Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Florianópolis, 2013O presente trabalho versa sobre o projeto empirista de Bas van Fraassen, cuja obra é referência obrigatória no quadro das teorias empiristas contemporâneas não apenas na filosofia da ciência, mas também na filosofia em geral. Projeto esse que abrange três momentos fundamentais: o empirismo construtivo, o empirismo como atitude, e o empirismo estrutural. Assim, inicialmente no delineamento de nossa problemática de pesquisa, esquadrinhamos a história da filosofia da ciência do século XX, de forma que encontramos no empirismo lógico - em particular, nas contribuições de Rudolf Carnap e de Hans Reichenbach - o precedente teórico da noção de 'análise lógica da ciência', subsumida na definição de 'reconstrução racional'. A saber, o programa neopositivista para a filosofia da ciência tencionava realizar uma epistemologia analítica com exemplos científicos, uma 'análise lógica da ciência', ideia esta firmemente contestada por van Fraassen e por outros autores instrumentalistas - no caso, Larry Laudan. Depois, passamos para o exame pormenorizado e crítico das mencionadas teorias empiristas de van Fraassen. Isto é, sua teoria da ciência, o empirismo construtivo, sustenta que a ciência pode ser interpretada à maneira de uma busca por adequação empírica, não pela verdade, entendendo-se essa a correta e fidedigna descrição dos fenômenos observáveis. Quanto à formulação empirista de van Fraassen para além da filosofia da ciência, o empirismo como atitude, este parte da crítica à metafísica para a defesa dos aspectos volitivos na cognição humana, donde, o nome de epistemologia voluntarista, por esta se centrar nas atitudes, e não em doutrinas ou teorias factuais. Já o empirismo estrutural, que é uma atualização do empirismo construtivo, visa à descrição da estrutura dos fenômenos observáveis, com base na abordagem semântica das teorias, e.g., conjunto de modelos semânticos. Assente isso, nos debruçamos em aspectos específicos do empirismo construtivo, ou seja, a já referida abordagem semântica, a própria concepção de modelo, e os conceitos cruciais, no bojo dessa teoria da ciência: adequação empírica e observabilidade. Então, argumentamos que a interpretação da adequação empírica, tal qual uma versão da teoria correspondencial da verdade, é equivocada, por comprometer ontologicamente o empirismo construtivo. Ademais, no tocante à observabilidade, examinamos os seus limites gerais e específicos, mostrando que esse é um ponto muito delicado do empirismo construtivo, visto que van Fraassen endossa um naturalismo tópico, o qual se torna mais um problema do que uma solução para as críticas e dificuldades teóricas. Por exemplo, a circularidade, o regresso infinito, e a arbitrariedade da distinção observável/inobservável. Enfim, a partir das propostas de Nancy Cartwright e de Arthur Fine, esboçamos uma resolução para tais impasses em uma chave instrumentalista e pragmatista.Abstract : The present investigation deals with the theoretical empiricist program of Bas van Fraassen, whose legacy is an obligatory reference in the context of contemporary empiricist theories, not only in philosophy of science but also in philosophy in general. That project covers three key elements: constructive empiricism, empiricism as attitude (or empirical stance), and structural empiricism. Initially, in the design of our research problem, we search within the history of philosophy of science of the twentieth century, so that we find the logical empiricism - in particular, the contributions of Rudolf Carnap and Hans Reichenbach - whom are the precedents of theoretical notion 'logical analysis of science', subsumed in the definition of 'rational reconstruction'. Namely, the logical positivist project to the philosophy of science intended to conduct an analytical epistemology with scientific examples, such as 'logical analysis of science', however, this idea was firmly opposed by van Fraassen and other instrumentalists philosophers, e.g., Larry Laudan. Subsequently, we move to the detailed critical examination of van Fraassen's theories. Namely, his theory of science, constructive empiricism, which he argues that science can be interpreted in the manner of empirical adequacy, and not the within the truth. For instance, empirical adequacy being understood as a correct and reliable description of observable phenomena. Regarding the van Fraassen's empiricist work, it goes beyond the philosophy of science, it is empiricism as attitude, therefore, this part of the critique of metaphysics to defend the volitional aspect in human cognition, is called 'voluntarist epistemology', which focus on attitudes, and not on factual theories or doctrines. Regarding structural empiricism, this is an update of constructive empiricism that aims to describe the structure of the observable phenomena, based on the semantic approach of theories, i.e., a set of semantic models. Based on this, we concentrate on specific aspects of constructive empiricism: the aforementioned semantic approach that carries the concept model, and the key concepts in the core of this theory of science: empirical adequacy and observability. Hence, we argue the following: the interpretation of empirical adequacy, like a version of the correspondence theory of truth, is mistaken by compromising constructive empiricism ontologically. Moreover, concerning observability, we examine their general and specific limits, showing that this is a very problematic point of constructive empiricism, as van Fraassen had endorsed a topic naturalism, which becomes more of a problem than a solution to the critical and theoretical difficulties. For instance, circularity, infinity regression, and arbitrariness of observable/unobservable distinction. Finally, from proposals by Nancy Cartwright and Arthur Fine, we outline a resolution to such dilemmas in an instrumentalist and pragmatist ways as key of our research