A utilização crescente da fórmula sociedade civil
tem sido escassamente acompanhada de uma
reflexão de fundo sobre a origem, natureza e
alcance da respectiva realidade e conceito. O
presente artigo mostra a emergência do tema
como paralela à construção seiscentista dos
símbolos do estado moderno por Suarez, Locke,
Grócio e Althusius, com importantes matizes
resultantes de escolas divergentes de filosofia
política. Argumenta-se que, em confronto com
o modelo da tábua rasa e do contrato social, a
tradição consistente do duplo pacto social e
político tem vindo a ser adoptada por tendências
e autores tão diversos como Walzer, Novak,
Havel, Ferry, Renaut, Manent, e Oakeshott, entre
outros. Apesar de diferentes conceptualizações
da sociedade civil ocidental na América
e nos Estados Europeus, esta tendência
corresponde ao robustecimento mundial da
sociedade civil como rede de instituições de
origem privada e de finalidade pública. Tendo
em consideração as pesquisas de Robert Bellah
e da sua equipa em Habits of the Heart, o artigo
conclui com uma exortação de que as questões
abstractas sobre a sociedade civil merecem um
tratamento prospectivo em Portugal, agrupando
as instituições segundo uma classificação referida
como dos quatro C’s: cuidados, cultura,
capital e cidadania