Canábis Medicinal – um novo Graal?

Abstract

Poster apresentado no 18º Congresso Nacional de Medicina Legal e de Ciências Forenses, Coimbra (Portugal), 2019A Cannabis sativa e os seus sucedâneos constituem o grupo de drogas de abuso mais consumido a nível mundial. A planta contém várias moléculas, entre as quais os fitocanabinóides ?9-tetrahidrocanabinol (?9-THC) e o canabidiol (CBD), sendo que o ?9-THC tem efeitos psicoativos, ao contrário do CBD. Nos últimos anos, vários grupos de trabalho têm sugerido um potencial de ação terapêutica do CBD e do ?9-THC, tema atual e de grande controvérsia. Existem vários recetores canabinóides descritos, mas apenas quatro têm sido estudados com fins terapêuticos: os recetores canabinóides tipo 1 (CB1) e tipo 2 (CB2), o recetor inotrópico TRPV1 e o recetor de serotonina 5-HT1A. A estes recetores podem-se ligar os vários tipos de canabinóides com finalidade terapêutica, incluindo o CBD. Com este trabalho, os autores pretendem avaliar o estado da arte relativamente a este tema através de uma revisão bibliográfica. Os canabinóides têm sido utilizados como abordagem complementar aos tratamentos convencionais, quando estes falham na resposta terapêutica. Vários estudos sugerem que o CBD poderá ter propriedades terapêuticas, nomeadamente, analgésicas, anti-inflamatórias, antipsicóticas, ansiolíticas, anticonvulsivas e provocadoras de efeitos citotóxicos em células cancerígenas, sendo de notar que a sua utilização seria facilitada pela ausência de efeitos psicoativos, não estando associado ao reforço, ao desejo e à compulsividade de abuso. O CBD também atenua os efeitos metabólicos provocados pelo ?9-THC, bem como reduz alguns dos efeitos adversos, como a ansiedade, a sedação e a taquicardia, sendo benéfico no tratamento da epilepsia e da dor. Deste modo, o CBD terá papel protetor contra a danificação do cérebro provocada pelo uso de canábis recreativo e, por isso, útil no controlo da dependência. Também foi sugerido ter efeitos preventivos na quimioterapia em células do carcinoma colorretal, protegendo o DNA de danos oxidativos com o aumento da concentração de endocanabinóides. O CBD também se terá mostrado eficaz combinado com medicamentos antiepiléticos e antipsicóticos. O Sativex, constituído por ?9-THC e por CBD ativos com uma proporção de 1:1, é o único medicamento autorizado pelo INFARMED em Portugal, usado para o tratamento de espasmos musculares e dor neuropática causados pela esclerose múltipla. O verdadeiro potencial terapêutico do CBD, bem como o seu mecanismo de ação, só recentemente tem sido alvo de estudos, pelo que ainda há muita incerteza associada à sua real eficácia. Concretamente, a ação do CBD na administração conjunta com medicamentos convencionais prescritos no tratamento de determinada patologia não é, ainda, consensual. Especificando, existem dúvidas sobre se a melhoria dos sintomas se deve ao CBD, à interação droga-droga ou apenas ao medicamento convencional. Os efeitos, quer comportamentais, quer metabólicos, da interação entre o THC e o CBD também são insuficientemente compreendidos e ainda existem dúvidas sobre se a melhor terapêutica é apenas com CBD ou numa combinação de CBD com THC. Como qualquer medicamento, o CBD não é apropriado para todas as pessoas e para todas as patologias e os seus efeitos adversos devem ser considerados antes da toma destes produtos. Em Portugal, e à exceção do Sativex, os produtos de CBD são vendidos como suplementos alimentares e, consequentemente, não são controlados pelo Infarmed, quer na potência do CBD, quer no conteúdo de outros constituintes. Assim, afigura-se premente a regulamentação deste mercado, clarificando inequivocamente o contexto terapêutico, diferenciando-o de todos os outros.N/

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