O objetivo deste dossiê é promover a discussão em torno de processos contemporâneos de organização e mobilização social em diferentes contextos e que busquem o diálogo com as diversas perspectivas teóricas sobre os processos de associação, contestação e engajamento

Brenda Espíndula

Camila Farias da Silva

Carla Michele Rech

Marcelo Kunrath da Silva

Conversas & Controvérsias

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  http://doi.org/10.15448/2178-5694.2018.1.32069 v. 5, n. 1, p. 04-07, jan-jun., 2018  Este artigo está licenciado sob forma de uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que a publicação original seja corretamente citada. http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR Conversas & Controvérsias Revista de Graduação e Pós-Graduação em Ciências Sociais Escola de Humanidades  Departamento de Ciências Sociais e Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e-ISSN: 2178-5694       Apresentação/ Presentation Dinâmicas contemporâneas das mobilizações sociais Contemporary dynamics of social mobilizations Brenda Espíndula 1 Camila Farias da Silva 2 Carla Michele Rech3 Marcelo Kunrath Silva4  As ações coletivas – ou seja, a mobilização e coordenação de esforços de indivíduos e grupos em torno de interesses e objetivos compartilhados – constituem importantes processos na conformação da vida social em todas as épocas. Os processos de mobilização e organização social não são, porém, efeitos automáticos ou resultados necessários de condições compartilhadas, privações coletivas ou constrições estruturais. Desta forma, é fundamental, do ponto de vista analítico, considerar os mecanismos que produzem os processos de ação                                                  1 Licenciada em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestra em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFRGS. Atualmente, é doutoranda pelo mesmo Programa e bolsista da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES). Integra o o Grupo de Pesquisa Associativismo, Contestação e Engajamento - GPACE (http://www.ufrgs.br/gpace). Email: bespindula@gmail.com 2 Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Sociologia pelo Programa de Pós graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atualmente é doutoranda na mesma instituição e programa (PPGS/UFRGS), bolsista da CAPES. Integra o o Grupo de Pesquisa Associativismo,Contestação e Engajamento - GPACE (http://www.ufrgs.br/gpace/pt/).  E-mail: camilafsb@yahoo.com.br 3 Licenciada em Ciências Sociais pelo Instituto de Sociologia e Política da Universidade Federal de Pelotas. Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de Pós graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pelotas. Atualmente é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e Professora Substituta de Sociologia do Departamento de Sociologia e Política da Universidade Federal de Pelotas. Integra o Grupo de Pesquisa Associativismo, Contestação e Engajamento - GPACE (http://www.ufrgs.br/gpace/pt/).  E-mail: carlatsul@yahoo.com.br  4 Licenciado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre e doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-doutor pelo Watson Institute for International Studies/Brown University. Atualmente é professor Titular do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, integrando o Programa de Pós-Graduação em Sociologia e o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1C. Coordena o Grupo de Pesquisa Associativismo, Contestação e Engajamento - GPACE (http://www.ufrgs.br/gpace/pt/). E-mail: mksilva@ufrgs.br   Conversas & Controvérsias, v. 5, n. 1, p.04 - 07, jan.-jun. 2018 B. Espíndula; C. Farias; C. Rech; M. Silva - Apresentação: Dinâmicas contemporâneas das mobilizações sociais.  Página5 coletiva, percebendo como tais processos são ativados e mantidos e quais as suas consequências. O campo de estudos sobre ações coletivas desenvolveu-se de forma expressiva nas últimas décadas, relacionando diferentes objetos empíricos e perspectivas teóricas, especialmente aqueles que conformam processos de contestação social e política, tais como: as pesquisas sobre associativismo e sociedade civil; as teorias sobre movimentos sociais e contestação; e os estudos sobre engajamento e militantismo. Contudo, tal campo foi surpreendido nos últimos anos por processos contestatórios que trouxeram novos desafios à agenda de pesquisa. No Brasil, o ciclo recente de protestos está tensionando quadros teóricos já consolidados e produzindo efeitos nas mais variadas áreas das Ciências Sociais. Além disso, a atual conjuntura política do país vem desafiando um dos importantes avanços neste campo de estudos: a crítica à visão dicotômica e maniqueísta entre sociedade civil e Estado. Esta crítica, realizada a partir de um conjunto de pesquisas empíricas, foi objeto de significativa e relevante produção nos últimos anos, com consistentes contribuições sobre os condicionantes político-institucionais dos processos associativos. Dada à conjuntura, os processos assumem novos contornos, justificando a realização e divulgação de pesquisas que tratem sobre essa diversidade de fenômenos e de perspectivas teórico-metodológicas.  