Tachinardi, Maria Helena

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OJS@FGV  (Fundação Getulio Vargas)

S E Ç Ã OC O M É R C I O  E X T E R I O RJ u n h o  d e  2 0 0 4   C O N J U N T U R A  E C O N Ô M I C A  2 6C O M É R C I O  E X T E R I O R                                                                                            2 7  J u n h o  d e  2 0 0 4   C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C A“Os grandes exportadores brasileiros do agronegócio estão felizes com a China, para outros, o país representa um problema.” Essa frase do gerente de relações internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiespe), Christian Lohbauer, resume o sentimento reinante hoje no Brasil. Cerca de 50% do que o país vende para a China é de produtos agrícolas, em relação a somente 8% para os EUA. No ano passado, a soja representou 80% do que o Brasil exportou para os chineses no setor do agronegócio. Eles são os maiores compradores da soja brasileira, destaca Mário Jales pesquisador do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), com sede em São Paulo.Na outra ponta, estão os empresários infelizes com a China, para os quais o país oriental, que tem crescido a taxas incríveis ao redor de 10% ao ano, representa uma ameaça, uma fonte de prejuízo. “Problemas de dumping, desrespeito a normas técnicas, contrabando.” Esses problemas, segundo Lohbauer, foram detectados em recente pesquisa realizada pela Fiesp junto a 40 setores da indústria paulista. Agora que a China estreita os laços políticos e econômicos com o Brasil, como ficou claro na viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, no final do mês passado, os setores prejudicados querem maior atenção do governo ao que chamam de comportamento desleal do parceiro. “A maneira de agir em relação a isso é fazer cumprir a lei. É preciso fazer valer a isonomia”, diz o gerente de relações internacionais da Fiesp, referindo-se à necessidade de aplicar aos chineses o mesmo tratamento aplicado aos brasileiros, no que diz respeito a normas técnicas. Lohbauer é incisivo: “Não temos uma legislação de defesa comercial eficiente. E, no caso da China, é preciso uma nova legislação, como a que existe no relacionamento entre a China e os EUA.” Os EUA e a China são o principal alvo de medidas antidumping do Brasil, lembra Jales. “É uma das formas de o Brasil lidar com o comportamento desleal. O chinês vende determinados produtos no Brasil abaixo do preço na China e, assim, prejudica os produtos brasileiros”, acrescenta.  A mídia brasileira tem refletido a ampliação do relacionamento entre os dois países. Não só expondo os resultados da visita de Lula, mas também informando sobre problemas relacionados com embarques de soja brasileira com pesticidas que resultaram em cancelamento de pedidos pelos chineses. Investimentos em infra-estrutura e mineração no Brasil, cooperação nuclear e em política internacional. A China também está redescobrindo o Brasil e é inevitável que se descubram pontos de complementariedade e de competição. A participação dos chineses no G-20, o grupo de países emergentes exportadores agrícolas, que se formou na Organização Mundial do Comércio (OMC) para combater os subsídios concedidos Exportações agrícolas do Brasil para a China (incluindo Hong Kong e Macau – US$ mil)  Produtos 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003Outros grãos de soja mesmo triturados 4.299 86.126 221.631 111.290 337.350 538.847 825.475 1.313.073Óleo de soja em bruto mesmo degomado 419.829 261.420 101.747 49.220 17.334 2.475 117.572 258.620Pedaços e miudezas comestíveis de galos e galinhas congelados 46.548 62.637 51.748 74.882 71.099 73.723 79.139 119.837Óleo de soja refinado, em recipientes com menos de cinco litros - - - - - 1.500 19.278 63.401Outras carnes de suíno congeladas 45.050 54.867 68.125 47.958 53.817 51.246 45.493 54.906Fumo não-manufaturado total ou parcialmente destalado, folhas. secas etc., tipo virginia 7.872 12.967 9.261 32.987 41.200 51.988 67.459 54.788Outras miudezas comestíveis de bovino congeladas 3.203 3.886 8.255 12.417 17.272 15.434 17.872 32.253Bexigas e estômagos frescos de animais, exceto peixes etc. 8.667 11.473 8.396 9.885 13.253 18.620 17.021 31.071Carnes desossadas de bovino congeladas 6.495 5.677 7.858 26.524 23.208 25.106 21.393 30.987Sucos de laranja congelados não-fermentados 2.888 3.034 2.451 4.188 4.134 7.773 8.212 19.172Outros produtos agrícolas 291.565 324.406 228.958 60.658 66.347 102.005 52.562 57.022Total 836.416 826.492 708.429 430.010 645.016 888.716 1.271.475 2.035.131Fontes: Icone, com base em Alice-MDIC.China: oportunidades e preocupaçãoS E Ç Ã OC O M É R C I O  E X T E R I O RJ u n h o  d e  2 0 0 4   C O N J U N T U R A  E C O N Ô M I C A  2 6C O M É R C I O  E X T E R I O R                                                                                            