Dissertação de Mestrado realizada sob a
orientação da Professora Doutora Filipa Pimenta,
apresentada no Ispa – Instituto Universitário
para obtenção de grau de Mestre na
especialidade de Psicologia Clínica.Introdução: A dependência de comida é um fenómeno clínico em crescimento, o qual
apresenta um impacto negativo na saúde mental a nível mundial, nomeadamente, nos
jovens. Recentemente, verificou-se que 2.6%-49.9% dos jovens sofre de dependência de
comida. Assim, o objetivo deste estudo é explorar quais variáveis predizem a dependência
de comida, numa amostra de jovens portugueses. Método: Neste estudo observacional,
correlacional e transversal, participaram 1564 jovens portugueses com idades
compreendidas entre os 12 e 19 anos (M=14.79; DP=1.89), sendo 52.7% do sexo
feminino. Os participantes responderam em contexto escolar e online a um questionário
sociodemográfico e de saúde, à Escala de Alterações Funcionais pelo Uso Problemático
da Internet (AFUPI), Athens Insomnia Scale (AIS), Escala Breve de Auto-Controlo
(EBAC), dimensão General Functioning da Family Assessement Device (GF-FAD) e
Portuguese Yale Food Addiction Scale (P-YFAS). Resultados: O modelo estrutural
refinado apresentou um ajustamento sofrível à amostra jovem (χ2/df=4.096;
SRMR=0.0943; CFI=0.852; TLI=0.845; RMSEA=0.045). Uma maior dependência de
comida ocorre mais comummente em jovens portugueses que percebem ter maior
dificuldade de negociação e partilha na família (β=0.343; p<0.001), maior autocontrolo
disfuncional (β=0.305; p<0.001), insónias mais graves (β=0.164; p<0.001), alterações
funcionais pelo uso problemático da internet mais graves (β=0.066; p=0.016), maior
percentil de peso (β=0.048; p=0.049), consumo de salgados (β=0.065; p=0.011) e bebidas
energéticas (β=0.124; p<0.001), mas também quando percecionado um menor apoio e
confiança na família (β=-0.098; p<0.001). Discussão: Fatores de risco para a dependência
de comida em jovens portugueses foram identificados neste estudo, sendo este um
contributo pertinente para a investigação e prática clínica.ABSTRACT: Background: Food addiction is a growing clinical phenomenon with a negative impact
on global mental health, particularly among the youth. Recent studies have revealed that
2.6% to 49.9% of youths suffer from food addiction. Therefore, the aim of this study is
to explore the variables predicting food addiction in a sample of Portuguese youths.
Method: In this observational, correlational and cross-sectional study, 1564 Portuguese
youths aged between 12 and 19 years (M=14.79; SD=1.89) participated, with 52.7% being
female. The participants completed a sociodemographic and health questionnaire, as well
as the following scales in a school and online setting: Escala de Alterações Funcionais
pelo Uso Problemático da Internet (AFUPI), Athens Insomnia Scale (AIS), Brief Self Control Scale (BSCS), General Functioning dimension of the Family Assessment Device
(GF-FAD), and Portuguese Yale Food Addiction Scale (P-YFAS). Findings: The refined
structural model showed a acceptable fit to the young sample (χ2/df=4.096;
SRMR=0.0943; CFI=0.852; TLI=0.845; RMSEA=0.045). Greater food addiction was
more commonly observed among Portuguese youths who perceived greater difficulty in
family negotiation and sharing (β=0.343; p<0.001), exhibited higher levels of
dysfunctional self-control (β=0.305; p<0.001), experienced more severe insomnia
(β=0.164; p<0.001), had more pronounced functional changes due to problematic internet
use (β=0.066; p=0.016), had a higher percentile of weight (β=0.048; p=0.049), consumed
salty snacks (β=0.065; p=0.011) and energy drinks (β=0.124; p<0.001), but also when
they perceived less family support and trust (β=-0.098; p<0.001). Discussion: Risk
factors for food addiction among Portuguese youths were identified in this study,
providing a valuable contribution to both research and clinical practice