research

Emissões de carbono do solo decorrentes de utilização agrícola de resíduos orgânicos

Abstract

O aquecimento global promovido pelo aumento da concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera, tais como o dióxido de carbono (CO2) ou o metano (CH4), tem suscitado as maiores preocupações. Entre as medidas de mitigação surgidas ao abrigo do Protocolo de Kyoto, foi proposto o aumento do potencial de consumo de C por parte dos solos agrícolas, nomeadamente através da incorporação de resíduos orgânicos. O solo pode atuar como destino ou fonte de carbono atmosférico, na forma de CO2 ou CH4, sendo escassa a informação disponível sobre o efeito da fertilização nas emissões in situ destes dois gases em ecossistemas agrícolas, nomeadamente para condições mediterrânicas. Durante dois anos foram avaliadas na região de Castelo Branco, as emissões de CO2 e CH4 quando se aplicaram ao solo adubos minerais azotados e/ou diferentes resíduos orgânicos, numa sucessão de culturas milho-aveia, para produção de forragem. Os resíduos orgânicos utilizados foram o compostado de resíduos sólidos urbanos e as lamas de depuração urbanas, aplicados de forma repartida pelas duas culturas (RSU e Ldep, respetivamente) ou só à sementeira da cultura de Primavera-Verão (RSU-P e Ldep-P, respetivamente), e o chorume de origem bovina (Ch), incorporado à sementeira de ambas as culturas. Considerou-se ainda a prática de uma adubação tradicional (Adtrad) e a não aplicação de qualquer fertilizante (Controlo). O total de azoto doseado foi igual em todos os tratamentos com fertilização (aveia 80 Kg N ha-1; milho 170 kg N ha-1). A medição das emissões (em 165 dias) foi feita com recurso a câmaras estáticas de policloreto de vinilo (PVC) e as concentrações dos dois gases foram determinadas usando um analisador de gases foto-acústico de infravermelhos. Em cada dia de medição foram feitas amostragens ao fecho das câmaras (t0) e uma hora depois (t1), tendo os fluxos sido calculados com base nas diferenças de concentração entre t1 e t0. No primeiro ano o Outono foi chuvoso e no Verão foram registadas temperaturas muito elevadas, o que favoreceu a emissão de C por parte do solo, nomeadamente na forma de CO2. Neste ano não se registaram diferenças significativas nas perdas totais de C (C-CO2 + C-CH4) medidas em Controlo e Adtrad (cerca de 6,0 t C ha-1 ano-1) e os valores mais altos ocorreram em RSU-P e Ldep (próximos de 8,0 t C ha-1 ano-1, respetivamente). Para avaliação da eficiência dos diferentes sistemas de fertilização em termos de perdas de C a partir do solo, foram calculadas as perdas percentuais de C acumuladas aparentes relativamente ao C aplicado e determinadas as emissões de C por unidade de matéria seca produzida. Constatou-se que a prática da adubação azotada tradicional tenderá a contribuir mais para o aumento do teor de C no solo do que a não fertilização, e que uma utilização criteriosa de resíduos orgânicos na fertilização de culturas é suscetível de contribuir para o sequestro de C no solo. Como práticas mais aconselháveis recomendar-se-ia a aplicação de chorume, e sobretudo de lamas de depuração, à primavera e, a utilização de compostado de resíduos sólidos urbanos em simultâneo com adubos minerais

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