Neste cenário, o objetivo deste dossiê é promover a discussão em torno de processos contemporâneos de organização e mobilização social em diferentes contextos e que busquem o diálogo com as diversas perspectivas teóricas sobre os processos de associação, contestação e engajamento. Os artigos que compõem o dossiê “Dinâmicas contemporâneas das mobilizações sociais” contribuem com esse objetivo ao abordarem diversas teorias a respeito da ação coletiva e movimentos sociais. Tais artigos refletem sobre como é possível tecer articulações entre elas para construir análises mais adequadas aos objetos de pesquisa e instigam a pensar o quanto os acontecimentos mais recentes ainda precisam ser mais estudados. E, evidenciadas as diferenças entre eles, nos mostram que há muitos temas e desenhos de pesquisa que constituem a riqueza do campo dos estudos. Ao resgatar os elementos de duas perspectivas teóricas construcionistas, a Teoria do Processo Político (TPP) e a Teoria dos Novos Movimentos Sociais (TNMS), o autor Gabriel Câmara, em seu artigo intitulado “Estrutura, ação e intencionalidade: perspectivas teóricas e possibilidades metodológicas da sociologia da ação coletiva e dos movimentos sociais ontem e hoje”, expõe os desdobramentos mais contemporâneos dessas teorias. O autor busca diferenciar as respostas que a TPP e a TNMS deram aos dilemas teóricos do campo, em especial aos trazidos pelo marxismo e pelo funcionalismo parsoniano. Conforme o autor, enquanto a TPP situa-se numa posição epistemológica realista, voltando-se para as condições político-institucionais, a TMNS delineia-se por uma abordagem simbólico-cultural, enfatizando a capacidade societária para a ação coletiva. Nesse sentido, o artigo pode dar pistas em como “abrir” as teorias analisadas e seus conceitos a fim de operar metodologicamente a TPP e TNMS na pesquisa social. Na medida em que o artigo perpassa as questões fundamentais para quem   Conversas & Controvérsias, v. 5, n. 1, p.04 - 07, jan.-jun. 2018 B. Espíndula; C. Farias; C. Rech; M. Silva - Apresentação: Dinâmicas contemporâneas das mobilizações sociais.  Página6 estuda os movimentos sociais, ele contribui com a reflexão de possíveis perguntas de pesquisa na área. Já o autor Guilherme de Queiroz-Stein, em seu artigo “Mobilização de Recursos e Identidade: a Ação Coletiva em uma ONG”, procura demonstrar como as estratégias de mobilização de recursos podem estar imbricadas com processos de construção de identidade. Verifica-se com o trabalho empreendido como que conceitos de diferentes tradições teóricas - a Teoria da Mobilização de Recursos e a Teoria dos Novos Movimentos Sociais - devem ser acionados para se analisar a construção dos atores coletivos. Isso possibilita, segundo o autor, observar como as ações coletivas constituem-se “por dentro”, dando especial atenção aos dilemas que os atores enfrentam quando se trata de mobilizar recursos. Esses dilemas advêm, segundo os resultados encontrados pelo autor, do fato de que a definição de estratégias depende de orientações identitárias. Por sua vez, quando definidas, os rumos que tomam as ações podem implicar em tensões que levam a conflitos e redefinições da própria identidade. Por sua vez, o artigo “Feminismo e o anarquismo pelas bordas: a resistência enquanto ação política”, as autoras Daniela Dalbosco Dell’Aglio e Paula Sandrine Machado repensam as categorias nativas de um setor ou campo do movimento feminista. As autoras sugerem que para entender a ideia de resistência proposta pelo feminismo anarquista, é preciso situá-lo na perspectiva da analítica de poder, como propuseram Michel Foucault e outros pós-estruturalistas. A proposta é olhar para a descentralização do poder e para os poderes não instituídos na centralidade do aparato estatal. Frente a diferentes concepções de feminismos e práticas queer, as autoras defendem que a estratégia política do feminismo anarquista, ao delinear a resistência dessa forma, é capaz de combater as relações de poder hierarquizadas constituídas pelo Estado. Segundo as autoras, isso se dá por meio da valorização de certos tipos de agências, as agências conformadas pelas lutas que se propõem autônomas, a margem do Estado e exercidas na performatividade cotidiana.  