Nesta tese da especialidade de Hidrogeologia, é apresentado um primeiro
levantamento vulcano-estratigráfico da ilha da Madeira. Os trabalhos de campo
permitiram definir, até agora, sete unidades geológicas principais, descritas da mais
antiga para a mais recente:
1- Complexo Vulcânico Antigo (CA)
2- Calcários Marinhos dos Lameiros - S. Vicente (CM)
3- Depósito Conglomerático-Brechóide (CB)
4- Complexo Vulcânico Principal (CP)
5- Complexo Vulcânico S. Roque/Paul (SRP)
6- Episódios Vulcânicos Recentes (VR)
7- Depósitos de Vertente (dv), Fajãs (fj), Quebradas (q), Depósitos de Enxurrada
Recentes (dr), Areias de Praia (ap), Dunas Fósseis (df), Terraços (t), e Aluviões (a)
A caracterização climática da ilha da Madeira foi feita com base nos dados
recolhidos em 27 pontos de observação climatológicos, dos quais 14 são estações
meteorológicas e 13 são postos udométricos, o que representa uma densidade de 1
ponto de observação/27 km2. Constatou-se que a variação da precipitação com a
altitude não era linear e dependia da orientação das vertentes.
Efectuou-se o balanço hídrico sequencial diário, com base nos valores de
precipitação média diária, registados no Paul da Serra, durante os últimos 15 anos
hidrológicos.
Pretendeu-se quantificar a precipitação oculta na vegetação típica da ilha da
Madeira, de modo a poder avaliar a contribuição daquele tipo de precipitação para
os recursos hídricos subterrâneos, e, ainda, determinar qual o potencial daquele
recurso natural, como contribuição importante às fontes tradicionais de abastecimento de água à ilha. Para o efeito, procedemos a dois tipos principais de
medição: medição directamente sob a vegetação de altitude da Madeira, o urzal, que
se desenvolve entre os 1200 e os 1600 m de altitude, e construção de aparelhos
constituídos por obstáculos artificiais, de modo a interceptarem as gotículas de água
contidas no nevoeiro. Pela sua importância, os resultados obtidos justificam o
desenvolvimento futuro deste estudo.
A caracterização hidrodinâmica das formações da ilha da Madeira baseou-se nas
observações feitas no interior das galerias e túneis em escavação, na análise dos
registos de caudais de galerias e nascentes e na interpretação de ensaios de
bombeamento dos furos de captação. Os dados evidenciam a grande
heterogeneidade e anisotropia características do meio vulcânico. As
transmissividades vão desde 11 m2/d até 25 766 m2/d.
A caracterização hidrogeoquímica permitiu identificar um grupo de 5 águas termais,
emergentes em falhas, no Complexo Antigo, com características muito próprias,
bastante distintas das restantes, que representam, quer em quantidade, quer em
volume de caudais captados, a grande maioria das águas da ilha da Madeira. O
principal fenómeno mineralizador das águas é a hidrólise de minerais silicatados,
verificando-se, nas águas dos furos, nas das nascentes de altitude e nas situadas
próximo do litoral, o efeito da contaminação de sais de origem marinha.
A partir dos dados hidrogeológicos obtidos, foi possível elaborar um modelo
conceptual de funcionamento hidrogeológico para a ilha da Madeira, que, apesar de
possuir alguns elementos comuns, é, no seu conjunto, diferente dos modelos
conhecidos para outras ilhas vulcânicas, nomeadamente, Canárias, Reunião, Havai e
Polinésia Francesa