research

O povoado campaniforme fortificado da Moita da Ladra (Vila Franca de Xira, Lisboa)

Abstract

O povoado calcolítico muralhado de Moita da Ladra implanta‑se no topo de uma elevada chaminé vulcânica, que domina todo o estuário do Tejo. O pretendido prosseguimento da exploração de uma pedreira de basalto no local determinou a sua escavação integral. As estruturas identificadas são de carácter defensivo e habitacional. As primeiras integram uma muralha de contorno elipsoidal, em parte desaparecida, mas cujo comprimento foi possível estimar em cerca de 80 m, possuindo a largura de cerca de 44 m, englobando duas torres maciças e uma entrada, voltada para o estuário do Tejo, que se estende do lado sul. O enorme esforço construtivo envolvido em tal operação explica‑se, sobretudo, pela preocupação de conferir visibilidade acrescida ao dispositivo implantado no topo da elevação, até pelo contraste oferecido com a coloração negra dos basaltos subjacentes. Esta evidência conduz a admitir que, a par da função defensiva corporizada pelo recinto muralhado – e talvez mais importante do que ela – estaria implícita, na sua construção, a necessidade de marcar fortemente o lugar, constituindo um verdadeiro marco construído na paisagem. Por outro lado, a implantação deste povoado calcolítico pode relacionar‑se com o controlo do acesso à vasta bacia interior correspondente à várzea de Loures, cuja rede de drenagem se articula, a montante, com a bacia hidrográfica do rio Sizandro, na parte vestibular da qual se localiza o povoado calcolítico fortificado do Zambujal. A única fase de ocupação identificada, condiz, por seu turno, com o facto de a edificação do dispositivo muralhado ter sido efetuada de uma única vez, correlativa de camada pouco potente contendo espólios arqueológicos escassos mas diversificados, caracterizados pela associação das cerâmicas decoradas do grupo «folha de acácia/crucífera» a produções campaniformes, de técnica pontilhada, integrando vasos marítimos e vasos com decorações geométricas. As datações de radiocarbono indicam que a ocupação do povoado se verificou na segunda metade do 3.º milénio a.C., tal como se observou noutros sítios altos e fortificados da região, como Penha Verde e Leceia, sendo coeva dos pequenos sítios abertos de encosta onde comunidades campaniformes de raiz familiar se dedicavam às atividades agropecuárias. As diferenças na qualidade dos recipientes campaniformes característicos de ambos os tipos de implantação indica que nos primeiros se sediaram as elites a quem caberia o controlo dos territórios respetivos, como foi o caso dos habitantes da Moita da Ladra. Por outro lado, a coexistência de produções campaniformes e não campaniformes do grupo «folha de acácia/crucífera», configura uma realidade cultural cuja importância foi devidamente valorizada no presente artigo

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