p. 103-111Até agora, a Filosofia tem sido mantida distante da
criança e, dependendo da abordagem pedagógica e
antropológica que fizermos, ela deveria mesmo estar
afastada. O problema não é nada simples: para alguns, a
racionalidade necessária à elaboração do pensamento
filosófico ainda não estaria presente (pelo menos nas
primeiras fases da infância), enquanto que, para outros,
a capacidade de indagação, questionamento e perplexidade,
(que constitui a ferramenta principal da Filosofia)
se mostra com toda a espontaneidade precisamente na
criança.
Nas últimas décadas, o programa de Filosofia para
Crianças, proposto pelo norte-americano Matthew Lipman
e hoje atraindo o interesse da UNESCO e da
UNICEF, tem mostrado a possibilidade e a necessidade
de tal prática.
Partindo do pressuposto, que nenhum acto pedagógico
pode ser concebido sem uma finalidade ética (muito
menos na Filosofia), um programa de Filosofia para
Crianças não pode ser desprovido de eticidade. Para Lipman,
o próprio desenvolvimento de uma Comunidade
de Investigação, criada no âmbito do seu método de filosofar
com as crianças, é uma proposta ética, promotora
da capacidade de cooperação e interlocução tolerante
entre os membros desta comunidade. E mesmo fora do
contexto das ideias lipmanianas, a interdisciplinaridade,
que hoje se reconhece como indispensável, permite
estabelecer pontes entre Ética e Filosofia, já naturalmente
existentes.
Neste contexto, a nossa proposta consiste em evidenciar
a possibilidade de contemplar, no 1º Ciclo, uma metodologia
“filosófica”