ResenhaABREU, Kátia; ROSA, Maria Carlota.  Alfabetização e idosos- um tema urgente no Brasil. São Paulo: Parábola Editorial, 2021.O livro Alfabetização e idosos - um tema urgente no Brasil, de autoria de Kátia Abreu e Maria Carlota Rosa, chega em boa hora. Organizado em 18 (dezoito) capítulos, a obra retoma temas atinentes a sistemas de escrita, à aprendizagem da leitura, dentre outros importantes. Focaliza a EJA (Educação de Jovens e Adultos) como meio de alfabetização previsto pelo sistema educacional brasileiro e dá especial ênfase à população de idosos

Mollica, Maria Cecilia de Magalhães

Portuguese

Portal de Periódicos da UFRJ

A revista Diadorim utiliza uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional (CC-BY-NC).Diadorim, Rio de Janeiro, vol. 24, número 1,  p. 366 - 369, 2022.DOI: http://dx.doi.org/10.35520/diadorim.2022.v24n1a52954 Recebido em: 24 de abril de 2022 /Aceito em: 26 de abril de 2022EJA E IDOSOS: CAMINHOS DE INCLUSÃOMaria Cecilia de Magalhães Mollica1Resenha ABREU, Kátia; ROSA, Maria Carlota.  Alfabetização e idosos - um tema urgente no Brasil. São Paulo: Parábola Editorial, 2021. O livro Alfabetização e idosos - um tema urgente no Brasil, de autoria de Kátia Abreu e Maria Carlota Rosa, chega em boa hora. Organizado em 18 (dezoito) capítulos, a obra retoma temas atinentes a sistemas de escrita, à aprendizagem da leitura, dentre outros importantes. Focaliza a EJA (Educação de Jovens e Adultos) como meio de alfabetização previsto pelo sistema educacional brasileiro e dá especial ênfase à população de idosos. Nos primeiros capítulos, o leitor é levado a pensar na relação fonema-grafema nos sistemas alfabéticos. Assim, passamos a conhecer, à página 27, o que vêm a ser as regras de correspondências que “determinam se um sistema de escrita é mais ou menos transparente fonologicamente”. As autoras explicam que a escrita captura a estrutura sonora da língua bem como as informações de natureza morfológica e lexical, de tal modo que as correspondências entre fonemas e grafemas acabam tornando irregulares os sistemas de escrita.O nível de transparência da escrita é proporcional ao grau de univocidade da relação fonema-grafema. O critério etimológico pode constituir índice de opacidade de um sistema de escrita. Segundo estudos, o sistema ortográfico do português atual teria passado, historicamente, por mudanças e por alguns mecanismos normativos. O inglês possui a escrita de nível alto de opacidade.O que significa aprender a ler? Como lemos?  Essas são algumas perguntas a que Kátia Abreu e Maria Carlota Rosa respondem nos capítulos 6 e 7. 1  Professora Titular do Departamento de Linguística e Filologia e do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisadora do CNPq com bolsa de produtividade em pesquisa PQ-SR. E-mail: ceciliamollica@terra.com.br367Diadorim, Rio de Janeiro, vol. 24, número 1,  p. 366 - 369, 2022.O leitor passa a entender a diferença entre alfabetização, letramento e literacia. Entra em contato com os conceitos de analfabeto e de iletrado. O livro é rico em informações e fornece, de forma didática, as estatísticas oficiais em relação ao analfabetismo no Brasil até 2019. É de se ressaltar que, segundo fontes oficiais, registra-se paulatina queda da população analfabeta no país. Seria um quadro animador se, no entanto, os dados atuais ainda não mostrassem que mais da metade dos brasileiros de 25 anos em diante não completou a educação básica e boa parcela não terminou o ensino fundamental. A partir do capítulo 12, o livro se ocupa da situação dos idosos no Brasil, cuja população só vem crescendo. Numa curva ascendente, projetada até 2039, o contingente de idosos ultrapassará o número de crianças de até 14 anos, invertendo a pirâmide populacional. O bônus demográfico findará e, assim, o Brasil não será mais um país de jovens. As autoras do livro traçam um amplo panorama dos programas de erradicação do analfabetismo de adultos, seus propósitos, limitações e problemas. Tais programas para mitigar o iletramento no Brasil surgiram com força na metade do século passado. De rural para eminentemente urbana, a população brasileira, cada vez mais adensada nas cidades grandes e médias, precisou inserir-se na cultura do letramento sob pena de exclusão social, como bem salienta Bortoni-Ricardo (2021). A EJA (Educação de Jovens e Adultos) desenhou-se, nas últimas décadas, como o melhor investimento de inclusão, tendo a UFRJ, conforme explicam Mollica & Leal (2009), abrigado um importante programa de alfabetização de jovens e adultos das comunidades do seu entorno, com a participação de professores e de alunos de diversas áreas da universidade. Desde o início, a EJA atende alunos a partir de 15 anos, pessoas que, por motivos diversos, não puderam entrar no sistema de ensino no momento certo ou não conseguiram nele se manter. Benício (2007) já reunira extensa bibliografia sobre EJA ao descrever estudos na área.Kátia Abreu e Maria Carlota Rosa esclarecem que, ao longo dos anos, a EJA tem atendido alunos mais jovens, porque, possivelmente, os discentes com menos idade não têm conseguido seguir as classes regulares da educação básica. Entretanto, é nesse ponto que as autoras passam a concentrar olhar especial nos idosos.De acordo com Kátia e Maria Carlota, também na EJA os “velhos” ocupam lugar de desconforto. Como se não bastasse sofrer por idadismo na sociedade, os indivíduos