BARBOSA, José Eduardo do Couto

CAROLLO, Elizangela Rita Donin

FADINI, Almerinda Antonia Barbosa

FERMINO, Evandro da Silva

HOEFFEL, João Luiz

Portuguese

Universidade Estadual Paulista São Paulo (UNESP), Campus de Rio Claro: Portal de Periódicos

OLAM – Ciência & Tecnologia, ISSN 1982-7784 – n.1, n. especial, jun. 2009  I Jornada Científica de Sensibilização Ambiental / UNICAMP   Rio Claro / SP – Brasil – Junho / 2009, p. 38 www.olam.com.br   http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/olam/index PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA APA FERNÃO DIAS   Elizangela Rita Donin Carollo [1]  João Luiz de Moraes Hoefel [2]  Almerinda Antonia Barbosa Fadini [3] Evandro da Silva Fermino [4] José Eduardo do Couto Barbosa [5]    OLAM – Ciência & Tecnologia, Rio Claro, SP, Brasil – ISSN: 1982-7784 – está licenciada sob Licença Creative Commons   Palavras-chave: Percepção Ambiental. APA Fernão Dias. Diagnóstico Sócio Ambiental. Recursos Hídricos. Rio Jaguary. Gestão Ambiental.   INTRODUÇÃO   As discussões sobre a problemática ambiental têm se tornado cada vez mais presente em diversos segmentos da sociedade promovendo, entre inúmeros estudos, aqueles relacionados ao conceito de sustentabilidade. Entre as propostas de usos sustentáveis para áreas naturais encontram-se as políticas de criação de Unidades de Conservação.  O presente trabalho tem como área de estudo parte da Área de Proteção Ambiental Fernão Dias – APA Fernão Dias, criada pelo Decreto n° 38.925, do Governo Estadual de Minas Gerais, em 17 de julho de 1997. A área total desta APA abrange integralmente os municípios de Camanducaia, Extrema, Gonçalves, Itapeva, Sapucaí-Mirim e Toledo, e parte dos municípios de Brasópolis e Paraisópolis, na região sul do Estado de Minas Gerais, junto à divisa com o Estado de São Paulo (IBITU, 1998). Esta unidade de conservação é cortada pela Rodovia Fernão Dias, recentemente duplicada e privatizada.  Os municípios que contemplam a área núcleo deste trabalho são OLAM – Ciência & Tecnologia, ISSN 1982-7784 – n.1, n. especial, jun. 2009  I Jornada Científica de Sensibilização Ambiental / UNICAMP   Rio Claro / SP – Brasil – Junho / 2009, p. 39 www.olam.com.br   http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/olam/index Camanducaia, Extrema e Itapeva, que foram escolhidos pelo fato de abrigarem as principais nascentes do Rio Jaguary que é o maior contribuinte do Sistema Cantareira de Abastecimento de Água e assim as diferentes alterações que venham a ocorrer nesta área, além de afetar esta região, irão se refletir no Sistema como um todo e no abastecimento de água das Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas.  Esta região apresenta uma problemática ambiental singular, centrada na conservação de recursos hídricos, já que possui áreas de nascentes e pontos de captação de grande importância regional, além de possuir significativos remanescentes de Mata Atlântica que conferem uma beleza paisagística, o que faz com que ela se torne alvo de empreendimentos imobiliários num crescente processo de ocupação do solo e uso turístico desordenado (FUNATURA, 1992; HOEFFEL, 2008a; 2008b).  Dentro deste contexto, este estudo teve por objetivo identificar e analisar a percepção, valores, atitudes e a identidade local dos diferentes grupos sociais, com relação às transformações que vem ocorrendo em seus lugares de vivência.   A metodologia utilizou a realização de um diagnóstico socioambiental e o levantamento da realidade ambiental dos municípios de Camanducaia, Extrema e Itapeva, realizados através de entrevistas semi-estruturadas e coleta de dados secundários junto aos diversos órgãos governamentais e não governamentais atuantes na região, e por pesquisas de campo e registros fotográficos, de forma a identificar as características culturais, naturais e sócio-econômicas regionais.  A partir da realização dessa pesquisa foi possível caracterizar a realidade socioeconômica, ambiental e cultural dos municípios mineiros da Bacia Hidrográfica do Rio Jaguary, o reconhecimento dos diferentes usos do solo nas áreas rurais e urbanas, bem como seus principais impactos ambientais.   OLAM – Ciência & Tecnologia, ISSN 1982-7784 – n.1, n. especial, jun. 2009  I Jornada Científica de Sensibilização Ambiental / UNICAMP   Rio Claro / SP – Brasil – Junho / 2009, p. 40 www.olam.com.br   http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/olam/index Considerando os diferentes atores sociais presentes na região, estes foram agrupados em quatro categorias: população rural, população, pessoas influentes e turistas.  