Alves, José Matias

Portuguese

Repositório Institucional da Universidade Católica Portuguesa

PELOS TRILHOS DA INCLUSÃOPrefácioVoar com os pés na terra – uma trajetória de possibilidadesJosé Matias Alves(jalves@ucp.pt)“Sempre que um homem sonha O mundo pula e avançaComo a bola coloridaNas mãos de uma criança.”(António Gedeão)O livro “Pelos trilhos da inclusão – voando sobre horizontes de transformação” de Maria Goreti Portela é mais do que resultado de um trabalho académico brilhantemente concebido,  desenvolvido, apresentado e defendido  na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa: é uma experiência de vida profi ssional e organizacional, é a evidência dos  consentida e com sentido, é o testemunho de que os professores e as escolas podem fazer a diferença, mesmo no campo tão sensível e exigente como é o da inclusão democrática de todos os alunos, é a demonstração de que o sonho, a imaginação, a ousadia, a criação e a autoria podem construir uma escola mais justa, mais equitativa, e mais feliz.Para que estas possibilidades sejam viáveis, a autora bem assinala os três pilares essenciais: as lideranças [e a organização dos modos de escola-rização], a formação de professores e a prática de um trabalho colaborativo. De facto, as lideranças (de topo e intermédias) desempenham, nas orga-nizações educativas, um papel imprescindível para se construir uma missão consentida e uma visão partilhada. Porque as escolas são estruturalmente organizações “debilmente articuladas” onde a ordem da separação, da segmentação e da desarticulação acabam por marcar a gramática da esco-larização. Nestes mundos desconexos, é necessária uma força (poderíamos PELOS TRILHOS DA INCLUSÃOdizer múltiplas forças) que aglutine, convoque, inspire, estimule e crie con-dições para a existência de uma comunidade. Diríamos que este poder de infl uência e de mobilização é a primeira condição de uma Educação Inclusiva que a todos inclua.Não há, contudo, líderes sem liderados. É necessário que a generalidade de todos os que trabalham numa escola (professores, educadores, técnicos de educação, assistentes técnicos e operacionais) se deixem convocar para esta missão de construir comunidade. E o querer é certamente fundamental. Mas é também necessário o saber agir, o saber empreender, o saber fazer. E a formação na ação é aqui fundamental. Uma das lições que esta tese nos proporciona é de que formação dos educadores se pode fazer no decurso da ação, refl etindo e avaliando o que se faz, aprendendo com os sucessos e eventuais insucessos, fazendo, pois, da formação um exercício de produção de conhecimento contextualizado e sensível, apto para responder aos problemas concretos que se enfrentam.E chegamos ao terceiro pilar, do trabalho colaborativo. Por força da orga-nização escolar, os educadores estão, muitas vezes, condenados a traba-lharem sós e viverem uma solidão ontológica que os ameaça e faz gerar o risco de esgotamento profi ssional. Temos de existir uns com os outros, numa lógica de trabalho colaborativo. Mas, para que este modo de trabalho seja possível precisamos de espaços e tempos comuns, precisamos de objetos que deem sentido a uma ação colegial gratifi cante e empoderadora.Contruindo sonhos, visões, alianças e pontesEsta tese é também a expressão do poder de sonhar, de construir visões comuns, através da lógica da aliança e da construção de pontes onde cada um é imprescindível.O “Programa (Especial)idades da Casa” foi o motivo desencadeador de um programa de investigação que procurou analisar e compreender os ingre-dientes que fazem o sucesso da ação educativa. As respostas às questões e aos problemas têm de estar centradas nas escolas e nos profi ssionais. Esta tese é a comprovação empírica deste axioma que deveria inspirar todas as políticas educativas: a liberdade de pensar, alocar recursos, deliberar e agir com os pés na terra, mas para voar longe. Voar longe para servir melhor os alunos, todos os alunos, servir melhor a comunidade, construir futuros mais promissores e justos. Como refere a autora Em nosso entender urge devolver às escolas que, nos seus contextos, acolhem os múltiplos desafi os relacionados com a diferença e, partindo desta, geram oportunidades de 116MARIA GORETI PORTELAPELOS TRILHOS DA INCLUSÃO7enriquecimento para todos, o merecido reconhecimento e in-centivo, dado que se constituem como contextos de efetiva qualidade.Este é, sem dúvida, um dos caminhos de uma escola comprometida com as pessoas: com a sua dignidade e humanidade. E por isso é mais do que escola: é uma agência de desenvolvimento humano que nos pode libertar das ameaças da exclusão e da barbárie. E por isso, é devida uma palavra de gra-tidão à autora e à escola que lhe permitiu voar e descobrir novos horizontes educativos.MARIA GORETI PORTELA

Voar com os pés na terra: uma trajetória de possibilidades

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