Avaliação nutricional em pediatria por métodos antropométricos, por bioimpedância e por ultrassonografia

Abstract

Tese de mestrado, Nutrição Clínica, Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina, 2023No contexto atual, a prevalência da malnutrição em idade pediátrica, continua a mostrar-se preocupante. Os hábitos alimentares e novos estilos de vida na infância e adolescência, nomeadamente na faixa etária dos 10 aos 17 anos, parecem estar a condicionar sérias alterações nutricionais e metabólicas na idade adulta e a provocar diversas patologias. Conhecer o estado nutricional das populações é cada vez mais importante a fim de delinear estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento, de forma tão atempada quanto possível. Torna-se por isso cada vez mais relevante saber selecionar a metodologia que mais se adequa à avaliação de uma determinada população, pois escolhas diferentes, produzem resultados respetivamente diferentes. Este estudo visa contribuir para a criação de evidência que permita ajudar a tomar decisões informadas acerca da escolha de metodologias de avaliação do estado nutricional, para as crianças, sendo o seu objetivo: classificar o estado nutricional de uma população pediátrica a frequentar o 2.º Ciclo do Ensino Básico, numa escola oficial de Lisboa, com recurso a 3 metodologias – antropometria, bioimpedância e ultrassonografia – e comparar os resultados obtidos por cada um destes métodos. A amostra de conveniência, constituída por 105 crianças, com idades compreendidas entre 10 e 13 anos, foi submetida a medições para caracterização do seu estado nutricional, nomeadamente através do Índice de Massa Corporal (IMC). Realizaram-se outras medições, com recurso às 3 metodologias – Antropometria, Bioimpedância (BIA) e Ultrassonografia (US) - para determinação das variáveis em estudo: Índice de massa gorda (FMI) e Índice de massa livre de gordura (FFMI). Em Antropometria, as medições foram realizadas de acordo com as recomendações ISAK. Para a BIA e US as medições foram realizadas por equipamentos tecnológicos apropriados. O cálculo das variáveis FMI e FFMI, pela Antropometria, foi realizado com recurso às equações Slaughter (1988) e de Lohman (1986), e para BIA e US utilizaram-se os dados recolhidos diretamente dos aparelhos respectivos. Da análise do Índice de Massa Corporal constatou-se que 23,8% dos participantes foram classificados como sobrepeso (n=25) e 4,7 % como obesos (n=5). Relativamente às variáveis FMI e FFMI, não foram encontradas diferenças na medição, entre os 2 sexos, para as diferentes metodologias. Os FMI e FFMI evidenciaram diferenças, quando comparando os seus resultados decorrentes do uso das diferentes metodologias. Relativamente à medição da massa gorda: obteve-se diferenças entre a utilização da BIA e o uso da equação de Lohman (p<0,01), entre a BIA e o uso da equação de Slaughter (p<0,01), entre a US e o uso da equação de Lohman (p=0,04), e entre a US e o uso da equação de Slaughter (p<0,01). Relativamente à medição da massa livre de gordura: obteve-se diferenças entre o uso da equação de Slaughter e a US (p<0,01), entre o uso da equação de Slaughter e BIA (p<0,01), entre o uso da equação de Lohman e US (p=0,01), entre o uso da equação de Lohman e BIA (p<0,01) e entre o uso da US e BIA (p<0,01). Para a medição da massa gorda não se obteve diferenças entre a BIA e US (p=0,051) e entre o uso das equações de Slaughter e Lohman (p=0,209). Para a medição da massa livre de gordura não se encontrou diferenças entre o uso das equações de Slaughter e Lohman (p=0,149). Em termos de associação entre metodologias, para a massa gorda, verificou-se que os valores decorrentes do uso da equação de Lohman são os que apresentam uma correlação mais elevada com a os decorrentes da equação de Slaughter (r=0,939; p<0,01), seguida da US (r=0,814; p<0,01) e por último da BIA (r=0,787; p<0,01). Em termos de associação entre metodologias, para a massa livre de gordura, verificou-se que os valores decorrentes do uso da equação de Lohman são os que apresentam uma correlação mais elevada com a os decorrentes da equação de Slaughter (r=0,939; p<0,01), seguida da US (r=0,856; p<0,01) e da BIA (r=0,856; p<0,01) com valores muito aproximados. O facto de se observar neste estudo, quer para a variável FMI quer para a FFMI, que a US é mais forte em correlação com o uso das equações antropométricas do que a BIA, é interessante dado que é um método muito menos usado e estudado que a BIA e que alguns trabalhos anteriores demonstram resultados semelhantes. Estes