É possível notar que todos estes grupos sociais apresentam características diversas com relação ao uso do espaço e que, em geral, são representantes de grupos culturais distintos, já que a área de estudo apresenta um significativo remanescente da cultura caipira na zona rural, ao mesmo tempo em que exibe áreas urbanas bem desenvolvidas e conta ainda com a presença de turistas vindos principalmente das Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas. Assim, foram elaborados roteiros de entrevistas com questões semi-estruturadas (WHYTE, 1978; BARDIN, 1983), que abordaram a relação dos atores sociais com a área de estudo e suas percepções e responsabilidades sobre problemas socioambientais regionais. Serão apresentadas a seguir as análises das 263 entrevistas realizadas com representantes das categorias mencionadas acima.    Quando questionados sobre sua relação com o lugar onde vivem ou frequentam, a maioria dos entrevistados declarou gostar do local apresentando como um dos principais motivos as características de cidade do interior, a tranqüilidade e o contato com a natureza preservada. Já quando o questionamento foi quem deve cuidar do local a grande maioria dos entrevistados dos quatro grupos disse que é dever de todos, apesar dos diferentes interesses de cada grupo nos usos do local.  Esta análise permitiu identificar diferentes relações dos entrevistados com a área de estudo, revelando duas atitudes que podem influenciar na ocupação deste espaço e na conservação de seus recursos naturais. Nas categorias moradores das áreas rural, urbana e pessoas influentes, verificou-se em sua maioria a existência de um sentimento de pertencimento que pode contribuir na elaboração e implementação de ações de planejamento sustentável. Na categoria turistas, identificou-se uma relação de distanciamento e indiferença para com o meio, que pode gerar dificuldades na elaboração de propostas sustentáveis para a região. No OLAM – Ciência & Tecnologia, ISSN 1982-7784 – n.1, n. especial, jun. 2009  I Jornada Científica de Sensibilização Ambiental / UNICAMP   Rio Claro / SP – Brasil – Junho / 2009, p. 41 www.olam.com.br   http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/olam/index caso específico dos turistas, observa-se que seria interessante incentivar uma relação mais direta com o lugar visitado, de forma a possibilitar a percepção, o conhecimento e a valorização das características ambientais locais (MENDONÇA, 1996).  Quanto às pessoas influentes e moradores da área urbana e rural, foi observado além do sentimento de pertencimento, um interesse em utilizar a área de estudo como uma fonte de recursos financeiros. Para Logan e Molotch (1992), essa percepção pode ser caracterizada como um valor de troca, no qual os empresários e moradores procuram um retorno financeiro obtido pela intensificação do valor de suas propriedades. Por outro lado, o fato de tais moradores, algumas vezes, utili-zarem o local para satisfazer suas necessidades essenciais de vida (valor de uso) não significa que os mesmos não sejam responsáveis também pela realidade socioambiental presente na região.  Considerando o crescente desenvolvimento do turismo na região, os entrevistados foram questionados a respeito da identificação das atividades turísticas, e estes as relacionaram às pousadas, hotéis ou chácaras, ou as atividades ao ar livre. Para a maioria dos entrevistados, o desenvolvimento turístico possui um aspecto positivo, por gerar emprego e renda, além de dinamizar a cidade ou as áreas rurais. Nesse sentido, ressalta-se a análise de Krippendorf (2000) quando considera a importância do turismo no que se refere à geração de emprego e renda, entretanto o autor menciona também a ausência nos debates políticos de discussões que reconheçam que a maioria destes empregos não é atraente em função da sazonalidade e dos baixos salários. Mesmo assim, o fator econômico tem sido a razão para que muitas regiões turísticas explorem intensivamente seus recursos, sem que os atores sociais envolvidos preocupem-se ou percebam que, neste processo, estão comprometendo as possibilidades para o desenvolvimento local.  Ao analisar esta questão, Tuan (1980) afirma que apesar do turismo possuir OLAM – Ciência & Tecnologia, ISSN 1982-7784 – n.1, n. especial, jun. 2009  I Jornada Científica de Sensibilização Ambiental / UNICAMP   Rio Claro / SP – Brasil – Junho / 2009, p. 42 www.olam.com.br   http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/olam/index uma utilidade social ao beneficiar a economia, a atividade não estimula necessariamente relações harmônicas entre o ser humano e o meio natural. Daí a necessidade de se elaborar programas de planejamento e de educação ambiental que envolva tanto os moradores locais quanto os turistas, com o intuito de estimular, em ambos, a percepção necessária ao desenvolvimento de um turismo condizente com a sustentabilidade local.  Em contraste com os aspectos positivos, os entrevistados também mencionaram, com menor intensidade, aspectos negativos do turismo, como a falta de infraestrutura, impactos ambientais e aumento da violência.   