O uso de valores de peso e altura auto-relatados para cálculo do índice
de massa corporal (IMC) é comum na investigação biomédica.
Contudo, existe tendência para subestimação do peso e sobreestimação
da altura auto-relatados. Destes desvios resulta um IMC
auto-relatado subestimado e, consequentemente, estimativas de
menor prevalência de pré-obesidade e de obesidade, especialmente
entre populações femininas e idosas. O estudo aqui apresentado
teve por objectivos (a) estudar a validade de critério do peso e da
altura auto-relatados (em situação de entrevista face-a-face) e (b)
criar um modelo de ajustamento (por regressão linear múltipla)
dos valores auto-relatados em função de variáveis que moderam
o erro associado ao auto-relato. Trata-se de um estudo observacional,
descritivo e transversal, com amostra aleatória e representativa
da população portuguesa continental adulta entre os 18 e os 64
anos de idade. A amostra incluiu 8116 indivíduos (3796 homens e
4320 mulheres). Verificou-se subestimação do peso e sobrestimação
da altura (desvio mais pronunciado entre as mulheres do que
entre os homens), sendo que o erro médio destas auto-avaliações
aumenta com a idade e diminui com o nível educacional. A prevalência
de obesidade na população portuguesa com base em peso e
altura auto-relatados é 2,4 pontos percentuais inferior à prevalência
estimada por medição objectiva. Apesar do erro inerente a este tipo
de medida não advogar o seu uso para estimação de prevalência de
excesso de peso e obesidade, o facto de se ter verificado haver forte
correlação entre dados objectivos e auto-relatados sugere a possibilidade
de utilização de dados auto-relatados para outros fins de
investigação, nomeadamente estudos de associação entre IMC e
outras variáveis biomédicas, especialmente se os valores autorelatados
forem corrigidas por algoritmos como o proposto no presente
estudo