thesis

Ler, escrever, inscrever: discursos de alunos e professoras sobre as (im)possibilidades de relações estéticas com a linguagem escrita

Abstract

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Psicologia.A linguagem é condição para o ser humano produzir cultura e, simultaneamente, constituir-se como sujeito. É, ao mesmo tempo, uma via de comunicação que transcende limites espaciais e temporais, viabiliza a produção/apropriação da história e uma realidade axiológica habitada por um conjunto de vozes sociais que dialogam entre si. Essas vozes, por sua vez, são constitutivas do sujeito, dos seus modos de vida, pensar, sentir e agir. Em relação à linguagem escrita, a dialogia e sua dimensão constitutiva são também características: nota-se, que a aguçada imaginação da criança percorre o universo das letras e, dessa viagem, emergem novas possibilidades de leituras da realidade em que se insere e diferentes maneiras de inscrever-se no contexto. Entretanto, é comum a idéia, tanto em contextos escolares como familiares, de que a linguagem escrita consiste somente em um conjunto de sinais regidos por sentidos fixos, imutáveis e a-históricos, a serem transmitidos ao outro e por este assimilado. Contudo, nesta tese afirma-se que, mesmo nesses contextos, os sujeitos estabelecem (ou podem vir a estabelecer) relações estéticas com a linguagem escrita. Relações estéticas viabilizam a realização de outras leituras do mundo, fundadas em diferentes possibilidades de sentir, escutar, olhar que, por sua vez, são condições para transformar o instituído. Para o desenvolvimento da pesquisa foram realizadas entrevistas individuais com nove crianças, sendo cinco meninos e quatro meninas, com idade entre nove e doze anos, alunos de 4º e 5º anos do Ensino Fundamental de uma Escola Classe (pública) do Plano Piloto, na cidade de Brasília - DF. Também participaram do estudo suas respectivas professoras. As crianças tinham sido sujeitos de pesquisa anterior (Munhoz, 2003), o que consistiu uma oportunidade ímpar para o reencontro da pesquisadora com as crianças. Foram analisados, à luz do enfoque Histórico-Cultural em Psicologia e das contribuições do Círculo de Bakhtin, o discurso dos educandos e suas professoras em relação às (im)possibilidades de constituírem relações estéticas com a linguagem escrita. O estudo evidenciou que as crianças são capazes de estabelecer este tipo de relação em contextos diversos, possibilitando a (des) (re)construção de sentidos até então considerados fixos e, assim, (re)inventaremse como sujeitos. As professoras, por sua vez, têm mais dificuldade de estranhar e resistir ao instituído. Faltam-lhes contextos e experiências significativas que permitam o estabelecimento de relações estéticas com o mundo das letras e de (re)inscreverem a própria história. A trajetória percorrida nesta pesquisa viabilizou reconhecer a complexidade, relações e movimentos que constituem sujeitos e suas (im)possibilidades de imaginar e criar por intermédio da linguagem escrita

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