Atitudes dos jovens face ao ambiente : perspectiva diferencial e desenvolvimentista

Abstract

Tese de mestrado, Educação, Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, 1996Na revisão dos estudos sobre as atitudes dos jovens face ao ambiente, encontraramse lacunas e inconsistências no conhecimento da relação entre este constructo e variáveis de natureza sociodemográfica, como: o ano de escolaridade, o número de reprovações, a idade, o sexo, e o nível sócio-económico. O estudo partiu, assim, do seguinte problema geral: Que relações existem entre as atitudes dos jovens face ao ambiente e as referidas variáveis sociodemográficas, quer quando estas últimas são consideradas quanto aos seus efeitos principais, quer quando analisadas nos seus efeitos de interacção? A amostra foi constituída por 411 sujeitos de diferentes anos de escolaridade (7º, 9º e 11º anos), da zona escolar de Caldas da Rainha, englobando sujeitos diferenciados ainda quanto ao sexo, ao nível sócio-económico e à idade (12 aos 19 anos), repartidos pelas áreas de ciências naturais e humanidades. Como, na revisão bibliográfica específica sobre o tema, não se deparou com qualquer instrumento de avaliação das atitudes dos jovens face ao ambiente, adequado ao problema deste estudo, desenvolveu-se um novo instrumento - a Escala de Atitudes face ao Ambiente, EAFA. Os resultados da análise factorial permitiram observar a multidimensionalidade da versão final desta escala, que apresentou quatro factores específicos: acções de protecção ambiental, prevenção de sofrimento dos animais, preocupação geral com o ambiente, normas de protecção ambiental. A escala construída revelou possuir boas qualidades psicométricas (fidelidade, validade de constructo e externa), quer no seu todo quer nos sub-factores. Considerando simultaneamente estas variáveis sociodemográficas, analisou-se o seu efeito conjunto na explicação da variância dos resultados em cada uma das dimensões da escala EAFA, tendo-se concluído que, das cinco variáveis independentes consideradas, apenas três (ano de escolaridade, sexo, número reprovações) apresentaram um contributo significativo para a explicação da variância dos resultados nas atitudes face ao ambiente. Análises diferenciais mais específicas dos resultados permitiram observar que o aumento da escolaridade nem sempre contribuiu, como seria de esperar, para melhorar as atitudes dos jovens face ao ambiente. Foi o que se verificou nos resultados totais na EAFA, quando se comparou o 7º ano com o 9º ano, em que ocorreu uma diferença estatisticamente significativa favorável aos alunos do 7º ano, e entre os alunos do 9º ano e do 11º de humanidades, em que não houve diferenciação significativa. Já os alunos de ciências do 11º ano apresentaram atitudes mais favoráveis ao ambiente do que as dos alunos do 9º ano, ultrapassando também e em geral os alunos do 7º ano. Em relação à dimensão "preocupação geral com o ambiente", os resultados permitiram observar que os alunos que têm atitudes mais favoráveis são aqueles que frequentam anos mais elevados, os que têm bom rendimento escolar e os que não tiveram reprovações. Analisando independentemente as variáveis, verificou-se existirem diferenças estatisticamente significativas entre os jovens com menos de 15 anos e os jovens com idade igual ou superior, e entre as raparigas e os rapazes, dando vantagem aos primeiros sujeitos. No entanto, quando se considerou a influência simultânea da idade e do sexo, verificou-se que a diferenciação dos resultados em função da idade ocorre apenas no grupo masculino, não se registando diferenças significativas entre os dois grupos etários das raparigas. Em relação ao nível sócio-económico, não foram encontradas diferenças significativas. Os resultados obtidos vão no sentido geral de anteriores investigações algo congéneres, e a sua interpretação enquadra-se numa perspectiva cognitivo-social e desenvolvimentista. Salientam ainda a necessidade de, na formação de alunos e professores, os currículos académicos passarem a incluir mais conteúdos especificamente virados para a valorização do ambiente como património da humanidade. O estudo inclui ainda sugestões de investigação futura, com especial interesse num estudo de natureza experimental e longitudinal em que, tendo em conta os factores significativos identificados na investigação realizada, se procure ensaiar a promoção de subestruturas específicas das atitudes dos jovens face ao ambiente, sobretudo em grupos de sujeitos com fracasso escolar ou menor formação cívica

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