Trabalho de extensão comunitária com o objetivo de avaliar a prevalência das enteroparasitoses nas vilas marginais de Porto Alegre, RSAn integrated project of parasitic control was performed in the metropolitan area of Porto Alegre, R

De Carli, Geraldo Attilio

Portuguese

Lume 5.8

Prevalência de parasitas intestinais entre crianças de escolas nas vilas marginais de Porto Alegre, RS Prevalence of intestinal parasites among school children in Porto Alegre, RS, metropolitan area Geraldo Attilio De Carli RESUMO - Trabalho de extensão comunitária com o objetivo de avaliar a prevalência das enteroparasitoses nas vilas marginais de Porto Alegre, RS. UNITERMOS- Parasitas intestinais; prevalência; controle. SUMMARY- An integrated project of parasitic control was performed in the metropolitan area of Porto Alegre, RS. UNITERMS - Intestinal parasites; prevalence; control. INTRODUÇÃO As doenças parasitárias continuam sendo uma significante causa de morbidade e mortalidade no mundo, particularmente nos países sub-desen-volvidos tropicais (Schantz, 1983). Parasitas como a Giardia lam-blia, Cryptosporidium spp., Stron-gyloides stercoralis, Enterocyto-zoon bienusi, Entamoeba histolytica e Microsporidia mostram crescente importância como causa de sérias infecções em hospedeiros imuno-comprometidos, especialmente na-queles com a Síndrome da !muno-deficiência Adquirida (SIDA) (Gar-cia & Bruckner, 1993). A transmissão das enteropara-sitoses está diretamente relacionada com as condições de vida e de higiene das comunidades urbanas e rurais. Estes parasitas apresentam uma alta prevalência entre a popu-lação de baixo nível sócio-eco-nômico, onde os padrões de vida, higiene ambiental, ·de educação sanitária e de outras normas básicas para a prevenção da saúde são inadequadas e deficientes (De Carli & Candia, 1992). Nas zonas rurais, as crianças são as que mais são expostas às infec-ções, porque seus hábitos e suas ativi-dades carecem de higiene pessoal. A Universidade, através de pro-fessores e alunos, envolvidos em projetos de extensão comunitá-ria, são os elementos indicados para a divulgação dos conhecimentos básicos de educação comunitária (Gurvitz et al., 1983; De Carli et al., 1989). A participação da comunidade é a chave de todos os trabalhos de extensão comunitária realizado em uma vila periférica. MATERIAL E MÉTODOS Área estudada: foram selecio-nadas 36 vilas periféricas, para um estudo comparativo da prevalência dos esteroparasitas. As vilas estu-dadas foram: MAPA, Nossa Senhora de Fátima, Dona Teodora, Santa Rosa, Santo Agostinho, Santa Luzia, Restinga, Maria da Conceição, Santana, São José do Murialdo, Cruzeiro do Sul, São Gabriel, Pinto, Santa Cecília, Brasília, Assunção, 1 o de Maio, Cipó, Frei Caneca, Agronomia, São Borja, Leão, Passo das Pedras, São Sepé Tiarajú, Cris-tal, Sarandi, São Francisco, lpiran-ga, Lomba do Pinheiro, Alegre, União, Central, Mirian, e Celis, todas situadas na periferia da Gran-de Porto Alegre. Estas vilas estão localizadas na área metropolitana da Grande Porto Alegre, a uma altitude de aproxi-madamente 1 O metros, apresentando um clima temperado tipo tropical, com inverno úmido, muitas chuvas, queda pluviométrica de I ,267 mm, temperatura média máxima de 24,5 oc. O solo é arenoso e argila-arenoso. As vilas foram construidas por diversos planejadores, não se-guindo as mesmas regras de urba-nização. A maioria dessas vilas foram implantadas fora do perí-metro urbano, sendo habitadas por uma população heterogênea. As casas não são padronizadas, pos-suindo um ou dois dormitórios, Recebido em I 0.04.94 cozinha, sala e sanitário. A grande maioria das residências possui as latrinas fora da casa. Em algumas