A literatura na escola: estatuto, funçães e formas de legitimação

Abstract

A literatura, objecto complexo sujeito a apropriações de natureza diversa, poderá considerar-se como uma das muitas componentes que integram a realidade escolar, no âmbito e no espaço disciplinares do Português. Contudo, pela sua própria natureza, trata-se de um objecto cuja apropriação pelo campo da educação se revela algo delicada. Por um lado, tal como em muitas outras situações e em relação a outros objectos introduzidos no campo educativo, o peso dos contextos primários de produção do discurso, nomeadamente o campo dos estudos literários, bem como a transposição teórica de modelos e categorias desse e de outros campos para o campo pedagógico, motiva uma reflexão não isenta de contradições. Convirá então clarificar que se trata de um trabalho inscrito no campo disciplinar da Didáctica do Português e, no quadro desta, na Didáctica da Literatura. Reflectiremos igualmente sobre o objecto literatura, no sentido de podermos caracterizá-lo enquanto susceptível de se converter num objecto diferente pela sua inserção no contexto escolar. A literatura e a literatura na escola seriam duas realidades diferentes e seria esta última o objecto do presente texto. Para tal, teríamos de considerar a existência de formas de legitimação da existência da literatura na escola. Assim, e partindo do modelo de discurso pedagógico apresentado por Basil Bernstein, considerámos os textos programáticos como entidade legitimadora por excelência e, a partir da qual tentaríamos identificar os textos susceptíveis de se configurarem como o cânone literário escolar. Da mesma forma considerámos a voz dos professores como susceptível de, pelas representações que poderá deixar transparecer, fornecer dados relativos ao estatuto, às funções do Português e às práticas pedagógicas em torno da literatura, embora devamos destacar que a articulação de ambos os planos considerados não se constitui como um processo de natureza especular. /Résumé - La littérature, objet complexe, exposé à de multiples appropriations, de nature distincte, pourra être considérée comme l'un des éléments qui composent la réalité scolaire, dans le cadre et l'espace disciplinaires du Portugais. Toutefois, sa propre nature rend son intégration dans terrain de l'éducation un procès três délicat. D'autre coté, comme d'ailleurs pour beaucoup d'autres situations liées à l’insertion d'objets distincts dans le contexte éducatif, le poids des contextes primaires de production discursive, nommément les études littéraires, aussi bien que la transposition directe de modèles et catégories, posent des problèmes et imposent une réflexion souvent contradictoire. Ce travail s'inscrit donc, sane aucun doute, dans le cadre de la Didactique do Portugais et, plus spécifiquement, dans celui de la Didactique de la Littérature. Nous réfléchirons aussi sur l'objet littérature, une fois qu'il peut être transformable dans un objet différent, par son intégration dans le contexte scolaire. La littérature et la littérature que l'école légitime, seraient deux objets différents. L'objet de ce travail serait la littérature légitimée par l'école. Nous devrons donc considérer aussi l'importance de la réflexion à propos des formes de légitimation de le littérature à l'école. Dane ce domaine, nous avons conféré, en fonction du modèle de discours pédagogique proposé par Basil Bernstein, une importance particuláre aux programmes officiels. À partir de ceux-là, notre analyse visara la délimitation des contours du canon littéraire scolaire. Nous avons aussi conduit des entretiens à fin d'écouter la voix des professeurs, car nous sommes convaincus que nous y pouvons trouver des données relativas au statut, aux fonctions et aux pratiques pédagogiques accueillies par la discipline de Portugais et strictement liées à la littérature. ll faudra ne pas oublier que l'articulation des ces deux plane distincts est loin pouvoir être considérée comme un procès de nature spéculaire

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