A segurança alimentar tem sido uma narrativa central na definição de políticas agrícolas, hídricas e energéticas no Oriente Médio. E o uso da comida como arma tem uma história especificamente nessa região. Assim, o presente trabalho tem como objetivo discutir o uso contemporâneo do alimento como arma em dois distintos países da Península Arábica: o Qatar e o Iêmen. Em ambos os casos, a Arábia Saudita está envolvida em função de seus interesses geopolíticos na região. No entanto, no caso do Iêmen, a intervenção militar liderada pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, apoiada pelos EUA, pelo Reino Unido e pelo Conselho de Segurança da ONU, estrangulou a economia do país. A destruição deliberada das áreas agrícolas, das estações de tratamento de água, de instalações de transporte e de mercados representam um aviso muito claro de que infligir a fome em populações civis é um meio aceito para se conquistar objetivos militares. No caso do Qatar, uma parte significativa do choque inicial causado pelo embargo do Quarteto (Bahrein, Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos) veio através de interrupções no fornecimento de alimentos, já que o Qatar importa a maioria do que consome, os quais chegam, em grande parte, via terrestre através da Arábia Saudita. A recente situação no Afeganistão sinaliza uma tendência de que os alimentos continuarão a ser usados como arma de persuasão ou submissão de um país para outro