de mais de 60 anos convivem com uma série de empecilhos para estudar, seja por acessibilidade, seja por restrições de saúde, seja por violência no ambiente escolar, que tem marcado de forma desconcertante as escolas públicas e particulares do país, problema abordado por Mollica et al (2020) e por muitos estudiosos de diversas áreas. Por esse e outros motivos, a EJA sempre foi e continua sendo um grande desafio, ainda que se apresente como caminho eficaz para o letramento formal da população à margem das classes regulares do sistema de ensino.368EJA e idosos: caminhos de inclusãoMaria Cecilia de Magalhães MollicaDiadorim, Rio de Janeiro, vol. 24, número 1,  p. 366 - 369, 2022.A partir do capítulo 18 do livro, o leitor passa a conhecer o trabalho realizado em classes de fases I e II da EJA, na região norte do Estado do Rio de Janeiro. O contato com essa realidade certamente conduz as autoras à seguinte premissa: o investimento voltado para um público com baixa de autoestima tem que se centrar no acolhimento. Com efeito, é preciso quebrar as barreiras socioeconômicas e emocionais do alunado antes de tudo. Vale aqui mencionar Carvalho e Mollica (2018), voltados para sujeitos em condições de confinamento em sistema prisional, que comprovam o quão eficaz é trabalhar na EJA com a proposta de Dell’Isola (2007), uma vez que a atividade de retextualização de um gênero textual para outro gênero textual constitui processo libertador que, ao propiciar o contato com vários mundos, estimula novas perspectivas de vida. Por esse motivo, Kátia e Maria Carlota compreendem a escola como o centro da escuta dos “sujeitos EJA”, etapa primordial para então cuidar do desempenho. Segundo os próprios alunos, as atividades mais relacionadas ao letramento social não parecem obstáculos. Constitui a maior dificuldade, indubitavelmente, o desenvolvimento de habilidades relativas à apropriação da lectoescrita. Com perfil diferenciado, os alunos paulatinamente vão sendo promovidos para as fases II e III, à medida que passam a ser capazes de ler as famílias silábicas simples e complexas e a vencer as etapas essenciais do processo de alfabetização. A experiência narrada no livro com as turmas aproxima o leitor da verdadeira realidade da EJA. As escritoras nos proporcionam uma enriquecedora privacidade com o perfil do alunado, seus anseios, inquietudes, obstáculos, seus sonhos. Em que pesem as exigências da vida e do trabalho, as pessoas acabam por ingressar no mundo letrado. De acordo com Alves (2013), é importante lembrar que a prática pedagógica requer a atenção em relação aos saberes e fazeres verbalizados pelo grupo em particular, de tal modo que o conhecimento prévio do alunado constitui imprescindível insumo para a construção do letramento escolar. Muitos, no entanto, não conseguem avançar, porque limitados se tornam por força de questões de saúde comprometida e, nesse caso, o entusiasmo de retornar à escola pode ser seguido de novo abandono. Ainda assim, a EJA lhes oferece o pertencimento necessário, resgatando-lhes a funcionalidade social, ao construir uma comunidade favorável à aprendizagem sob o tripé escola, professor, colegas.Alfabetização e idosos - um tema urgente no Brasil é um verdadeiro manual para quem quer entrar em contato com a Educação no Brasil, sua história de exclusão e os principais movimentos governamentais empreendidos à imersão dos brasileiros no letramento. Através da obra, também aprendemos como os linguistas articulam teoria no mundo acadêmico com as políticas públicas.369Diadorim, Rio de Janeiro, vol. 24, número 1,  p. 366 - 369, 2022.Referências ABREU, Katia; ROSA, Maria Carlota. Alfabetização e idosos – um tema urgente no Brasil. São Paulo: Parábola Editorial, 2022.ALVES, Eliana Maria Sarreta. O conhecimento prévio do aluno da EJA em questão. In: BORTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro (org.). Os doze trabalhos de Hércules: do oral para o escrito. São Paulo: Parábola Editorial, 2013, pp. 179-199.BENÍCIO, Miliane Nogueira Magalhães. Escrita e processos de letramento: construindo inter-relações entre conhecimento sistematizado e práticas sociais letradas. Universidade de Brasília – UnB, Faculdade de Educação.  Programa de Pós--Graduação em Educação, 2007, acessível em http://forumeja.org.br/df/sites/forumeja.org.br.df/files/Dissertacao_miliane.nogueira.pdf  BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Português Brasileiro- A língua que falamos. São Paulo: Parábola Editorial, 2021.CARVALHO, Marcos; MOLLICA, Maria Cecilia. Retextualização no sistema prisional. In: FERNANDES LIMA, Alcides; NASCIMENTO, Maria de Fatima (org.). Pesquisa, ensino e formação docente. Experiências do PROFLETRAS-UFPA. São Paulo: Pontes Editores, 2018, v. 2, pp 15-49.DELL´ISOLA. Regina Lúcia Péret. Retextualização de Gêneros Escritos. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.MOLLICA, Maria Cecilia; LEAL, Marisa. Letramento em EJA. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.MOLLICA, Maria Cecilia; BATISTA, Hadinei; FERNANDES, Mariana; QUADRIO, Andreia. Do analfabetismo à violência: contribuições da Ciência da Linguagem. São Paulo: Contexto Editora, 2020.

EJA E IDOSOS: CAMINHOS DE INCLUSÃO

https://revistas.ufrj.br/index.php/diadorim/article/download/52954/31623

EJA E IDOSOS: CAMINHOS DE INCLUSÃO

Abstract

Similar works

Full text

Available Versions

Portal de Periódicos da UFRJ