Impresso em formato: 17x24cm. Tiragem: 300 exemplares. 149p.Abrir caminhos, eis o que a pesquisadora Denise Guerra institui nos seus argumentos centrais neste livro de relevância inconteste. Qualificar histórica e formativamente a relação entre ciência e
educação, é o que a educadora implicada na educação comunitária popular vai configurar numa obra eivada de insights extremamente
pertinentes e refinados sobre a educação científica. Atribuir sentidos radicalmente democráticos à formação em ciência é o que a formadora de pensadores científicos no seio educacional vai instituir, de um jeito singular, em face da sua vasta
experiência no trabalho de formação de educadores engajados no campo da educação científica. O que Denise Guerra institui nas páginas de toda a sua obra é explicitar, de forma profunda, a problemática da construção do conhecimento, retirando-a do registro hermafrodita do cânon da ciência
estabelecida. Dadas as condições, a educação científica passa a ser, no pensar desta educadora, uma questão da sociedade civil em
processo de esclarecimento via formações responsáveis e ampliadas. É aqui que rigor, ética e política, atravessados pelo ethos educacional e pela estética formativa das culturas, no plural mesmo, seminalizam os argumentos da autora, esgarçando a relação com os saberes que historicamente apresentam-se em pertinência para
compreender as problemáticas que se nos apresentam, na medida em que também os criamos. Neste caminho, ciência e humanidade
produzem uma unidade repleta de multiplicidades e formas de pensar e fazer que não pode jamais emergir como algum tipo de propriedade privada, por mais que as relações de poder aí também se estabeleçam e criem histórias, levando em conta o conhecimento dito científico e suas temporalidades. Mas, da nossa perspectiva, num processo de “devoração” dos argumentos que a pesquisadora em pauta elabora, o que nos mobiliza, é como se produz na transversalidade desta obra uma certa
relação entre a construção do conhecimento científico e os processos formativos que o implicam. Há aqui o que chamaríamos de une belle démarche sobre a educação
científica. Há aqui, também, em termos de uma formação para compreensão da ciência, o que podemos denominar de uma
différence scientifique en train de se faire. Nestes termos, a obra abre
um outro caminho, caminho do futuro de uma formação científica popularizada, no sentido da sua radicalização democrática, no qual
hierarquizações rígidas tendem a se dissolver numa intercrítica entre saberes que se apresentam como relevantes e pertinentes, produzidos por paradigmas que acolham a ideia trabalhada por mim e
os colegas Dante Galeffi e Álamo Pimentel de um rigor outro, não simplificado, não naturalizado a partir de uma só lógica, privatizada por algum segmento social e sua temporalidade própria. É assim que para mim, comunitariamente constituída, a ciência
teria mais a ver com a nossa human-idade, com a dignidade dessa invenção humana tão necessária à qualificação da vida, mas,
também, para a crítica da sua epopeia humana.
Felicitações, Denise. Que essa obra seja mais um facho de luz a iluminar uma área que, predominantemente, apresenta-se ainda
como um habitus que se reproduz a partir do poder de poucos. Seu livro, na sua singularidade, fala de muitos, possibilita que vozes apareçam da escuridão de uma ciência moribunda, para um fazer científico e formativo rigorosamente plural, culturalment e heterogêneo.Salvado