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A expressão do passado imperfectivo no português: variação/gramaticalização e mudança

Abstract

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Programa de Pós-Graduação em Lingüística.O valor semântico-discursivo de passado imperfectivo, no português falado em Florianópolis, apresenta duas formas de realização: a forma de pretérito imperfeito do indicativo (IMP) e a forma perifrástica constituída pelo auxiliar estar acompanhado do morfema de pretérito imperfeito do indicativo e verbo principal no gerúndio (PPROG). No domínio da imperfectividade, o passado imperfectivo recobre valores que vão desde o progressivo até o habitual, passando pelo durativo, iterativo e por casos de ambigüidade aspectual (imperfectivo genérico, valor em que a especificidade aspectual não é relevante nem para o falante nem para o ouvinte). O passado imperfectivo é uma função caracterizada temporalmente pela relação de ordenação e sobreposição, e aspectualmente, pela relação de inclusão. Em relação ao tempo, o passado imperfectivo refere-se a uma situação anterior ao momento de fala e simultânea ao ponto de referência, também anterior, daí a noção de passado. E, em relação ao aspecto, o passado imperfectivo refere-se a uma situação cujo intervalo inclui o ponto de referência, o que manifesta o andamento da situação em relação à referência, daí a noção de imperfectividade. Considerando os pressupostos da abordagem evolutiva da língua (Croft, 2000, 2002), que lida com duas noções de mudança lingüística: mudança como inovação (Givón 2001, 2002 e o paradigma funcional da gramaticalização (Hopper e Traugott, 1993, Heine et al., 1991)) e como propagação (Weinreich et al., 1968), a expressão variável do passado imperfectivo na fala de Florianópolis é analisada. O corpus da análise é formado por 36 entrevistas do Banco de Dados VARSUL relativas à cidade de Florianópolis, estratificadas quanto ao sexo, tempo de escolarização e faixa etária dos indivíduos. Foram coletadas 882 ocorrências da função dentro da unidade analítica episódio narrativo, das quais 546 de IMP e 336 de PPROG. Os dados foram categorizados e submetidos à análise estatística (regressão logística com cálculo de desvio da média) em três modelos: a análise geral, a análise que considerou apenas o aspecto durativo e a análise que considerou o aspecto durativo em pares mínimos. Os resultados apontam que, apesar de ambas as formas desempenharem a mesma função semântico-discursiva, funcionando como variantes de uma mesma variável lingüística, existem contextos de recorrência específicos. A forma IMP está relacionada à expressão dos aspectos habitual e iterativo, predicados [- dinâmicos], situações longas, de polaridade negativa e ponto de referência imperfectivo. A forma PPROG está relacionada à expressão do aspecto progressivo, predicados [+ dinâmicos], situações instantâneas e curtas, de polaridade positiva e ponto de referência perfectivo. A polarização entre formas e contextos de recorrência é conseqüência das trajetórias de gramaticalização pelas quais passam as formas IMP e PPROG. Socialmente, a variação na expressão do passado imperfectivo está relacionada com a gradação etária dos informantes. Os resultados dão evidências ao modelo evolutivo da linguagem, e confirmam a hipótese de que a gramaticalização (mudança como inovação) é direcional de variação (mudança como propagação)

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