2 7  J u n h o  d e  2 0 0 4   C O N J U N T U R A E C O N Ô M I C Apelos países industrializados, sob liderança do Brasil, revela um aspecto da complementariedade. Mas a China, ao mesmo tempo que representa um mercado com vastas oportunidades para os exportadores brasileiros, preocupa pela força de sua competitividade. Nos EUA, essa preocupação também está presente. “A dependência norte-americana da China é tão grande, que empresas dos EUA estão procurando fornecedores alternativos. Eu vou ajudar as nossas empresas a aproveitarem essas oportunidades, empresas que querem diversificar”, diz Rubens Barbosa ex-embaixador brasileiros nos EUA e atual presidente da Rubens Barbosa & Associados. O que a China tem que o Brasil não tem? “Eles têm preço e uma agressividade brutal. Entraram no mercado norte-americano onde a tarifa é baixa ou zero. Vendem têxteis e eletrodomésticos. Oitenta por cento das coisas que estão em muitas lojas dos EUA são chinesas”, diz o ex-embaixador. Como a China pode pesar na balança comercial brasileira? “Acho que o país vai ser sempre complementar. Há uma grande euforia pelo crescimento do comércio bilateral, que está ao redor de US$ 6 bilhões, e possivelmente vai continuar crescendo mesmo com a desaceleração da economia chinesa”, avalia Barbosa. “Os produtos de exportação para a China são primários e isso tem um crescimento até um certo nível. Não se trata de uma pauta variada, diversificada. Poucas empresas exportam para lá. E por muito tempo isso vai continuar assim, porque enquanto não fizermos um trabalho de prospecção do mercado chinês a respeito do que eles podem comprar adicionalmente, a pauta atual, que já é rígida, vai continuar sendo”, comenta. Há indicações de que os produtos brasileiros que mais tendem a crescer no mercado chinês são os do agronegócio, sobretudo carnes, algodão e açúcar, além da soja, que já está na liderança em matéria de exportação.“Com o crescimento econômico, aumentaram a renda disponível das pessoas e o consumo de produtos agrícolas e alimentícios. A China também elevou sua participação no comércio mundial com a entrada na OMC. Carne é o segundo produto da pauta de exportações brasileiras para aquele mercado, principalmente frango. Com o aumento da renda e com a reurbanização do país, a dieta mudou muito. O consumo de leite cresceu 22% nas regiões urbanas. O chinês urbano consome cada vez mais carne. Com  o crescimento da venda de refrigeradores deve aumentar o consumo de carne, porque eles gostam do produto refrigerado e não congelado”, explica Mário Jales.Segundo ele, uma das razões para o consumo da soja ter explodido na China é porque os chineses a usam para produzir carne. A China produz 40% da carne de soja mundial, informa o pesquisador do Icone.A indústria têxtil chinesa é muito competitiva. E se os mercados mundiais se liberalizarem, o consumo de algodão na China vai crescer, o que é bom para os exportadores de algodão, mas não para a indústria brasileira, que vê o têxtil chinês como ameaça. Setenta por cento do que o chinês consome hoje são grãos e vegetais, uma dieta considerada saudável, mas a ocidentalização do país está levando a um aumento do uso do  açúcar, diz Jales. Daí porque há uma expectativa de que o Brasil possa vender  essa commodity para os chineses, no futuro. Quanto ao café, o consumo atual na China é baixo, mas com a influência da cultura ocidental, o Brasil tem chance de vender seu produto para aquele país. Hoje, a importação é feita do Vietnã, da Índia e da Colômbia. (M. H. T.) Importações agrícolas do Brasil provindas da China (incluindo Hong Kong e Macau – US$ mil) Produtos 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003Outros alhos frescos ou refrigerados - 27.304 13.878 13.145 8.580 7.899 16.613 11.199Outras preparações para alimentação de animais 499 524 819 753 513 2.667 3.845 5.345Cerdas de porco lavadas, alvejadas ou desengorduradas 3.196 2.757 2.667 1.940 3.038 2.576 1.113 1.671Outros produtos hortícolas/misturas, secos, incuindo pedaços, fatias etc. 31 143 263 372 783 699 1.314 1.352Aspargos preparados ou conservados não-congelados 754 729 1.151 580 670 810 736 674Glúten de trigo mesmo seco - - - - - - 38 634Outros produtos hortícolas etc., preparações/em conserva em vinagre, ácido acético 98 402 452 231 294 490 661 610Sucos e extratos de outros vegetais 20 21 54 77 202 783 807 604Alho comum em pó sem qualquer outro preparo 230 190 72 277 264 326 389 542Sucos e extratos de ginkgo biloba seco 37 239 486 429 337 651 473 535Outros produtos agrícolas 45.385 16.686 16.821 17.872 11.664 5.853 7.340 4.363Total 50.249 48.995 36.664 35.674 26.345 22.754 33.329 27.529Fontes: Icone, com base em Alice-MDIC.

China: oportunidades e preocupação

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China: oportunidades e preocupação

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