Brazilian Journals Publicações de Periódicos e Editora Ltda.
Abstract
INTRODUÇÃO: Otite média é uma inflamação multifatorial da orelha média, infecciosa ou não, envolvendo resposta imunológica, fatores genéticos e anatômicos. A otite média aguda (OMA) pode evoluir para otite média aguda supurada (OMAS), caracterizada pela perfuração da membrana timpânica (MT). Esta pode evoluir para otite média crônica (OMC). Como as formas crônicas podem associar-se à hipoacusia leve a moderada, torna-se necessário diagnóstico diferencial, visando à adoção da propedêutica adequada para minimizar riscos de danos ao desenvolvimento. RELATO DE CASO: CSNM, 2 anos e 08 meses, sexo feminino, residente e natural de Ouro Preto-MG, vem ao Centro de Saúde da UFOP acompanhada dos pais para puericultura. Na história pregressa, pais referem otite média supurada crônica bilateral, com otorréia persistente e perfuração das MTs. O início dos episódios foi aos 11 meses de idade, ocorrendo aproximadamente 15 episódios em 1 ano, tendo o último acontecido há 02 meses. Tratamento realizado com uso de antibióticos tópicos e/ou orais, além de corticosteróide oral e nasal. Mãe relata que em julho/2018 foi necessário realizar uma aspiração no ouvido direito pela ausência de resposta aos tratamentos instituídos. A paciente faz acompanhamento com otorrinolaringologista, tendo a impedanciometria acusado secreção em ouvido médio bilateral. Anamnese: aleitamento materno exclusivo até 6 meses, aleitamento materno complementar até 1 ano e 11 meses; vacinação em dia; DNPM adequado para a idade; sem vulnerabilidade socioeconômica; início da ida à creche aos 6 meses em período integral e sempre apresentou desempenho muito satisfatório. Ao exame físico, sem alterações à ectoscopia, à oroscopia e à otoscopia, estando as MTs íntegras. Aparelhos respiratório, cardiovascular e abdominal sem achados anormais. Antropometria: peso: 13,3Kg (escores z: 0;+2); altura: 94cm (escores z: 0;+2); IMC: 15,05Kg/cm2 (escores z: -2;0). DISCUSSÃO: A OMAS caracteriza-se pelo extravasamento de secreção mucopurulenta pelos ouvidos em decorrência da perfuração da MT em criança com OMA. Tal quadro torna-se crônico quando ocorrem mais de 3 episódios num período de 6 meses ou 4 ou mais episódios num período de 12 meses, com pelo menos 1 episódio nos 6 meses precedentes, e recidiva após finalização da antibioticoterapia, configurando a otite média crônica supurada (OMCS). Diversos fatores de risco estão associados à OMA, tais como baixo nível socioeconômico; aleitamento materno menor do que 4 meses; entrada precoce em creches; disfunções da tuba auditiva e episódios recorrentes de infecções de vias aéreas superiores (IVAS). Em geral, a criança apresenta otorréia precedida de otalgia e IVAS, com melhora da otalgia após saída da secreção. Na otoscopia observa-se MT perfurada e espessa, às vezes com otite externa associada. Os episódios de OMCS da paciente podiam associar-se à entrada precoce na creche e à permanência em tempo integral, já que crianças que frequentam creches apresentam IVAS com duração mais prolongada. CONCLUSÕES: Como as principais complicações das OMCS podem comprometer o desenvolvimento da linguagem e da fala, torna-se imprescindível propedêutica atenta para evitar danos