vilas, as casas são servidas pela rede de água, enquanto que outras têm poço próprio, bomba d'água, cisterna ou reservatório. O lixo, em raras vilas é removido diaria-mente, atr~vés da coleta pública. Em outras, ele é queimado ou deixado exposto em monturos sobre o solo. As ruas não são pavi-mentadas e nem calçadas. A arbori-zação foi observada em poucas vilas. Também as casas não apre-sentam jardins, e muito poucos possuiam horta. População: a população, de ma-neira geral, é constituida por fun-cionários públicos, mecânicos, mo-toristas, domésticas, pintores, pe-dreiros, comerciários, estudantes e crianças. Esta população de 16.460 pessoas é composta por um grupo etário de zero a 15 anos, todos alunos das escolas públicas e de creches, situadas nessas vilas. Quan-do ao sexo e cor, a população é formada por brancos, pretos e mu-latos de ambos os sexos. Coleta das amostras e exame coprológico: na primeira visita às vilas, após a motivação das crianças através de palestras e filmes sobre higiene e educação sanitária, fo-ram distribuidos recipientes para a coleta das fezes. Foi examinada apenas uma amostra de cada pessoa. A técnica usada para o exame para-sitológico das fezes foi o da sedi-mentação espontânea (Hoffman, Pons & Janer, 1934) e o método Baermann (Baermann, 1917). Devi-* Faculdade de Farmácia, Departamento de Análises, UFRGS, Porto Alegre, RS 8 Rev. Bras. Farm., 75(1): 8-9, 1994 TABELA I Prevalência de enteroparasitas em 16.460 exames coprológicos em uma população de estudantes das vilas marginais da Grande Porto Alegre, RS Exames Positivos 11.341 (68,90%) Exames Negativos 5.119 (31,1%) TABELA 11 Total 16.460 (100,0%) Monoparasitismo 6.148 (37,35%) Distribuição específica de enteroparasitos em 16.460 estudantes das vilas marginais da Grande Porto Alegre, RS co li + G. lamblia com 2,02% em um total de 6,148 combina-ções. No que se refe-Parasitos Helmíntos Ascaris lumbricoides Trichuris trichiura Enterobius vermicularis Ancilostómideos Strongy/oides stercoralis Taenia sp. Hymenolepis nana Hymenolepis diminuta Protozoários Entamoeba histolytica Entamoeba co/i Endolimax nana lodamoeba butschlii Giardia lamblia Chilomastix mesnili Frequência* 4.775 7.092 189 1.038 495 153 604 6 322 2.271 223 197 2.820 43 Porcentagem (%) 29,01 43,09 1,15 6,31 3,01 0,93 3,67 0,04 1,94 13,80 I ,35 1,20 17,13 0,26 re à ocorrência de helmintos e proto-zoários, em relação a cor e sexo foi veri-ficada que a maior prevalência foi de 58,67% e 47,10% pa-ra T. trichiura entre brancos do sexo mas-culino e feminino; ao passo que, entre os pretos dos sexos mas-culino e feminino, o T. trichiura apresen-tou 61,17% e 57,40% de prevalência, res-pectivamente. A rela-ção ao grupo de mula-tos do sexo masculino * Muitas amostras contém mais de um parasita. e feminino, as taxas de infecção mais elevadas foram para o T. trichiura com 60,59% e 56,03%, do às dificuldades impostas pelos familiares, não foi possível realizar o método da fita transparente de celofane para a pesquisa de Ente-robius vermucularis em toda a população examinada. RESULTADOS Estudo coprológico: pelos dados observados (Tabela 1), das 16.460 pessoas examinadas, 5.119 (68,9%) apresentaram resultados positivos para a pesquisa dos enteroparasitas, enquanto que poliparasitismo mos-trou uma positividade em 6.148 (37 ,35%) pessoas. A Tabela 11 ex-pressa a distribuição específica dos parasitas na população examinada, sendo que o maior percentual geral obtido para os nematóides e cestóides foi de 43,09% para oTrichuris trichiu-ra e entre os protozoários, a Giardia lamblia, com 17,13%. As associações dos parasitos mais freqüentes em infecções concomitantes por helmin-tos e protozoários, permitiu