Pelas veredas da luso-brasilidade: ressonâncias do Brasil nas obras de Ferreira de Castro e Miguel Torga

Abstract

Ferreira de Castro (1898-1974) e Miguel Torga (1907-1995) viveram ambos, no início da adolescência, a dura experiência de emigração para o Brasil. O primeiro partiu com apenas doze anos, em 1911, o segundo, com treze, em 1920. Ambos procuraram o ―Eldorado‖, cruzaram o Atlântico num vapor, cresceram, amadureceram, regressaram a Portugal, revisitaram novamente o Brasil e escreveram sobre essas vivências, como é corroborado por Emigrantes e A Selva de Ferreira de Castro, o Diário, A Criação do Mundo, Traço de União de Miguel Torga que constituem o nosso corpus de trabalho. No presente artigo, analisaremos à luz da imagologia, um dos métodos da literatura comparada, que visa precisamente o estudo das imagens, as representações do Brasil que emergem da obra destes dois escritores. Nesta sequência, analisaremos, numa óptica comparatista, a ficcionalização das vivências dos autores, a trajectórias das suas personagens, contemplando, na configuração do espaço estrangeiro, as primeiras impressões e sua evolução, as descrições da paisagem, do povo, da vida e da cultura brasileiras. Além disso, seguiremos os caminhos da alteridade para desvendarmos igualmente o modo como é visto o ―outro‖, e a forma como se inscreve no discurso. Em suma, analisaremos o impacto da vivência da emigração, a importância desempenhada pelo país de acolhimento na obra dos dois escritores supramencionados, atendendo às ressonâncias da luso-brasilidade, alicerçadoras de uma maior abertura e dum diálogo mais próximo com o Brasil.Ferreira de Castro (1898-1974) et Miguel Torga (1907-1995) vécurent, au début de leurs adolescences, la dure expérience de l‘émigration vers le Brésil. Le premier n‘avait que douze ans lorsqu‘il quitta le Portugal, en 1911 ; le second le fît à l‘âge de treize ans, en 1920, moins d‘une décennie plus tard. Les deux cherchaient l‘Eldorado et ils ont traversé l‘Atlantique, dans un long et terrible voyage, sur un bateau à vapeur, pour le retrouver. Cette expérience de l‘exil a profondément marqué leurs croissances, leurs développements et leurs écritures, ce qui se confirme dans les oeuvres Emigrantes, A Selva de Ferreira de Castro; Diário, Criação do Mundo et Traço de União de Miguel Torga, qui constituent notre corpus d‘étude. Dans cet article, nous nous proposons d‘interpréter, à la lumière de l‘imagologie (l'une des méthodes de la littérature comparée), les représentations du Brésil qui se dégagent du regard et de l‘oeuvre de ces deux écrivains. Nous analyserons, donc, d‘une perspective comparatiste, les expériences vécues par les auteurs, celles qu‘ils ont transposées dans la fiction, à travers l‘écriture, telles que, par exemple, les premières impressions de l‘espace étranger et son évolution, les descriptions du paysage, du peuple, de la vie et de la culture brésiliennes. Nous tenterons, aussi, d‘analyser les rapports de ces auteurs et de leurs personnages avec l‘Autre et les mécanismes de l‘instauration de l‘altérité. Cette étude vise, donc, à comprendre comment l‘expérience de l‘émigration et les trajectoires de l‘éxil conduisent à l‘inscription d‘un sentiment de ―philie‖ vers le Brésil et à la ―luso-brésiliennité‖, enracinés dans un appel à une plus grande ouverture et au besoin d‘un dialogue plus étroit avec ce pays

    Similar works