Voltando-se para a análise da realidade brasileira, num esforço de produção de dados sobre as mobilizações no cenário do impeachment da presidenta Dilma no ano de 2016, temos o artigo “Perfil dos manifestantes pró e contra o impeachment em Porto Alegre e as TIC's: uma análise quantitativa”, dos autores Iara Passos e Thainan Piuco. Neste artigo é apresentado uma caracterização dos manifestantes a favor e contra o impeachment que utilizavam o Facebook como mídia social. A partir da elaboração de um questionário, os autores apresentam os dados que abordam as características sociodemográficas desses indivíduos, a forma de uso das tecnologias de informação e comunicação e as opiniões sobre as manifestações e a ação das polícias. Na medida em que descreve o perfil dos manifestantes a favor e contra o impeachment, esse tipo de estudo empírico pode ser associado a outros dados dessa natureza a fim de compor explicações mais amplas sobre o processo político do país. Finalizando a sessão, o autor Ederson Duda da Silva demonstra, no artigo “As bases da nova direita: estudo de caso do Movimento Brasil Livre na cidade de São Paulo”, como o ciclo de protestos de 2013 foi uma janela de oportunidades para a emergência da nova direita no Brasil. Segundo o autor, o que caracteriza a novidade na atuação da direita, seria a utilização   Conversas & Controvérsias, v. 5, n. 1, p.04 - 07, jan.-jun. 2018 B. Espíndula; C. Farias; C. Rech; M. Silva - Apresentação: Dinâmicas contemporâneas das mobilizações sociais.  Página7 de práticas de ativismo até então restritas a grupos de esquerda. A direita, portanto, atuaria enquanto movimento social com um programa neoliberal e conservador para a mudança do país, utilizando como principal narrativa confrontacional a luta anticorrupção (em especial, voltada ao Partido dos Trabalhadores). Para a análise, utiliza os conceitos de repertório e performance e descreve a atuação do Movimento Brasil Livre entre o período de 2013 a 2016. Por fim, argumenta que o período analisado apresenta um crescente quadro de polarização política, com o fortalecimento da direita e a retirada de direitos sociais e, ainda, a luta anticorrupção perde forças após o afastamento definitivo da presidenta Dilma Rousseff. O dossiê conta ainda com uma resenha, elaborada por Edegardo Freitas, do livro “Cartografias da paragem: Desmobilizações jovens contemporâneas e o redesenho das formas de vida”. A obra é fruto de pesquisas realizadas entre os anos de 2013 e 2016 no âmbito do CESAP (Centro de Estudos Sociais Aplicados), vinculado ao IUPERJ-UCAM, sob a coordenação da professora Maria Isabel Mendes de Almeida. Pelo exposto, podemos perceber dois eixos de discussão dos artigos selecionados. O primeiro diz respeito às possibilidades de articulações entre diferentes teorias e dos limites da escolha de uma única teoria para dar conta de fenômenos complexos. Já o segundo eixo, evoca os novos desafios e novas fronteiras de estudo para o campo de pesquisa em ação coletiva. De um lado, poderíamos perguntar: o que as teorias dos movimentos sociais permitem analisar? Para onde direcionam o olhar e quais referentes empíricos são valorizados? Como as teorias podem dialogar com as categorias nativas dos movimentos sociais? Nesse sentido, Câmara (2018), Stein (2018) e Dell’Aglio e Machado (2018) propõem distintos caminhos teóricos para dar conta dos processos de ação coletiva contestatória contemporâneos. Por outro lado, como podemos descrever a contestação quando “novos atores entram cena”? Quando pautas e demandas mesclam-se em mesmo protesto? Quando novas táticas são acionadas? Por esse ângulo, Passos e Piacuin (2018) e Duda (2018) nos propõem a refletir sobre como certos objetos de estudo, dada a contemporaneidade dos mesmos, estabelecem a necessidade de construir novos olhares e novos procedimentos metodológicos para o seu entendimento.  Por fim, agradecemos aos editores da Revista Conversas e Controvérsias pelo aceite do dossiê e temos a certeza de que a apreciação pode incentivar novas análises e novos argumentos, contribuindo para a superação dos desafios contemporâneos impostos ao campo de pesquisa. Boa leitura!     Publicado: 28/09/2018 

Dinâmicas contemporâneas das mobilizações sociais

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Dinâmicas contemporâneas das mobilizações sociais

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