Quanto à percepção dos entrevistados em relação à conservação ambiental da área de estudo houve grandes divergências entre os diferentes atores sociais. Em Camanducaia metade dos entrevistados da população rural e das pessoas influentes considera o local ambientalmente conservado e a outra metade não o consideram ambientalmente conservado e a maioria da população urbana não considera o local ambientalmente conservado. Em Itapeva a maioria não considera o local ambientalmente conservado e em Extrema a população urbana e rural o considera conservado e as pessoas influentes não o consideram conservado. Os turistas, por sua vez, consideram as três cidades ambientalmente conservadas.  Com relação ao entendimento sobre o termo meio ambiente a maioria relacionou este termo com a presença de elementos naturais e ações e atitudes ambientalmente corretas.  Segundo Reigota (2002), essas respostas sugerem uma representação naturalista do espaço, onde a definição de meio ambiente é considerada como sinônimo de natureza.   Conclui-se que o papel que a população local e outros segmentos da sociedade devem desempenhar em todo o processo de gestão da APA é fundamental, e, ao expor seus conhecimentos e suas percepções diferenciadas em relação aos recursos naturais do local em que vivem, contribuirão não apenas para a OLAM – Ciência & Tecnologia, ISSN 1982-7784 – n.1, n. especial, jun. 2009  I Jornada Científica de Sensibilização Ambiental / UNICAMP   Rio Claro / SP – Brasil – Junho / 2009, p. 43 www.olam.com.br   http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/olam/index conservação da biodiversidade, mas também para a diminuição de possíveis conflitos em relação ao uso e à ocupação do solo. Esse procedimento visa possibilitar o adequado manejo e gestão desta unidade de conservação, o que pode viabilizar a utilização dos recursos naturais de forma sustentável, além de buscar a promoção de uma melhor qualidade ambiental e de vida da população.   REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA   ALMEIDA Júnior, A. R.; HOEFFEL, J. L. Áreas de Proteção Ambiental e o imaginário. O caso da Serra do Lopo. Gestão e Desenvolvimento, Bragança Paulista, v.4, n.2, p.27-41, 1999  BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1983.   FUNATURA. Projeto “Santuário de Vida Silvestre” – Relatório Final. Brasilia, 1992.  HOEFFEL, J. L. de M., et al. Área de Proteção Ambiental (APA) Fernão Dias/MG – Transformações Socioambientais na Bacia Hidrográfica do Rio Jaguary, Climatologia e Estudos da Paisagem, Rio Claro, Vol.3, n.1, janeiro/junho, 2008a, p. 39-60.  HOEFFEL, J. L. de M., et al; Jaguary Mineiro: Usos do Solo e Impactos Socioambientais, OLAM – Ciência & Tecnologia, Rio Claro, Vol. 8, N.3, Julho – Dezembro, 2008b, p. 140-159.    IBITU CONSULTORIA AMBIENTAL. APA Fernão Dias – Plano de Gestão Ambiental. Minas Gerais: IBITU/DER-MG, 1998.  KRIPPENDORF, J. Sociologia do turismo. São Paulo: Aleph, 2000.  LOGAN, J. R.; MOLOTCH, H. L. Urban fortunes: the political economy of place. Berkley: University of California, 1992. 383 p.  MENDONÇA, R. Turismo ou meio ambiente: uma falsa oposição? In: LEMOS, A. (Org.) Turismo: impactos sócio-ambientais. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 19-25.  REIGOTA, M. Meio ambiente e representações sociais. São Paulo: Cortez, 2002.   TUAN, Y-F. Topofilia: um estudo da percepção e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980.   OLAM – Ciência & Tecnologia, ISSN 1982-7784 – n.1, n. especial, jun. 2009  I Jornada Científica de Sensibilização Ambiental / UNICAMP   Rio Claro / SP – Brasil – Junho / 2009, p. 44 www.olam.com.br   http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/olam/index WHYTE, A. La perception de l’énvironnement: lignes directrices méthodologiques pour les études sur le terrain. Paris: UNESCO, 1978.      Informações sobre os autores:  [1] Elizangela Rita Donin Carollo –  http://lattes.cnpq.br/6366648427883612 Centro de Estudos Ambientais – Sociedade e Naturezas da Universidade São Francisco.  Contato: eliz.carollo@gmail.com   [2] João Luiz de Moraes Hoefel – http://lattes.cnpq.br/7635072427530391 Centro de Estudos Ambientais – Sociedade e Naturezas da Universidade São Francisco.  Contato: joaoluiz@saofrancisco.edu.br  [3] Almerinda Antonia Barbosa Fadini – http://lattes.cnpq.br/7835878522109146 Centro de Estudos Ambientais – Sociedade e Naturezas da Universidade São Francisco.  Contato: almerindafadini@hotmail.com  [4] Evandro da Silva Fermino – http://lattes.cnpq.br/9969411236981563 Centro de Estudos Ambientais – Sociedade e Naturezas da Universidade São Francisco.  Contato: eu_bio4@gmail.com  [5] José Eduardo do Couto Barbosa – http://lattes.cnpq.br/2370514651498340 Centro de Estudos Ambientais – Sociedade e Naturezas da Universidade São Francisco.  Contato: joseduardoo@yahoo.com.br 

PERCEPÇÃO AMBIENTAL NA APA FERNÃO DIAS

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