verificar que as combinações mais freqüentes foram: Ascaris lumbricoides + T. trichiura com 29,85%, T. trichiura + G. lamblia com 8,73% e Entamoeba Rev. Bras. Farm., 75(1), 1994 respectivamente. CONCLUSÕES Este trabalho de extensão comu-nitária foi realizado na disciplina de Análises Parasitológicas, Depar-tamento de Análises, Faculdade de Farmácia, UFRGS, Porto Alegre, RS. O parasitismo, no homem e nos animais, ocorre em grande intensi-dade e diversidade, nos países tropi-cais em crescimento onde o nível de higiene, educação e desenvolvimento econômico são muito baixos. As doenças infecciosas e a desnutrição são os dois mais comuns problemas das crianças nas vilas marginais. Na periferia das cidades e nos assentamentos de colonos, estas con-dições são mais severas, pois estas duas condições ocorrem simultanea-mente. Em investigações realizadas nas vilas marginais na Grande Porto Alegre, o poliparasitismo reforçou esta afirmação, porque a florescente natureza do parasitismo nas popu-lações estudadas, apresentou uma ocorrência de três a quatro espécies de parasitas (De Carli et al., 1989). Tradicionalmente, a educação sa-nitária visa promover os hábitos de higiene, favorecer uma nutrição ade-quada e criar condições ambientais condizentes ao sadio crescimento e desenvolvimento físico e mental. Nos moradores destas 36 vilas foi observado que uma dieta inadequada, como causa de desnutrição, faz parte de um complexo no qual estão inclui-dos a pobreza, a falta de higiene e educação sanitária, a superpopulação, a ausência de planejamento famil-iar, os costumes e os preconceitos primitivos e a falta de medidas assis-tenciais eficientes. Os resultados obtidos neste inquérito, levam a sugerir a necessidade de proporcionar aos líderes comunitários das vilas periféricas, um conhecimento da situação real da comunidade estu-dantil, para que se faça uma campanha de educação sanitária. Paralelamente, as autoridades deverão ser sensi-bilizadas, como o propósito de desen-volverem medidas administrativas, visando o saneamento básico. REFERÊNCIAS 1. Baerman, G.-Eine einfache methode zur auffindung von Ankylostomum (Nema-toden) larven endproben. Geneesk. Tijd. Nederl. Jndie., 57:131-137, 1917. 2. De Carli, G.; Candia, E.; Nunes, E.; Silva, A.; Martin, R.; Antunes, I.; Farias, G.; Leiria, B. & Candeia, M.H. - Extensão Comunitária - Estudo de enteroparasitoses e das condições sócio econômicas das vilas periféricas de Porto Alegre. RS, Brasil, durante o período de 1965 a 1981. Cad. F ar., \. 5:73-92~ 1989. 3. De Carli, G.A. & Candia, E.F. - Preva-lência de geohelmintos entre escolares residentes nas vilas periféricas de Porto Alegre, RS.Rev. Bras. Farm., 73:7-8, 1992. 4. Garcia, L.S. & Bruckner, D.A. -Diag-nostic Medicai Parasitology. 2" ed. American Society for Microbiology. Washington, D.C., 1993. S. Gurvitz, R.; Maia, M.G.; Gastai, F .L. & Brechame R.B. -Extensão Universitária: O controle das helmintíases intestinais em uma população periférica da cidade de Pelotas. VI Congresso da Federación Latinoamericana de Parasitologia. VIII Congresso da Sociedade Brasileira de Parasitologia. São Paulo, 1993. 6. Hoffman, W.A., Pons, J .A. & Janer, J.L. - The sedimentation concentration me-thod in schistosomiasis mansoni. Puerto Rico 1. Publ. Fea/t., 9:281-298, 1934. 7. Schantz, P.M. - Changing patterns of paras i ti c disease: Old. enemies and new invaders-the battle wages on./n: Howell, M.J. (ed.) Parasitology - Quo Vadit. Australian Academy of Science. Can-berra, Australia, 1986, p. 697-71 O 9 

Prevalence of intestinal parasites among school children in Porto Alegre, RS, metropolitan area

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