“SEU NOME ERA GISBERTA”: PROJETO DE UM NON-FICTION VR COM EXERCÍCIOS DE TOMADA DE PERSPETIVA

Abstract

Podemos definir livremente a Realidade Virtual (RV) como uma ferramenta/tecnologia de novos media e das tecnologias imersivas, que permite aos seus utilizadores a possibilidade de imersão e/ou interação dentro de ambientes virtuais simulados. O seu potencial, como tecnologia de desenvolvimento humano (Rose, 2018), tem alterado a maneira como utilizamos os media, assim como a qualidade de vida das pessoas, ao oferecer presença e imersividade. No decorrer das últimas décadas, com o objetivo de potencializar a experiência humana, a RV tem vindo a ser aplicada como uma ferramenta/tecnologia em múltiplos contextos e investigações científicas em áreas como a educação, o entretenimento, o turismo, o cinema de ficção e documental, o jornalismo, a saúde e bem-estar e a psicologia, entre outras. Os Non-Fiction VR (VRNF) são uma terminologia dos media imersivos que procura incorporar as diferentes produções de não ficção (e.g. Documentários) em RV onde, por exemplo, se engloba o Jornalismo Imersivo idealizado por Nonny de la Peña. O potencial dos VRNF para contar histórias de interesse humano (McRoberts 2018), através da sensação de presença (Slater & Sanchez-Vives, 2016), do testemunho imersivo (Nash, 2018), do RAIR (De la Peña et al., 2010) e de outros fenómenos, tem permitido que estes sejam utilizados para potencializar uma resposta empática (Martingano et al., 2021) nos utilizadores/participantes. Esta é considerada “the ultimate empathy machine” (Chris Milk, 2015) motivando uma alteração do seu comportamento pró-social, especialmente em questões de justiça social (McRoberts, 2018). Deste modo, surge a criação da primeira experiência de não-ficção em RV em Portugal sobre transfobia, “Seu nome era Gisberta”. Este VRNF parte da história de vida de Gisberta Salce, uma vítima de um crime de ódio e Transfobia, ocorrido em 2006 na cidade do Porto, que espoletou o nascimento do movimento trans nacional (Saleiro, 2013) e impulsionou diversos movimentos LGBTQIA+ em Portugal. Este VRNF aplicará exercícios mediados de tomada de perspetiva (Van Loon et al., 2018 -VRPT), possibilitando a experiência de corporificar diferentes perspetivas à medida que estamos imersos na sua história. Através de relatos e de um extenso levantamento jornalístico, produzimos uma experiência imersiva que leva o utilizador/participante a conhecer a história de Gisberta com recurso à animação num vídeo em 360º. Neste documento iremos apresentar o processo de construção desta experiência imersiva, desde a sua base teórica fundamental até às suas escolhas estéticas, técnicas e conceptuais. Pretende-se com este projeto explorar e partilhar, novas ferramentas para fomentar a educação e intervenção social, não só para a humanização e redução do preconceito contra pessoas Trans, mas também para estimular novos criadores/investigadores a trabalhar questões de importância social e de ativismo nesta tipologia de produções

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