Foi assim que aconteceu: A nossa família - as trajetórias resilientes das famílias constituídas por procriação medicamente assistida ou inseminação por dador face aos desafios inerentes à sua transição para a Parentalidade

Abstract

Como consequência de profundas mudanças socio-legais, demográficas e tecnocientíficas têm surgido as novas famílias (formadas através de PMA, constituídas por casais do mesmo género e constituídas por mães solteiras por escolha). Por serem configurações familiares que se afastam da estrutura tradicional nuclear, várias questões têm surgido relativamente às suas implicações para o ajustamento psicológico das crianças. Também muito pouco se sabe ainda sobre os constrangimentos e recursos específicos destas famílias durante a sua transição para a parentalidade, nomeadamente sobre o seu funcionamento familiar. Neste sentido foi desenvolvido um estudo transversal multi-métodos, inserido numa matriz clínicodesenvolvimental, denominado A NOSSA FAMÍLIA: FOI ASSIM QUE ACONTECEU. Este pretendeu avaliar o funcionamento familiar e os processos familiares das novas famílias ao nível da parentalidade e do ajustamento infantil. Os resultados principais revelaram que as crianças das novas famílias apresentam um ajustamento psicológico positivo comparativamente aos dados normativos de crianças da mesma faixa etária e aos dados das crianças de outras famílias, tais como a nuclear tradicional. Os resultados revelaram também que as novas famílias constituídas através de PMA ou inseminação por dador experienciam um Distressful Loop, composto por três fases, e que se repetiu durante meses ou anos até as famílias concretizarem a parentalidade. A primeira fase deste Loop representa o momento em que pais/mães aguardam ansiosamente pelos resultados médicos. A segunda fase representa as tentativas de PMA falhadas ou a perda gestacional e os consequentes sentimentos de desilusão, humor depressivo e luto. A terceira fase representa a recuperação psicológica e o reajuste das famílias face às consequências negativas das tentativas de PMA falhadas ou perdas gestacionais, até à sua decisão final de realizarem outra tentativa de PMA e entrarem novamente no Loop. Não obstante, as famílias apresentaram também importantes características e recursos durante todo o seu processo de PMA que as permitiram amenizar o impacto negativo do Distressful Loop e dos stressores associados à PMA, nomeadamente, otimismo e positividade, tenacidade e perseverança, fé e espiritualidade, comunicação, sincronização e coesão do casal e suporte social. Verificou-se também que as famílias constituídas por mães lésbicas/bissexuais navegaram por diferentes contextos legais durante a sua transição para a maternidade e consequentemente enfrentaram desafios e stressores diferentes, embora todas tem sentido a ausência de representação mental e social desta maternidade, inclusivamente nas suas famílias de origem. Não obstante, estas mães demonstraram ser capazes de transformar o impacto negativo dos stressores mencionados através de várias formas, tais como o aumento e manutenção da visibilidade da sua identidade minoritária e da sua família, participação no ativismo pelos direitos LGBTQ+, procura de suporte da comunidade LGBTQ+, ou pela revelação seletiva da sua família. Foram também muito ativas e persistentes na recuperação de conexões e suporte com os membros das suas famílias de origem. Este estudo destaca a importância de serem desenvolvidas intervenções psicoterapêuticas que tenham em conta as vicissitudes mencionadas relativamente às novas famílias, incluindo as suas vulnerabilidades e acentuado as suas forças e estratégias para que possam navegar pelas várias trajetórias da parentalidade de forma resiliente e saudável.ABSTRACT: The new families’ (e.g., families formed through assisted reproductive technologies, composed with same-gender couples and composed with single mothers by choice) have been arising due to profound socio-legal, demographic and technoscientific changes. These families present different configurations from the nuclear traditional family, which evokes several issues about their implications of children’s psychological adjustment. Also, studies are still scarce about these families’ specific constraints and resources during their transition to parenthood, namely about their family functioning. In line with this, a transversal multimethod and clinicaldevelopmental study named OUR FAMILY: THIS IS HOW IT HAPPENED was developed. This study aimed to assess new families’ familiar functioning and processes and children’s psychological adjustment. The mains results revealed that the children from new families present a positive psychological adjustment when compared with the normative data of children from the same age, and when data from children of other families including traditional nuclear families. Findings also revealed that the new families formed through ART or donor insemination experienced a Distressful Loop composed by three phases and repeated for months or years during their transition to parenthood. The first phase of this loop represents the moment when parents are anxiously waiting for the medical results, with high expectations and hope. The second phase represents the failed ART attempt or the gestational loss, and consequent feelings of disappointment, depressive mood and mourning. The third phase represents the families’ psychological recover and readjustment to the negative consequences of the failed ART attempts or gestational losses, until the final decision to perform another ART attempt e entering into the Loop again. Notwithstanding, families presented important indicators of resilience throughout the entire transition to parenthood, namely optimism and positivity, tenacity and perseverance, faith or spirituality, couple's communication, synchronization and cohesion, and family and social support. This study pretends to help practitioners to deepen their knowledge about ART families' emotional journey during their transition to parenthood. Improving families' strengths is fundamental to enable them to persist in healthier ways and to reduce the risk of cease treatments precociously. Findings revealed that families with lesbian/bisexual mothers navigated through different legal contexts during their transition to motherhood and therefore have deal with different challenges and stressors, although all mothers have reported a lack of mental and social representation of lesbian motherhood. Nevertheless, these mothers revealed various ways of transforming the negative impact of the mentioned stressors, namely through maintaining outness, engaging in activism, seeking support from LGBTQ communities, or by being selective about their family. Lesbian mothers were also very active and persistent on recovering their family connections and support. This study highlights the importance of developing psychological interventions that considers the mentioned vicissitudes regarding the new families, including their vulnerabilities and increasing their strengths and strategies to enable them to navigate through the various trajectories of parenthood resiliently and in healthier ways

    Similar works

    Full text

    thumbnail-image

    Available Versions