resultados, reforçam a pertinência em desenvolver mais estudos sobre estes métodos de avaliação da composição corporal, bem como a obtenção de mais comparações entre eles.In the current context, the prevalence of malnutrition in children continues to be a cause for concern. Eating habits and new lifestyles in childhood and adolescence, particularly in the 10 to 17 age group, seem to be conditioning serious nutritional and metabolic changes in adulthood and causing various pathologies. Knowing the nutritional status of populations is increasingly important in order to outline prevention, diagnosis and treatment strategies as timely as possible. It is therefore increasingly important to know how to select the methodology that best suits the assessment of a given population, as different choices produce respectively different results. This study aims to contribute to the creation of evidence that will help to make informed decisions about the choice of methodologies for assessing the nutritional status of children, and its objective is: to classify the nutritional status of a pediatric population attending the 2nd. Basic Education Cycle, in an official school in Lisbon, using 3 methodologies – anthropometry, bioimpedance and ultrasound – and compare the results obtained by each of these methods. The convenience sample, consisting of 105 children, aged between 10 and 13 years, underwent measurements to characterize their nutritional status, namely through the Body Mass Index (BMI). Other measurements were performed, using the 3 methodologies – Anthropometry, Bioimpedance (BIA) and Ultrasonography (US) – to determine the variables under study: Fat Mass Index (FMI) and Fat Free Mass Index (FFMI). In Anthropometry, measurements were performed according to ISAK recommendations. For BIA and US, measurements were made by proper equipment. The calculation of the FMI and FFMI variables, by Anthropometry, was performed using the Slaughter (1988) and Lohman (1986) equations, and for BIA and US the data collected directly from the respective devices were used. From the analysis of the Body Mass Index, it was found that 23.8% of the participants were classified as overweight (n=25) and 4.7% as obese (n=5). Regarding the FMI and FFMI variables, no differences were found in the measurement, between the 2 sexes, for the different methodologies. The FMI and FFMI showed differences when comparing their results resulting from the use of different methodologies. With regard to the fat mass: differences were obtained between the use of the BIA and the use of the Lohman equation (p<0.01), between the BIA and the use of the Slaughter equation (p<0.01), between the US and the use of the Lohman equation (p=0.04), and between US and the use of the Slaughter equation (p<0.01). Regarding the free fat mass: differences were obtained between the use of the Slaughter equation and US (p<0.01), between the use of the Slaughter equation and BIA (p<0.01), between the use of the Slaughter equation Lohman and US (p=0.01), between the use of the Lohman equation and BIA (p<0.01) and between the use of US and BIA (p<0.01). For the fat mass, no differences were obtained between BIA and US (p=0.051) and between the use of Slaughter and Lohman equations (p=0.209). For the free fat mass, no differences were found between the use of the Slaughter and Lohman equations (p=0.149). In terms of association between methodologies, for the fat mass, it was verified that the values resulting from the use of the Lohman equation are those that present a higher correlation with those resulting from the Slaughter equation (r=0.939; p<0, 01), followed by US (r=0.814; p<0.01) and finally by BIA (r=0.787; p<0.01). In terms of association between methodologies, for the free fat mass, it was verified that the values resulting from the use of the Lohman equation are those that present a higher correlation with those resulting from the Slaughter equation (r=0.939; p<0, 01), followed by US (r=0.856; p<0.01) and BIA (r=0.856; p<0.01) with very similar values. The fact that this study observes, both for the FMI variable and for the FFMI, that US is stronger in correlation with the use of anthropometric equations than BIA, is interesting given that it is a much less used and studied method than the BIA and that some previous work demonstrates similar results. These results reinforce the pertinence of developing more studies on these methods of assessing body composition, as well as obtaining more comparisons between them

    Similar works