útero entre mulheres de bairros populares de Salvador, Bahia: algumas contribuições da perspectiva geracional”, de Ana María Rico, é mais uma contribuição inovadora para os estudos de gênero, ao elaborar uma análise das políticas de saúde reprodutiva, na Bahia, a partir de um olhar que costura gênero, geração e classe social. A análise oferecida formula, ainda, uma relevante crítica à concepção do ser   Vol.2, N.3  Set. - Dez. 2014  •  www.feminismos.neim.ufba.br                2 “mulher” na qual se baseiam as políticas de saúde preventiva voltadas para a população feminina, ressaltando que, por se concentrarem, primordialmente, na função reprodutiva da mulher, “tendem a negligenciar as mulheres de maior idade, que são justamente aquelas com maior risco de adoecer”.   Para fechar nossa seção de artigos, trazemos as reflexões de Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik sobre “A participação das mulheres na construção do conhecimento histórico”. Nesse artigo, a autora elabora uma revisão das abordagens teórico-metodológicas de autoras inglesas e norte-americanas, no que se refere à questão da escrita histórica e a como a relação mulheres e história é pensada. Traz, assim, uma relevante contribuição para pensarmos o campo sendo construído por “Mulheres Historiadoras”, que vem descentralizando o sujeito do conhecimento histórico, antes pensado sempre como masculino. Este número traz, na secção Entrevista, uma das mais importantes cientistas brasileiras: a Dra. Márcia Cristina Bernardes Barbosa; física de formação e feminista engajada internacionalmente na luta por mais mulheres na Ciência. Marcia Barbosa articula com maestria essas duas vertentes, conforme se pode verificar com o registro de dois dos seus prêmios internacionais: por seu trabalho em anomalias dinâmicas da água, ganhou o Prêmio Loreal e Unesco de Mulheres nas Ciências Físicas e, por sua destacada atuação em questões de gênero na ciência, ganhou a Nicholson Medal, concedida pela American Physical Society. A entrevista evidencia o caráter forte e determinado desta cientista feminista (ou seria feminista cientista?), um exemplo a ser divulgado e seguido por jovens que se iniciam na carreira científica. A partir da proposta de contribuir para a reflexão teórica sobre a temática Gênero e Mulheres nas Ciências, as editoras reuniram um excelente grupo de autoras nacionais e de outros países em um dossiê – com artigos de Londa Schiebinger, Diana Maffia, Hildete Pereira de Mello, Jaqueline Leta e Ângela Maria Freire de Lima e Souza – que enriquece a discussão, agregando novos dados empíricos e insights teóricos ao campo de estudo que tem ocupado um espaço cada vez maior nos meios acadêmicos, não sem encontrar resistências, mas sempre provocando e desafiando a História e a Filosofia da  Ciência, áreas que, durante muito tempo, resistiram às incursões feministas sobre o papel das mulheres na história da construção do conhecimento. Esperamos que este dossiê seja útil para pesquisadoras que se dedicam a analisar as relações de gênero nos espaços científicos e acadêmicos e que também possa atrair novas pesquisadoras, com vistas à ampliação das perspectivas de análise do mundo androcêntrico da ciência, especialmente o das ciências naturais. A secção “Artes de Mulher” traz, neste número, as artes de Edsoleda Santos, artista baiana que celebra este ano 50 anos de vida artística, aqui apresentada por Nanci Novais, Diretora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia.  Já as resenhas incluídas neste número trazem as colaborações de Luiz Carlos Souza, Francisco Andrade e Elizeu Cruz e suas leituras de publicações recentes.  Alertamos, ainda, que, devido ao atraso na publicação deste número, ele sai sem notícias. Esperamos que, no próximo, tenhamos apenas notícias boas e promissoras para repassar a vocês.   Saudações feministas,  Equipe Editorial da Feminismos: Ângela Maria Freire de Lima e Souza, Cecilia Maria Bacellar Sardenberg, Clarice Costa Pinheiro, Felipe Bruno Martins Fernandes e Márcia Santana Tavares    Vol.2, N.3  Set. - Dez. 2014  •  www.feminismos.neim.ufba.br                3  

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